Origem, Desenvolvimento e Mercantilização de um Fenômeno da Cultura Regional

Este trabalho foi apresentado no 8º Simpósio da Pesquisa em Comunicação (SIPEC) da Região Sudeste acontecido de 16 a 17 de março de 2001 na Universidade Federal do Espírito Santo em Vitória (ES).

Neusa Pressler
Professora da Universidade da Amazônia (UNAMA)
Cursos: Comunicação Social e Gestão em Administração de Eventos
Disciplina: Mídia e Marketing Corporativo
Mestranda NAEA-UFPA
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O presente artigo é um relato de pesquisa que está em andamento no contexto social e cultural da região amazônica. O trabalho pretende discutir aspectos relacionados com cultura popular, mídia regional e o impacto da globalização. A primeira análise fundamental diz respeito à apresentação histórica do surgimento do Brega Paraense como uma proposta de cultura local e sua passagem para o âmbito regional e nacional como um produto cultural popular em processo de mercantilização. Mais especificamente, o propósito é analisar como e em que dimensão uma cultura de massa popular excluída da grande mídia interage para conquistar e manter o seu espaço local.

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O segundo aspecto analisado relaciona-se com a globalização, a mundialização da cultura e seu relevante impacto sobre a mídia regional. Desse ponto de vista, o efeito mais imediato é a busca de identidade que expresse fatos e realidades mais próximos de cada local. Essa análise permite observar a adaptação das novas tecnologias; do computador e dos novos meios de comunicação. Na verdade, ainda é uma exposição abreviada da utilização capitalista das novas tecnologias na atual cultura mundializada.

A conclusão do artigo propõe discutir o consumo e desenvolvimento de mercantilização de produto cultural regional e o grande desafio de uma comunidade na manutenção e interação de uma comunicação que proporcione alternativas de atividade profissional, cultural, de lazer, e geração de renda e emprego.

O Brega que não é Brega

No início dos anos 70, surgia no Brasil, uma nova tendência musical com temas românticos influenciados pelo movimento da Jovem Guarda, trazendo cantores como Juca Medalha e Alípio Martins. No final dos anos 70, começaram a surgir vários cantores deste novo estilo musical, posteriormente, denominado “Brega”, apresentado através das melodias de Amado Batista, Reginaldo Rossi, Carlos Alexandre, Evaldo Braga e outros.

Nos meados da década de 90, esse ritmo passou por várias fases de renovação e mudanças rítmicas e, nesses últimos anos está se firmando em nível nacional com uma nova performance: muito swing, solos de guitarras, sintetizadores e utilização de novas tecnologias disponíveis no mercado. Hoje, este estilo de música tem uma coreografia singular e está presente em vários tipos de mídias (rádio, aparelhagem sonora, TV, revistas, jornais, sites, homepage’s e fãs club’s) para apresentar, divulgar e interagir com o seu diferenciado público.

Atualmente, esse ritmo musical ganhou mais popularidade e, novos intérpretes e compositores: Roberto Vilar (maior vendagem de disco), Tonny Brasil, Banda Sayonara, Banda Xeiro Verde, Banda Sabor de Açaí dentre outros. Mas, sem dúvida, seu maior expoente, provavelmente como resultado de um bom trabalho de marketing na mídia é o cantor Reginaldo Rossi, cuja produção e distribuição de suas músicas é feita pela empresa multinacional Sony Music. 35 anos depois, o cantor Reginaldo Rossi é o maior sucesso entre as mais variadas faixas etárias de todo o Brasil. A apresentação de Reginaldo Rossi é sempre garantia de casa cheia. O público canta todas as suas músicas e, no palco, ele mostra o carisma que tem envolvido essa legião de fãs.

No palco e nas reportagens sobre o ritmo Brega, nota-se que se trata de um grande fenômeno junto ao público. O site do referido artista consta que ele tornou-se recordista de público no Arraiá da Capitá, quando colocou 80 mil pessoas no Parque de Exposições. Foi sucesso também seus shows realizados no Metropólitan - RJ, Olimpía - SP (onde cantou junto com Roberta Miranda), no encerramento da festa de Barretos - SP e na Via Fun Chal - SP, bem como em quase todas as principais casas de shows do Brasil.

Brega Paraense Movimento musical e social

Longe do sucesso meteórico dos grandes astros que conta com a estratégia de publicidade de gravadoras multinacionais, produtoras, selos e a divulgação na grande mídia, o Brega Paraense se desenvolve com seu estilo próprio. Atualmente tem aumentado seu espaço através de link’s com diferentes tipos de mídia para atingir o grande público. Entre um dos principais canais de comunicação está o rádio, que por excelência é um veículo de apelo popular, com o qual se pode atingir rapidamente grandes massas, tanto nas capitais como nas cidades de interior, dado ao vasto número de emissoras existentes em todo País e o elevado número de receptores. Isso vem confirmar que o rádio ainda é a mídia mais acessível para a população de baixa renda de consumo popular.

Esse movimento musical caracteriza-se por uma variedade de estilos de músicas do Brega Paraense, incluindo os já conhecidos Brega Pop, Calipso. Seus autores, entre eles o Maestro Manoel Cordeiro, afirmam que essa atual denominação Calipso é mais vendável, porque o paraense da classe média, apesar de gostar do estilo musical não tem muita simpatia pelo nome Brega, pois sempre associa a palavra brega a algo kitsh, exagerado e cafona tão utilizado no passado.

Com ritmos considerados quentes pelo público e letras irreverentes, novas bandas ocupam cada vez mais maior espaço e atenção nas mídias alternativas regionais. Há casos em que sua mercantilização promete agradar a todos, sem limites de idade. A Banda Wlad - uma das bandas mais famosas e requisitadas da Amazônia - é um desses exemplos que combina sucesso local e solidariedade, alavancando ainda mais o sucesso do movimento. Em Outubro de 1999, o segundo CD foi lançado. Em pouco mais de 2 (Dois) meses, quase 30.000 (Trinta mil) cópias foram vendidas através da mídia alternativa regional.

O resultado de um trabalho de divulgação e comunicação regional, hoje, está se concretizando em patrimônio social. O Complexo Wlad de música é uma realidade local, reunindo música, trio, luz e imagem. Em um imóvel próprio com 3.000 (três mil) metros quadrados de área construída, a Banda Wlad disponibiliza para a comunidade: uma academia de dança, uma Escolinha de Música e um trabalho educacional sério, no intuito de criar oportunidade para a juventude mais carente e, com isso reduzir o índice de marginalidade na juventude (comparável com o início do movimento Olodum na Bahia). Segundo depoimento da Banda, “a perspectiva é, no futuro, investir em novos talentos que, com certeza, serão descobertos e desenvolvidos no próprio complexo. “Todo o nosso trabalho é revestido de humildade, não impomos nada, acreditamos no mercado regional, e se a banda acontecer nacionalmente, ótimo”.

Identidade e Publicidade

Em “A Contemporaneidade como idade mídia”, de Antonio Albino Canelas Rubim, o autor faz uma análise sobre a sociedade midiatizada e afirma: “A publicidade e a marca - com seu poder como assinala J.B. Pinho - adquirem o status essencial de viabilização desta metamorfose, componentes imanentes ao mercado no capitalismo tardio. “Pode-se afirmar, sem medo de errar, que sem publicidade e marca, portanto sem comunicação, em situações normais de vida capitalista, um produto não pode ser transformado em mercadoria. Por conseqüência, a realização do valor e a própria reprodução capitalista encontram-se comprometidas em um patamar comunicacional”.

Contudo, existem pelo menos dois aspectos relevantes no movimento Brega Paraense. O primeiro diz respeito a um grupo de bregueiros que propõe criar um nome que separe o brega criado no Pará do produzido em Recife, cujo maior expoente é o cantor Reginaldo Rossi, enquanto outros preferem unir esforços com artista de outros locais e fortalecer o atual movimento. O segundo aspecto a ser avaliado está relacionado a outro movimento que prefere manter o nome brega e não aceita estrangeirismo. Para o compositor Andyr Cárdias, que define o amazon ritmo “como um movimento de uma nova musicalidade em que fluem todas as tendências de estilos e ritmos de aroma, sabor e eco amazônico, para projeção e valorização da música paraense e amazônica como um todo no País e no mundo”. O compositor acredita que dessa forma, cria-se um “regionalismo universal”.

Esse grupo de bregueiros que propõe a mudança, está criando a UCAMP cuja proposta é a busca da auto-estima e, com isso, mais público em nível nacional. Para os integrantes da UCAMP há várias razões para mudar o atual nome Brega. A primeira é uma estratégia de marketing, porque o nome brega nacionalmente tem uma conotação pejorativo. O termo americanizado, segundo os bregueiros tem por objetivo ganhar espaço no Brasil, e assim atingir o mercado internacional e produzir um brega estilo exportação.

Para os bregueiros, somente a mudança do nome não garante espaço no competitivo mercado brasileiro. Nesse sentido, afirma Tarcísio França, a UCAMP está desenvolvendo um trabalho que reúne os artistas semanalmente, cuja proposta de trabalho envolve as seguintes propostas; maior profissionalismo, baseado na auto-estima dos artistas, planejamento de carreira, imagem, e auto gestão do sucesso. Segundo Jurandir Freire, a UCAMP quer unir profissionais da música, governo, empresários, imprensa e público para estruturar um movimento local forte.

O paradoxo da mudança está lançado, mas, não há um consenso e, seu maior desafio se ocorrer a troca do nome, segundo o cantor Fernando Belém “para o nome Amazon ritmo emplacar, precisará de um grande investimento em mídia nacional, verba que os artistas locais não possuem”.

O Brega Paraense como estilo musical que se apresenta atualmente, não nega a proposta inicial, mas toma uma modalidade de movimento social cujo desenvolvimento propõe uma ruptura em relação a outras tendências de músicas nacionais e internacionais.

Globalização do Regional ou Regionalização do Global?

Esse fenômeno de mercantilização apresenta algumas especificidades que o torna particularmente interessante e abre campo para diversos tipos de questionamentos temáticos. Como ponto de partida e para tratar adequadamente desse movimento, é bom examinar os conceitos de local, região e globalização propostos por Miltom Santos (1997) e Octávio Ianni, (1999). Embora existam muitos aspectos interessantes, destacarei apenas as observações sucintas: Miltom Santos ressalta que compreender uma região significa penetrar em suas relações, organizações e diferentes formas de interação. Para Santos, quanto mais os lugares se mundializam mais se tornam singulares e específicos e o estudo do regional torna-se importante. Não se pode desprezar a via de análise da realidade e, hoje, o regional, a região tem que ser assim entendidos. O importante nesse estudo do regional a ressaltar que um mesmo modo de produção se reproduz em distintas regiões do globo. Na verdade quando se analisa o regional nos permite entender, pessoas, grupos sociais, trabalhadores, comunidades e diferentes formas de desenvolvimento da mídia local em relação ao global, à metrópole.

Na análise referente à globalização proposta por Octávio Ianni é denominada de “globalismo”. Para o autor, a partir da categoria globalismo, torna-se possível elaborar e mobilizar recursos intelectuais, de maneira a delimitar e aprender as configurações e os movimentos da realidade, em níveis local, nacional, regional e mundial, buscando compreender e explicar como essa realidade se forma e se transforma, cada vez mais subsumida histórica e logicamente pelo globalismo. Na proposta desses dois autores nota-se um novo desafio de análise para tratar de forma epistemológica o novo sentido de local, região e nacional.

Se olharmos pela perspectiva desses autores, tendo em mente que com o impacto da mundialização da cultura aliada às novas formas de relação com a tecnologia da informação, o conceito de local e região tem que ser visto de forma universalizada, ou seja, não de forma isolada, mas com ações no local, no nacional e no global. Nesse sentido, o diferencial será a marca da singularidade de cada região que num contexto global, consegue ser visto como diferente, próprio e original. A atual expansão dos novos intermediários culturais e dos novos públicos de bens simbólico dentro da diversas classes sociais como acentua Mike Featherstone, (1995).

O Pará, considerado a porta de entrada da Amazônia tem uma cultura local e de região com hábitos e costumes que persistem e quase não são alterados mesmo com as massivas propagandas subliminar veiculada na grande mídia, por exemplo: Axé music, sertaneja etc. Seus hábitos culturais, sua culinária regional exuberante, com aromas e sabores personalíssimos e sua peculiar cultura que se mantém em alguns aspectos quase inalterados.

Nova Mídia Popular: Tupinambá e Rubi

A especificidade do regional de certo ponto inserido no Movimento Brega Paraense é o ponto central do argumento que agora com o passar do tempo, desde o seu surgimento fica mais claro e permite uma análise mais ampla de seu sentido de movimento local. O acesso de novas formas de comunicação aliada a novas mídias impulsionou esse movimento musical para envolver mais adeptos numa dimensão local e regional. Quase que naturalmente, nota-se que esse estilo de música popular transformou-se em um produto de identidade local e mercantilização cultural.

Com o desenvolvimento do movimento Brega Paraense e a possibilidade da comercialização de produtos eletrônicos importados, ressurge uma nova mídia popular: As aparelhagens sonoras que eram recursos muito utilizados desde a Primeira Grande guerra mundial, hoje, provavelmente em decorrência do capital mundializado e o processo de globalização com a abertura de mercado, “essas aparelhagens” ganharam mais força, potência e aperfeiçoamento tecnológicos e são apresentadas em sistema stéreo e, em alguns casos até computadorizadas.

O ressurgimento desse tipo de “mídia” é caracterizado pela facilidade de acesso, porque ao contrário do que ocorre nas grandes mídias, a aquisição desses equipamentos não requer grande capital e o mercado de varejo dispõe de linhas de financiamentos para os diversos segmentos de consumidores. Muitos desses produtos eletro-eletrônicos possuem peças importadas, mas em função do baixo custo da mão de obra brasileira são montados no Brasil, o que seguramente faz com que esse mercado tenha uma grande variedade de equipamentos para diferentes estilos de consumidores.

A estrutura de uma empresa de aparelhagem sonora geralmente é de propriedade familiar e, conseqüentemente, a quase inexistência de burocracia para compra e a facilidade para operar esses equipamentos justificam a proliferação desse tipo de veículo de comunicação popular na região amazônica. A maior representatividade desse tipo de mídia no Pará são as aparelhagens “Tupinambá”, “Pop Som” e o “Rubi” que realizam shows em todo estado e na região norte do Brasil. Apesar da falta de dados oficiais nota-se que esse tipo de atividade cresceu e está se desenvolvendo dia-a-dia com novas funções no mercado de trabalho; são novos músicos, técnicos, motoristas, ajudantes, carregadores, enfim vários tipos de mão-de-obra utilizadas para o entretenimento popular.

Essa nova dimensão de tecnologia e de espaço de comunicação alcançada pelo movimento Brega Paraense, não permite até agora conferir ou verificar a dimensão do impacto da globalização nesse atual processo de movimento musical e social. Verifica-se que esse tipo de mídia mesmo diante da tecnologia mundializada (TV, internet) consegue atingir e envolver as massas populares em seus diversos segmentos de público. Um exemplo desse envolvimento está na canção “Dudu”, cantada por Anna di Oliveira, canção essa que em curto espaço de tempo tornou-se hino da campanha do candidato para prefeito Duciomar Costa, o qual concorreu na última eleição para a prefeitura de Belém.

Cumpre reconhecer que esse entretenimento popular de lazer e interação social pode-se dizer que na sua atual performance, apresenta uma nova forma de trabalho e geração de renda local com sua diferente maneira de utilizar a mídia para divulgar uma emergente economia local e uma cultura regional.

Mercantilização e Sociabilidade

Baseada nos estudos e nos autores voltados às questões da comunicação social, nota-se, portanto, que a estratégia de mercantilizar um produto genuinamente regional como a música Brega Paraense aproveitou-se da inerente “sociabilidade,” proporcionada por esse fenômeno em não mudar o produto, mas adaptá-lo à cultura globalizada e comercial - não só como produto de exportação, mas também como “mensagens” para as diferentes classes sociais da própria região que, no primeiro momento de divulgação, desprezaram esse fenômeno da classe popular.

Sociabilidade, interação e a influência da globalização em países e cidades emergentes é um aspecto que deve ser analisado sob o ponto de vista do “multiculturismo” (Ortiz, 1994). Pois considero esse recorte cada vez mais necessário e indispensável para a estruturação de uma pesquisa, principalmente, no atual processo de globalização e abertura de mercados que, se por um lado, aproxima culturas e povos distantes, ao mesmo tempo parece facilitar o reaparecimento de movimentos que padronizam a cultura e o relacionamento social.

Nesse sentido, se faz necessário questionar o desenvolvimento do fenômeno para tentar responder; Como o “movimento” Brega Paraense está se articulando e se desenvolvendo nesse contexto multicultural? A fusão e a recepção das músicas do Caribe, de fato, alteraram ou foram adaptados ao atual estilo desse fenômeno da música regional? A nova proposta do grupo de mudar o nome Brega para ganhar espaço no Brasil é uma iniciativa do local ou uma adaptação ao mercado nacional que impõe um padrão para a mercantilização?

Contudo, essas proposições podem ser correlacionadas com e acentuadas por Giddens em As Conseqüências da Modernidade (1991) “a globalização pode ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira onde acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo há milhas de distância e vice-versa”.

Isso significa dizer que os acontecimentos locais podem se deslocar e se distanciar das relações onde foi modelada. Na verdade, a transformação local é uma extensão lateral das conexões sóciais.

Para fins de análise é, portanto conveniente refletir que a cultura contemporânea e as formas de sociabilidade interativa expressiva e sua interface com as atuais formas de comunicação local e regional estão passando por uma problemática de valores inteiramente nova e de adaptação. Com a diversidade de opções das mídias alternativas, individualmente ou em grupo pode-se utilizar diferentes formas de estratégias de marketing e apelo publicitário para promover, mercantilizar e distribuir livros, CD’s, revistas e produtos culturais, para isso tem como estratégia o uso do marketing direto, propaganda, sites, homepage etc. Nesse sentido o movimento Brega Paraense tem procurado estar presente em todos os segmentos de mídia. No momento há várias programações segmentadas em emissoras AM e FM sobre o Brega e sites que formam um ambiente midiatizado de consumo. Diante dessas novas opções de trabalho é possível, no futuro, identificar esse movimento cultural e social como uma perspectiva de nova geração de renda e emprego, tendo em vista seu atual desenvolvimento.

A geração de renda relacionada à capacitação da própria população para o trabalho orientado em seus recursos locais sejam eles naturais ou culturais, precisam ser direcionados para satisfação das necessidades locais de maneira coerente com as necessidades do perfil da mão-de-obra regional. Essa temática precisa ser melhor introduzida nas comunidades juntamente com as lideranças e um estruturado trabalho de comunicação interativa sistematizada para todo segmento da sociedade.

A região amazônica é cortada por mangues, rios, igarapés e florestas. As experiências regionais da população, na sua grande maioria são marcadas por essa característica ribeirinha. Portanto, tais conhecimentos devem ser transformados em saber aplicável para o desenvolvimento local. O Estado juntamente com a população deve desenvolver estrutura que forme e desenvolva o crescimento de seus profissionais e, dessa forma, evitará o êxodo de talentos para lugares que ofereçam a estrutura que a região não possui. Além de estimular o máximo do potencial da população, deve-se fazer o mesmo com as próprias potencialidades naturais e culturais do ambiente. Vale analisar na questão do profissionalismo do movimento Brega proposto pelo UCAMP, se em seus projetos de trabalho constam itens que priorizem esse perfil local, respeitando inclusive a natureza a fim de evitar a poluição sonora que em alguns casos chegam a alterar um local natural e singularmente silencioso como essa região, cujos sons naturais dispensam qualquer outro tipo de artifício sonoro manipulado pela indústria de consumo da metrópole.

Assim, para melhor visualizar essa afirmação e melhor compreender a interação entre esse estilo de comunicação e sua atual forma operante de mercantilização, vale a pena analisar que uma das principais estratégias do movimento Brega Paraense é atrair considerável número de pessoas de baixa renda, cujo poder econômico tem dificuldades para adquirir um CD, mas podem pagar R$2,00 (Dois Reais) para um ingresso e ouvir e dançar Brega. Essa proposta simples de reunir pessoas de classe social popular em um “quintal” a céu aberto para ouvir e dançar Brega, tem caracterizado esse movimento social, que com esse estilo simples conquistou a grande mídia. Bebendo cerveja e cachaça, a mais conhecida das nossas bebidas, e às vezes cobrando um valor mínimo para a entrada, esse tipo de entretenimento popular tem proporcionado o envolvimento social da população de menor renda, que tem ficado nos finais de semana, dançando e cantando até o dia amanhecer sob grandes holofotes de luz, caixas imensas de som e uma alta potência acústica de som de fazer tremer o corpo e ensurdecer os ouvidos.

Pressupõe-se que com o início desse novo milênio e com a evolução da comunicação em nível tecnológico, com a expansão da informática e o impacto da globalização, os veículos de comunicação utilizem diversas alternativas de comunicação interativa com o seu público. Em decorrência disso, um aumento significativo de organizações e instituições passam a ver a comunicação e a eficiente utilização dessa, nas mídias, como uma das principais prioridades da contemporaneidade (Wilson Dizard, Jr).

Para concluir, a intenção desta breve exposição foi conhecer e discutir um fenômeno na linha de cultura regional, que trata da relação comunidade, comunicação, e mercantilização para entender como diversos segmentos sociais interagem para consumir um produto cultural como o “Brega Paraense” e como as estratégias de comunicação e marketing atuam sobre esse público, tornando um processo de movimento cultural, local, complexo e desafiador como objeto de análise dentro da temática de globalização.

Notas:

Minha compreensão sobre cultura popular beneficiou-se muito das discussões com João de Jesus Paes Loureiro - diretor do Instituto de Arte Pará, e estou grata de reconhecer esse apoio.

Quero agradecer a Rosenildo Franco - Diretor de criação da Agência Galvão Propaganda e Jorge Reis - Gerente de Comunicação da TV Liberal pelas entrevistas e comentários a uma versão anterior deste artigo.

A mudança do nome Brega e a possibilidade de acompanhar a pesquisa via internet foi possível graças ao empenho e dedicação de José Roberto da Costa Ferreira - Sargento da Aeronáutica, Técnico de Manutenção e Suporte de Microcomputadores. Estudante do curso de Bacharelado de Ciência da Computação da Universidade da Amazônia (UNAMA). Webmaster do site Brega Pop, www.bregapop.com, que disponibilizou essa apresentação.

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http://www.oliberal.com.br
http://www.mtv.com.br