Edson Coelho de Oliveira
Jornal Oliberal - Caderno Magazine - 14/março/2006
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Musicalmente, como você definiria o brega?
Não é um estilo musical. O que chamamos de brega no Pará (sem nenhum preconceito) é uma das variações do calipso, parte de uma vertente musical do Pará que eu chamo de Música Popular Paraense com influências externas – são as fusões. Nessa vertente, destacamos também a lambada, o zouk, além de cúmbias, merengues, cacicós, mambos, salsas…
Você foi um dos sintetizadores do ritmo. Havia a intenção deliberada de criar algo novo, ou surgiu naturalmente, a partir da experiência musical com os ritmos caribenhos?
Elvis Presley, Beatles e outros artistas famosos mundialmente já experimentaram o calipso… No Pará, comecei a experimentar fusões com calipso a partir dos anos 80, ao mesmo tempo de Alípio Martins, Pinduca, que foram grandes produtores e mestres na época. O músico paraense (da Amazônia) tem uma vocação incrível para fazer fusões, e pela nossa proximidade com o Caribe, berço de muitos ritmos mundiais, como reggae (Jamaica), Salsa (Cuba), Merengue (República Dominicana), Zouk (Martinica, Guadalupe, Cayenna), somos munidos de muitas informações, que, processadas, apresentam-se de uma nova maneira. Me parece uma ‘fórmula’ universal. Muito mais que no aspecto musical, acho que contribuí mesmo, junto aos artistas, para o entendimento entre o que podia ser chamado de brega e o que era o calipso. Argumentando o seguinte: em primeiro lugar, brega não é um estilo musical e, em segundo, que o que estávamos tocando era calipso, pela levada da bateria e das guitarras. E em terceiro: a mídia é predominantemente estética e por questões estéticas calipso soaria diferente de brega junto ao restante do Brasil. E aí poderia se dar a explosão, como calipso. Acho que estava certo.
Que nomes você destacaria na história do brega? Quais os produtores, músicos e cantores essenciais?
Brega também é tido como música de massa e o primeiro artista paraense a se destacar neste cenário é o Osvaldo Oliveira, o Vavá da Matinha, que na verdade cantava boleros, merengues. No calipso mais antigo poderemos citar : Alípio Martins (cantor e produtor), Teddy Max (produzido pelo maestro Pinduca), Miriam Cunha, Francis Dalva, Luiz Guilherme, Magno, Mauro Cotta e outros que não são paraenses mas que gravaram e ajudaram a divulgar fora do Estado esse ritmo como: Messias Paraguai (Natal), Zé Orlando (Fortaleza) Ivan Petter, Carlos André, Adelino Nascimento e outros… No calipso mais recente, que começou com o Roberto Villar, podemos destacar também: Alberto Moreno, Edílson Moreno, Kim Marques, Wanderley Andrade, Lenne Bandeira, Banda Cheiro Verde, Banda Cajuí, Banda Calypso. Mas considero um start dessa nova fase do calipso os músicos Dedê, Hélio Silva, JR, Chimbinha, Barata e Neca, que gravaram muitos discos nessa levada.
Você mora em São Paulo? Quais suas atividades profissionais hoje?
Acabei de lançar o novo CD da Márcia Ferreira, que volta ao cenário artístico (’Chorando se foi’), estou concluindo o CD novo do Beto Barbosa, em Recife, e preparando a gravação do DVD do Fernando Mendes para o final de março em Minas Gerais e tocando uma banda chamada Zouk-lou.w que é uma vertente de zouk da banda Warilou. Estou também em conversação com os primeiros parceiros da Banda Warilou, para a gravação de um DVD aí em Belém para breve. Estamos buscando parceiros para essa empreitada.
Quanto a esta explosão nacional - é uma moda, ou veio para ficar por muitos anos? E a Banda Calypso, será solitária nessa explosão, ou outros grupos e cantores também farão sucesso em todo o País?
Já existe uma cultura de consumo no Brasil para o calipso. A banda Calypso é o principal ícone. Isso abre boas perspectivas para o que ‘vem do Pará’. É hora de aproveitar essa explosão nacional para firmar a música paraense no cenário nacional. Acho interessante juntarmos ao calipso outros estilos musicais paraenses, como o carimbó, a guitarrada, a musica popular e outros estilos muito eficientes junto às massas; um artista só não segura o movimento artístico de um Estado. Quanto a outros artistas fazerem sucesso é uma questão de junção de atitudes que deve começar no Pará, com a tomada da consciência coletiva das potencialidades, a valorização da dança, pois essa é genuinamente paraense, sem falar em divulgação, em infra-estutura, até sair do âmbito local ou regional. Isso demanda muita disciplina e determinação e faz a diferença..