Pio Lobato

Review


Pio Lobato lança novo disco

Seu quinto trabalho solo carrega seu nome e é o mais pessoal dentre toda sua obra.

É de 93 a faixa “Mestre Vieira”, que Pio Lobato compôs em homenagem ao pai da guitarrada. O tema, criado numa época em que o estilo musical ainda não possuía o prestígio de hoje, nunca havia sido gravado oficialmente até agora. “Pio Lobato” - quinto disco solo (e homônimo) do guitarrista, compositor e produtor - traz finalmente este registro. Assim como ela, outras músicas antigas, nunca compiladas num álbum, figuram lado a lado com obras recentes. O novo trabalho de Pio vem justamente com esse papel: costurar mais de vinte anos de carreira.

Não é só na cronologia que o disco permite entrever sua diversidade. Esta se mostra na escolha das vertentes que o integram: o projeto, pensado em quatro partes distintas, apresenta um núcleo de lambadas; outro de tecnoguitarradas; um terceiro voltado para loops e repetições; e ainda um quarto aspecto, o qual guarda reflexos do interesse de Lobato pela musica progressiva - aqui, representada pela faixa “O Barco que Afundou”. A composição, a mais longa da compilação, aponta também o flerte com as trilhas sonoras, sugerindo climas distintos e a obediência a um roteiro. Tantas referências em um mesmo trabalho são consequência do próprio estado de inquietude do músico. “Não tenho afinidade com uma única linha que me represente. Por isso, o disco é fragmentado nessas linguagens diferentes que me interessam. Poderia ser o rumo de quatro discos, mas preferi condensar em um só”, explica.

A pessoalidade na escolha do repertório também entrega o processo criativo deste quinto disco - provavelmente o mais íntimo dos solos de Pio. O compositor centralizou boa parte da produção: gravou sozinho as guitarras e quase todas as linhas de contrabaixo, co-atuou na mixagem e no próprio projeto gráfico na capa - da fonte ao azul conhecido como “Yves Klein”, tudo foi decidido por ele, a partir de sua relação particular com esses signos. Entre as inspirações, há atmosferas que vão de Led Zeppelin ao escritor amazônida Dalcídio Jurandir. O desenvolvimento personalista do álbum permitiu que este encontrasse caminhos que abusam da experimentalidade - desde a constante investigação de novos timbres e elementos percussivos até técnicas inusitadas de pós-produção. A busca pela sonoridade pretendida fez Lobato não se limitar a um único local de trabalho. “Fui ‘pingando’. Gravei muita coisa em casa, outras coisas no home studio do Ziza (Padilha, músico e produtor), do Leo (Chermont, do Strobo)... Pouca coisa foi gravada no Apce, onde finalizei”. Masterizado no Classic Master, estúdio que é referência no Brasil, o lançamento sairá em dois formatos: CD e vinil duplo - este último pelo selo paraense Discosaoleo, contendo uma faixa extra.

De “Mestre Vieira” até “Pio Lobato”

Apesar de ser um disco plural, “Pio Lobato” não cai em dispersão em nenhum momento. Construído não só sob a personalidade como pela própria história de seu autor, ele passa a ser um álbum de retratos - a materialização da produção de mais de duas décadas. “Mestre Vieira”, a faixa mais antiga do trabalho, abriu portas e deflagrou uma série de processos importantes para a ascensão da música paraense no país inteiro. Exemplo disso é o projeto “Mestres da Guitarrada”. Pensado por Pio, o grupo reuniu em 2003 os mestres Curica, Vieira e Aldo Sena - figuras históricas da música popular no Pará - para mostrar ao mundo o som inventado em Barcarena há 40 anos, a partir da cultura caribenha, da jovem guarda, do chorinho e de outros estilos. Mais tarde, tal reunião ajudou a inspirar o Terruá Pará - mostra artística que mobilizou centenas de profissionais no estado, culminando com grandes shows em Belém e no sudeste do país.

Entre 93 - ano em que Pio compôs “Mestre Vieira” - e este lançamento, muita história foi escrita. Parte dela à frente da banda Cravo Carbono - que tornou o compositor conhecido nacionalmente por sua inventividade. A faixa-mãe de “Pio Lobato” foi assimilada pelo repertório do grupo, que possuía entre seus trunfos o olhar vanguardista ao pensar a música regional. “Era o caminho de quem queria fazer algo diferente. O meu veículo de expressão para mostrar grande parte dessas ideias foi o Cravo Carbono”, recorda. A contramão do conservadorismo é uma característica que permanece presente em toda a obra do guitarrista, seja junto ao Cravo ou em sua carreira solo - pela qual lançou anteriormente os discos “Café”, “Esboço”, “Tecnoguitarrada” e “Café 2”. “Pio Lobato” atende às mesmas demandas inquietas do compositor; e vai além quando traz para si a responsabilidade de desvendá-lo. Para seguir o mesmo rumo, basta ter ouvidos atentos.

Fonte: http://piolobato.bandcamp.com/album/pio-lobato

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