APARELHAGENS NAS ALTURAS: A EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO CULTURAL E A IMAGEM DAS APARELHAGENS SONORAS DE BELÉM NO JORNAL IMPRESSO “O LIBERAL”.

Elyne Patrícia dos Santos Artiaga Santiago
Marisa Lisboa Alves

APRESENTAÇÃO

Este trabalho faz uma abordagem sobre como a mídia impressa, precisamente o jornal O Liberal mostra as aparelhagens sonoras em Belém nos últimos quatro anos em suas matérias jornalísticas. O Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no ano de 2006 para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, outorgado pela Universidade da Amazônia, sob a orientação da professora Ivana Oliveira se restringe em abordar a imagem das aparelhagens sonoras em um jornal impresso de grande circulação em Belém, e assim analisar a questão do preconceito, - que constitui de um conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, uma idéia preconcebida. (suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras raças, credos, religiões etc.) - e de como essa barreira vem sendo ultrapassada. Além da importância econômica dessas aparelhagens em uma cidade que tem como ritmo típico o brega, que é geralmente associado às aparelhagens. Esse trabalho pretende também valorizar a cultura paraense e documentar a história das aparelhagens.

RESUMO

Para analisar a imagem que as aparelhagens possuem no jornal O Liberal foi feita a relação entre a massa e o movimento cultural pós-moderno Aparelhagem, buscando mostrar como o jornal media essa relação, e a percepção do público diante das matérias jornalísticas veiculadas no mesmo. Constatou-se que o preconceito sobre a imagem das aparelhagens de Belém vem sendo vencido pela mídia, mas ainda existe dentro dos próprios freqüentadores das festas de Aparelhagens.

INTRODUÇÃO / METODOLOGIA DE PESQUISA / OBJETIVO / JUSTIFICATIVA

CAPÍTULO I - COMO O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO HUMANA FUNCIONA NAS FESTAS DE APARELHAGENS

1.1 - Diversidade Anônima

CAPÍTULO II – O PÚBLICO E A INFLUÊNCIA DA OPINIÃO PÚBLICA NA IMAGEM DAS APARELHAGENS

2.1 - Barreiras Ultrapassadas

CAPÍTULO III - A CULTURA ALIADA AO GOSTO POPULAR

3.1 - Aparelhagem: Resultado da Cultura de Massa ou da Indústria Cultural?

3.2 - O Confronto da Cultura Popular com a Cultura de Elite

CAPÍTULO IV - APARELHAGEM: UM FENÔMENO PÓS-MODERNO

4.1 - Brega: O Ritmo que Embala as Noites Paraenses

4.2 - Da Periferia aos Grandes Centros Urbanos

4.3 - História das Aparelhagens: Tupinambá, Super Pop, Rubi e Brasilândia

4.4 - Perfil do jornal O Liberal

4.5 - Aparelhagens no Jornal O Liberal - 2003 - 2004 - 2005 - 2006

DIAGNÓSTICO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ANEXOS

GLOSSÁRIO BREGUEIRO

QUESTIONÁRIO QUANTITATIVO - DADOS GERAIS SOBRE A PESQUISA

QUESTIONÁRIOS QUALITATIVOS:
- Entrevista com Edson Coelho - Editor do Caderno Magazine do Jornal O Liberal
- Entrevista com DJ Dinho - TUPINAMBÁ
- Entrevista com o DJ Juninho - SUPER POP

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INTRODUÇÃO

O trabalho tem como abordagem principal as aparelhagens sonoras de Belém, contextualizando com o papel da mídia em informar sobre o crescimento desse movimento cultural. E para isso foi necessário abordar sobre comunicação, cultura, opinião pública, imagem, sobre a pós-modernidade e um pouco das histórias das aparelhagens.

Para Alexander Goulart (2005), Dominique Wolton classifica a comunicação como um grande valor humanístico e democrático baseado na igualdade e liberdade dos interlocutores. Trata-se de um valor humanístico porque é inerente ao ser humano e é democrático, porque só a democracia coloca a igualdade como condição para a comunicação. Mas Wolton alerta para o grande risco da comunicação: a não-comunicação, o não entendimento.

Para Goodenough (1971), cultura é um sistema de conhecimento: “consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade”.

A segunda abordagem é que considera cultura como sistemas estruturais, ou seja, a perspectiva desenvolvida por Claude Lévi-Strauss, “que define cultura como um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana…”.

Estudar a cultura é, portanto estudar um código de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura.

Para Antônio Augusto Arantes (2004), quem é o povo de quem se fala? A expressão “cultura popular”, implica em visões valorativas (negativas) dessa categoria social. Ela se refere por um lado, à “povo-massa” (em contraposição a “elite”[1]), pensando neste caso como suporte de um não saber. Por outro, como constituindo o espaço social onde se preservam (deturpam) as tradições nacionais.

A chamada “arte popular”, produzida por um grupo profissional de especialistas (indústria cultural) era vista, por outro lado, como “mais apurada e apresentando um grau de elaboração técnica superior à primeira”. Não obstante, seu “objetivo supremo consiste em distrair o espectador em vez de formá-lo, entretê-lo e aturdi-lo, em vez de despertá-lo para a reflexão e a consciência de si mesmo. (…) Ela abre ao homem a porta para a salvação ao refugiá-lo numa existência utópica e num eu alheio ao seu eu concreto”.

Assim, então, ambas possuem caráter ilusório e obscurecedor da realidade, pois expressam “o povo apenas em suas manifestações fenomênicas e não em sua essência”.

“O que define cultura popular (…) é a consciência de que a cultura tanto pode ser instrumento de conservação, como de transformação social”.

“Cultura popular é, portanto, antes de mais nada, consciência revolucionária” , “um tipo de ação sobre a realidade social”.

Para Gabriel Cohn (1987), os problemas que envolvem a atenção do homem sofrem constantes mudanças cuja ocorrência encontra-se estreitamente vinculada às exigências variáveis impostas pela sociedade e pela economia.

“A onipresença dos meios de comunicação leva muitas pessoas a uma crença quase mágica em seu enorme poder. Existe, entretanto, uma base bem mais concreta, que explica a preocupação generalizada quanto ao papel social dos meios de comunicação, uma base associada aos tipos mutáveis de controle social exercido por poderosos grupos de interesse na sociedade. O poder econômico parece ter reduzido a exploração direta, voltando-se para um padrão mais refinado de exploração psicológica que se concretizou, em grande parte, pela disseminação de propaganda através dos meios de comunicação de massa. Os responsáveis pelo controle das opiniões e crenças de nossa sociedade empregam menos força física e mais técnicas de persuasão de massa. O programa de rádio e a propaganda institucional substituem a intimidade e a coerção. A preocupação manifesta, no que respeita às funções dos meios de comunicação de massa, baseia-se, em partes, na observação válida de que esses meios assumiram a tarefa de ajustar os públicos de massa ao status quo social e econômico”. (COHN, 1987)

Cohn ressalta, ainda, que a pesquisa sobre comunicação de massa concentrou-se na persuasão, ou seja, na capacidade dos mass media de influenciar, e usualmente mudar, opiniões, atitudes e ações numa direção dada. Essa ênfase conduziu ao estudo de campanhas – campanhas eleitorais, de vendas (marketing), para a redução do preconceito racial, e assim por diante. Embora seja tradicional tratar os estudos de audiência, as análises de conteúdo e os estudos de efeito como áreas separadas, há boa razão para crer que todas essas três linhas de pesquisa tenham sido motivadas basicamente por uma preocupação com o exercício efetivo da influência sobre o pensamento e o comportamento a curto prazo.

“A massa não possui organização social, costumes e tradição, um corpo estabelecido de regras ou rituais, um conjunto organizado de sentimentos, nem qualquer estrutura de status-papéis ou liderança institucionalizadas. É constituída por um agregado de indivíduos que se encontram separados, desligados, anônimos e, mesmo assim, formando um grupo homogêneo em termos de comportamento da massa, que, justamente por não resultar de regras ou expectativas pré-estabelecidas, é espontâneo, inato e elementar.” (COHN, 1987)

De acordo com o DJ Juninho Carvalho, da aparelhagem Super Pop, por muito tempo a mídia, principalmente o jornal impresso O Liberal, mostrou a imagem das aparelhagens, que são uma enorme estrutura de som, como festas que aconteciam apenas na periferia de Belém, onde o ritmo que mais tocado era o brega.

As aparelhagens viviam à margem da sociedade, não se dava muito “valor” a esse tipo de acontecimento. Mas a partir do ano de 2000 algumas coisas mudaram, elas começaram a ficar em evidência na mídia, muitos programas de rádios começaram a ser exibidos, como na Rádio Marajoara FM, muitos donos de aparelhagens passaram a comprar o horário para poder divulgar tanto a sua empresa como o ritmo brega difundido na época. Além disso, muitos investimentos tecnológicos foram feitos nas aparelhagens, como na mudança do visual, investimentos não somente na parte sonora, mas também na iluminação.

Com o surgimento do tecnobrega, ritmo que mistura tanto o brega paraense com a batida do tecno, muitas bandas começaram a fazer músicas que falavam sobre a aparelhagem e alguns sons automotivos e isso já era uma forma de divulgar a mesma, como por exemplo, o Tupinambá, Super Pop e Rubi.

A partir disso é perceptível que a mídia eletrônica, como rádio e TV passaram a divulgar mais o trabalho das pessoas envolvidas nas aparelhagens e conseqüentemente a imagem da mesma começa se modificar, deixando de pertencer somente a bairros periféricos, chegando ao ponto que pessoas das mais diversas classes sociais freqüentarem as festas promovidas. Por conta disso a mídia impressa, acabou também publicando algumas matérias sobre aparelhagem.

Um dos pontos de partida do trabalho foi a abordagem das aparelhagens no jornal impresso, O Liberal. E para verificar isso foi utilizada como base a Teoria do Gatekeeper, na qual, segundo David Manning White, é o processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de notícias tem de passar por diversos Gates, ou seja, portões que não são mais do que áreas de decisões; as notícias são explicadas como um produto das pessoas e das suas intenções; a teoria analisa as notícias apenas a partir de quem as produz: o jornalista. É ele quem decide se vai escolher essa notícia ou não. Se a decisão for positiva, a notícia acaba por passar pelo “portão”, se não, sua progressão é impedida.

Segundo Mauro Wolf (1995), as exigências organizativas e estruturais e as características técnico-expressivas, próprias de cada meio de comunicação de massa, são elementos fundamentais para a determinação da reprodução da realidade social fornecida por esses veículos. A teoria do Gatekeeper privilegia a ação pessoal, ou seja, o conceito refere-se à pessoa que tem o poder de decidir se deixa passar a informação ou se a bloqueia.

A consciência editorial, conforme o Gatekeeper, ressalta apenas um lado deste movimento cultural e aumenta preconceitos quando as aparelhagens estão associadas a festas populares.

O termo surgiu pela primeira vez em 1947 a partir dos estudos do psicólogo Kurt Lewin, que analisava os problemas ligados à modificação dos hábitos alimentares em um determinado grupo social.

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[1] O que há de melhor em uma sociedade ou num grupo; nata, flor, fina flor, escol. Minoria prestigiada e dominante no grupo, constituída de indivíduos mais aptos e/ou mais poderosos.

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METODOLOGIA DE PESQUISA

Para fazer essa pesquisa foi preciso fazer levantamento bibliográfico sobre o assunto abordado. Para fazer um levantamento do objeto estudado foi necessário ir aos locais onde algumas festas de aparelhagens acontecem.

Foi necessário entrevistar alguns DJs e donos de aparelhagens para coletar dados a respeito das mesmas, como a história e os investimentos em tecnologia. São elas: Tupinambá e Super Pop. Além disso, foi imprescindível entrevistar editor Edson Coelho, responsável pelo Caderno Magazine do jornal O Liberal, já que ele é quem seleciona as matérias que serão ou não publicadas no caderno. E para coletar informações a respeito do jornal, foi necessária a análise das matérias veiculadas no mesmo, no período do ano 2003 até julho de 2006, e assim comprovar ou não os indicativos contidos no Trabalho, caracterizando uma pesquisa qualitativa.

Para Ada Decker (2001), a pesquisa qualitativa em comunicação constitui-se pelo estudo sistemático de todos os meios, formas e processos de informação ou de comunicação social. Do ponto de vista metodológico, temos que considerar tanto as pesquisas que utilizam técnicas quantitativas quanto as que utilizam o método qualitativo.

“Sempre é necessário considerar que as técnicas não são isoladas dos métodos e das teorias que as levam à ação. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural com sua fonte direta de dados, e o pesquisador é o seu principal instrumento. Esse tipo de pesquisa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, graças a um intenso trabalho de campo. Os dados coletados nas pesquisas qualitativas são predominantemente descritivos. O material obtido nessas investigações é rico em relatos de pessoas, em situações e acontecimentos, incluindo transcrições de entrevistas e depoimentos, além de fotografias e vários outros tipos de documento. Cabe ao pesquisador prestar atenção no maior número possível de elementos que estão presentes na situação estudada. A preocupação com o processo é muito maior que o produto. O interesse do pesquisador é verificar como o problema manifesta-se no cotidiano. No estudo qualitativo, a análise de dados segue um processo indutivo. Os pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que comprovem as hipóteses”. (DECKER, 2001)

Para analisar o objeto pesquisado foi realizada primeiramente uma revisão bibliográfica que serviu como base para estudar conceitos, como cultura e gosto popular, comunicação com o objetivo de fundamentar a pesquisa. Em um primeiro momento, foi definido o problema, feita a pesquisa bibliográfica, o fichamento das leituras, a formulação dos indicativos, a caracterização da metodologia de estudo. Em seguida foi feita a aplicação dos questionários, tanto qualitativos quanto quantitativos, onde foram necessários três meses para a realização dos mesmos, pois permitiram a coleta de dados. Após esse período foram feitas as transcrições de análise dos dados e por fim, a publicação do trabalho.
A pesquisa de campo quantitativa utilizada em uma das etapas do trabalho teve como objetivo principal esclarecer por que pessoas de classes sociais diferentes freqüentam esses ambientes, e informar qual é o poder de compra dessas pessoas confirmando ou não que o local onde as aparelhagens tocam selecionam o tipo de público. Além de definir o grau de escolaridade, saber se lêem o jornal em questão, o que elas acham dele e completar com outras informações que foram úteis para descrever o perfil do objeto.
Assim Ada Decker (2001) define que na pesquisa quantitativa descritiva são feitas investigações de pesquisa cuja finalidade é delinear ou analisar fenômenos, avaliar programas ou isolar variáveis-chave. Descrevem situações utilizando critérios quantitativos que estabelecem proporções e correlações entre as variáveis observadas, procurando elementos que permitam a comprovação das hipóteses. Utilizam como técnica de coleta de dados entrevistas pessoais, questionários e procedimentos de amostragem.
Para obter dados e informações concisas dos aspectos sociais, econômicos e saber a preferência de determinados dados do objeto de estudo, demonstrando assim a confiança desse trabalho, tendo em vista a necessidade de aproximar o pesquisador com o pesquisado para obter essas informações foi selecionada uma pesquisa prática, para ter acesso a essa opinião.
Segundo Louis M. Rea e Richard A. Paker (2000), a seguinte técnica também oferece maior facilidade para ambos, já que existe a possibilidade de comunicação, troca de informações.
O universo desta pesquisa é constituído pela população de habitantes na cidade de Belém, Pará, residentes, com idade de 18 a 59 anos, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Divisão Territorial de 2001 é de 741.655 habitantes. E para determinar um número proporcional e condizente com a população, ao utilizar a seguinte fórmula ficou definido um número de 384 habitantes a serem entrevistados. Já que segundo Carvalho (2001):

n = N . Z² (a/2) . p (1-p)
(N-1)d²+Z²(a/2).p(1-p)

Assim sendo o valor de N equivale ao número da população, Z equivale à curva de distribuição normal, com seu valor tabelado; p é a proporção esperada da população que irá satisfazer as hipóteses levantadas pela pesquisa, e o valor d corresponde à discrepância possível dos valores esperados na proporção p, sendo esta superior ou inferior. Os valores escolhidos para estas variáveis foram:
N= 741.655 habitantes de 18 a 59 anos
P= 50 % (0,5) - Por não ter certeza que todas essas pessoas freqüentam as festas de aparelhagens
D=5% (0,05)

O índice de confiança escolhido foi de 95%. Para o cálculo do ?, deve-se subtrair este número de 100, encontrando mais tarde o valor de ?/2, que será posteriormente substituído pelo valor Z.

IC 95% : ? = 100-95= 5% (0,05)
?/2 = 0,05/2 = 0,025
Z(?/2) = Z(0,025) = 1,96

Segue o cálculo:

n = N . Z² (a/2) . p (1-p)
(N-1)d²+Z²(a/2).p(1-p)

n = 741.655 x 1,96² x 0,5 ( 1 - 0,5)
(741.655-1)x0,05²+1,96²×0,5(1-0,5)

n = 741.655 x 3,8416 x 0,5 - 0,25
741.654 x 0,0025 + 3,8416 x 0,5- 0,25

n = 712.285,45
1.854,135 + 0,9604

n = 383,96162

n = 384 pessoas a serem entrevistadas

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OBJETIVO

Objetivo Principal:

- Mostrar como o jornal impresso O Liberal aborda a imagem das aparelhagens sonoras de Belém.

Objetivos Secundários:

- Mostrar como são compostas essas aparelhagens, a história delas e o reconhecimento como movimento cultural.

- Mostrar por que as pessoas de distintas classes econômicas passaram a freqüentar essas festas.

- Determinar a importância que essas festas têm já que promovem muitos empregos diretos e indiretos.

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JUSTIFICATIVA

Essa foi a primeira pesquisa acadêmica elaborada por alunas da UNAMA (Universidade da Amazônia) que abordou o tema de como um jornal impresso retrata a imagem das aparelhagens sonoras de Belém. O trabalho buscou mostrar a importância dessas festas para a economia paraense, ― que de acordo com o DJ Juninho Carvalho da Empresa Pop Som, possibilita muitos empregos[1]― e visa também mostrar que o preconceito, que antes existia com mais firmeza, agora está diminuindo, justamente por estar mais em evidência na mídia. Um dos enfoques foi o fato do número de pessoas da alta sociedade ou de classe média estarem freqüentando essas festas.

O fato das aparelhagens não serem mais associadas diretamente com o ritmo brega pode estar causando ao público uma nova imagem, pois não se toca mais apenas brega, e sim os mais variados estilos musicais. Isso atraiu o público que não se identifica com o ritmo típico paraense. Além de tudo, os locais onde as aparelhagens sonoras se apresentam estão diversificando também, que pode ser dos lugares mais periféricos aos mais freqüentados pelas classes média e média alta. Esses dois fatores justificam um dos enfoques do trabalho, já descrito acima.

As aparelhagens são um tipo de festa que vêm ganhando cada vez mais público, graças à divulgação da mídia massiva, como a TV e o rádio, que influencia a impressa, tanto em comerciais como em matérias jornalísticas, onde mostram o alto investimento dos donos das aparelhagens nas mesmas. O aumento e a diversificação do público deve-se também ao fato das aparelhagens terem acesso ao espaço elitizado, atingindo assim todos os tipos de classe social.

O trabalho pretendeu ainda valorizar o trabalho dos DJs de Aparelhagem e das pessoas envolvidas nesse movimento cultural paraense.

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[1] Só a Empresa Pop Som emprega oitenta pessoas em suas duas aparelhagens: Super Pop Som e Pop Saudade. Além dos empregos indiretos, como venda de souvenirs, garçons, bombonzeiros etc.

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CAPÍTULO I - COMO O PROCESSO DA COMUNICAÇÃO HUMANA FUNCIONA NAS FESTAS DE APARELHAGENS

O estudo da Comunicação[1] é amplo e sua aplicação é ainda maior. Para a Semiótica, o ato de comunicar é a materialização do pensamento/sentimento em signos conhecidos pelas partes envolvidas. Estes símbolos são então transmitidos e reinterpretadas pelo receptor. Hoje, é interessante pensar também em novos processos de comunicação, que englobam as redes colaborativas e os sistemas híbridos, que combinam comunicação de massa, comunicação pessoal e comunicação horizontal.

De acordo com Dominique Wolton (2004), comunicação e informação são valores de emancipação. Porém, informar não é sinônimo de comunicar. Quando falamos em revolução da informação, não se trata de comunicação, pois melhores técnicas não garantem melhor comunicação. Por exemplo, melhores ligações entre Brasil e Argentina não solucionam os entraves políticos, os problemas de comunicação entre os dois países.

Para Bordenave (2003), a comunicação serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia. Sem a comunicação cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo. Pela comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos.

A comunicação vivenciada nas aparelhagens é também expressa na forma de símbolos. Feitos com os membros superiores do corpo, (por exemplo, T, S, e a pedra representada pelo seguinte símbolo: <>), a massa utiliza essa forma de comunicação para interagir e, sobretudo demonstrar que faz parte do espaço cultural. Sendo assim, sente-se reconhecida no ambiente, torna-se importante. Isso pode ser considerado um fator que contribuiu para que o número de freqüentadores de festas de aparelhagens tenha aumentado, principalmente pelas pessoas que antes se sentiam reprimidas em certos espaços culturais da sociedade ou então não consigam fazer parte do mesmo. As aparelhagens podem ser vistas como um ambiente onde é mais fácil ser reconhecido e acolhido e assim, melhor aceito pelo grupo.

Símbolos
Símbolos

Para Dominique Wolton (2004), a comunicação humana[2] é um processo que envolve a troca de informações, e utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este fim. Estão envolvidos neste processo uma infinidade de maneiras de se comunicar: duas pessoas tendo uma conversa face-a-face, ou através de gestos com as mãos, mensagens enviadas utilizando a rede global de telecomunicações, a fala, a escrita que permitem interagir com as outras pessoas e efetuar algum tipo de troca informacional.

No processo de comunicação em que está envolvido algum tipo de aparato técnico que intermedia os locutores, diz-se que há uma comunicação mediada.

Comunicar significa compartilhar ou “transmitir”. A diferença entre compartilhar e transmitir está no fato de que podemos transmitir sem compartilhar. As técnicas de maior sucesso são as que permitem proximidade com o compartilhamento físico (rádio e TV). O objetivo número um da comunicação é a partilha. A técnica mais humana de comunicação é o telefone, que ao mesmo tempo comunica e não comunica – no nível da compreensão. A comunicação está ligada ao amor: um quer falar e precisa de outro para ouvir. A comunicação é uma negociação constante.

Wolton (2004) afirma que comunicar não é apenas expressar, mas também deixar que o outro responda e que seja ouvido. Eis a interatividade. Deve haver diálogo. O verdadeiro elogio da comunicação é o diálogo. É também o seu desafio, sua dificuldade. O diálogo exige retorno.

A comunicação, em suas três dimensões, tem na cultura a mais importante. Seu desafio é organizar a coabitação, respeitando as identidades e relações, correndo o risco do choque entre cultura e identidade. Não há democracia sem comunicação, que mesmo com suas ambigüidades, mantém seu valor de emancipação, pois nos leva à alteridade. Pela coabitação, poderemos chegar à emancipação do ser humano. É pelo respeito ao diferente, à alteridade, à inteligência do outro que se realiza a emancipação. O maior desafio de todos é proteger a dimensão humanista da comunicação.

A Comunicação é o intercâmbio de informação entre sujeitos ou objetos. Deste ponto de vista, a comunicação inclui temas técnicos (por exemplo, a telecomunicação) e sociais (por exemplo, jornalismo, relações públicas, publicidade, audiovisual e meios de comunicação de massa).

As aparelhagens possuem uma ligação com o seu público (pessoas que freqüentam as festas de aparelhagens), caracterizando uma forma de comunicação. Um exemplo de comunicação social existente é a presença de telões instalados atrás das chamadas Unidades de Controle. Durante as festas, os telões são utilizados para a projeção de clipes, divulgando o trabalho das aparelhagens e os fã-clubes que possuem, assinalando esse tipo de comunicação como audiovisual. Quando os DJs lêem os recados que os freqüentadores mandam no decorrer das festas, também pode ser considerada uma forma de comunicação.

O símbolo é um recurso da mente para memorizar de modo simples e concreto uma realidade complexa e às vezes abstrata. O processo de comunicação exige o emprego de símbolos.

“Quanto mais o homem age em função ou como membro da comunidade, tanto mais se conduz por símbolos e deles necessita. Quanto mais integrada se acha uma comunidade, tanto mais uniformes são os seus símbolos. O símbolo deve traduzir uma só abstração, embora complexa. Do contrário começa a degradar”.

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[1] A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, de conversar, com vista ao bom entendimento entre pessoas.

[2] Comunicação social, própria dos seres humanos, baseada em sistemas de signos (a linguagem falada), em oposição à comunicação baseada em sistemas de instruções ou comandos, como a que se faz entre animais ou máquinas.

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1.1 - DIVERSIDADE ANÔNIMA

De acordo com Gabriel Cohn (1987), a massa[1] possui uma série de características específicas. Em primeiro lugar, seus participantes são originários de quaisquer profissões e de qualquer categoria social, podendo incluir pessoas com diferentes situações de classe, vocações diversas, múltiplas vinculações culturais e diferentes níveis de riqueza material. Em segundo lugar, a massa é um grupo anônimo, ou melhor, é composta por indivíduos anônimos. Em terceiro lugar, existe pouca interação ou troca de experiência entre os membros da massa. Em geral, encontram-se fisicamente separados e, por serem anônimos, não dispõem da oportunidade de se misturar como fazem os participantes de uma multidão. Finalmente, a massa possui uma organização frágil e não é capaz de agir de forma integrada e com a unidade que caracteriza a multidão.

As pessoas que vão para uma festa de aparelhagem geralmente não se conhecem, e o que atrai 33% dos entrevistados é a música e 28% se identificam mais com a aparelhagem, como consta na pesquisa em anexo.

É importante o fato de que a massa seja constituída por indivíduos pertencentes a mais ampla variedade de grupos e culturas locais. Isto significa que o objeto de interesse capaz de receber a atenção dos componentes da massa é algo situado fora do âmbito dessas culturas e grupos. Por outro lado, este objeto de interesse não é definido ou explicado em termos do universo mental ou das regras desses grupos particulares.

O objeto de interesse da massa é aquele em condições de atrair a atenção de pessoas para além de suas culturas locais e de suas esferas de vida, deslocando sua atenção para um universo mental mais amplo, e abrangendo determinados campos que não estão definidos nem envolvidos por regras, regulamentos e expectativas.

Neste sentido, a massa pode ser encarada como se fosse composta por indivíduos desvinculados e alienados que enfrentam objetos e áreas de vida interessantes, mas também complexos e difíceis de compreender e inserir em uma visão ordenada. Em conseqüência, diante de tais objetos, os participantes da massa muito provavelmente ficarão confusos e inseguros em suas ações. Demais, por não serem capazes de se comunicarem uns com os outros, exceto de formas limitadas e imperfeitas, os participantes da massa são forçados a agir separadamente, enquanto indivíduos.

As aparelhagens estão mais presentes na mídia e esta busca divulgar cada vez mais o movimento cultural, mas mesmo assim a maioria da massa que frequenta aparelhagem afirma que ainda há certo preconceito e essa afirmação pode ser negada diante de análises feitas em matérias jornalísticas publicadas no liberal. Isso mostrou que o público possui ainda uma certa alienação diante do preconceito que existia, pelo fato das aparelhagens serem vinculadas ao nome brega em sentido pejorativo.

Cohn (1987) ressalta ainda a onipresença e o poder potencial dos meios de comunicação de massa. Trata-se de um sentimento generalizado o fato de que os meios de comunicação de massa dispõem de um instrumental poderoso, que pode ser usado de modo positivo ou negativo e, na falta de controles adequados, a última possibilidade parece bem mais provável, porque estes constituem os canais de propaganda e os norte-americanos manifestam um terror especial em relação ao poder da propaganda.

Uma outra fonte de preocupação generalizada com o papel social dos meios de comunicação reside em seus supostos efeitos sobre a cultura popular e o gosto estético de seus públicos. Na medida em que o tamanho dos públicos aumentou, argumenta-se que o nível do gosto estético sofreu uma deterioração.

É provável que esses fatores constituam os três elementos organicamente relacionados no âmbito de nossa preocupação mais ampla com os meios de comunicação de massa. Em primeiro lugar, muitos temem a onipresença e o poder potencial desses meios. Indicamos que esse fato é parte de um medo indiscriminado face a um monstro abstrato, em conseqüência de insegurança quanto à posição social e a valores com frágil sustentação.

Em segundo lugar, há a preocupação com os efeitos atuais dos meios de comunicação sobre seus públicos extensos e, sobretudo, a possibilidade de que o avanço contínuo destes meios possa levar à derrota incondicional de faculdades críticas e a um conformismo irrefletido.

Finalmente, existe o perigo de que estes instrumentos tecnicamente desenvolvidos de comunicação de massa venham a constituir uma ampla abertura para a deterioração dos gostos estéticos e dos padrões de cultura popular. Existe uma base significativa capaz de fundamentar a preocupação no tocante aos efeitos imediatos provocados por esses meios.

Pesquisar “os efeitos” dos meios de comunicação sobre a sociedade é atiçar um problema mal colocado. Parece útil a distinção de três aspectos do problema e considera-los um de cada vez. Em princípio, o melhor é investigar o que sabemos a respeito dos efeitos provocados pela existência destes meios em nossa sociedade. Em segundo lugar, examinar os efeitos da estrutura específica que rege a propriedade e o funcionamento dos meios de comunicação neste país, estrutura que difere em escala apreciável das existentes em qualquer outro local. Finalmente, considerar um determinado aspecto do problema, que se vincula de maneira mais direta com as políticas e táticas que dominam a utilização destes meios, em favor de objetivos sociais definidos: nosso conhecimento em relação aos efeitos dos conteúdos particulares disseminados através dos meios de comunicação de massa.

Até há pouco tempo, a imagem da sociedade na mente da maior parte dos estudiosos da comunicação era de indivíduos atomizados, ligados aos mass media mas não entre si. A sociedade – a “audiência” – era concebida em termos de agregados de idade, sexo, classe social e similares, mas escassa preocupação era dedicada aos relacionamentos implícitos nisso, ou a relacionamentos mais informais. Não é que os estudiosos da comunicação de massa ignorassem que os membros da audiência têm famílias e amigos; é que eles não acreditavam que esses pudessem afetar o resultado de uma campanha. Desta forma, as relações interpessoais informais eram consideradas irrelevantes para as instituições da sociedade moderna.

Uma segunda estratégia consiste no estudo de pequenos grupos; com efeito, numerosos elos foram forjados entre a pesquisa macrocópica sobre os mass media e o estudo microscópico da comunicação interpessoal.

No entanto, ainda que a pesquisa de pequenos grupos possa oferecer muitas pistas para melhor compreensão do papel das relações interpessoais no processo de comunicação de massa, o seu foco incide exclusivamente sobre o que ocorre dentro do grupo. A terceira estratégia de pesquisa, então, consistia em procurar sugestões derivadas de pesquisas relativas à introdução de mudanças do exterior do sistema social.

Dos entrevistados, 61% afirmaram que a grande parte da influência de irem às festas de aparelhagem vem dos amigos, o que pode ser comprovado na pesquisa em anexo. E ainda de acordo com os mesmos, a mídia é a que menos influencia as pessoas a freqüentarem esses ambientes, sendo responsável apenas por 6% das pessoas estimuladas por ela.

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[1] Comunicação social dirigida a uma ampla faixa de público, anônimo, disperso e heterogêneo, atingindo simultaneamente (ou a breve trecho) uma grande audiência, graças à utilização dos meios de comunicação de massa.

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CAPÍTULO II - O PÚBLICO[1] E A INFLUÊNCIA DA OPINIÃO PÚBLICA NA IMAGEM DAS APARELHAGENS

De acordo com Childs (1967), a opinião pública é apenas uma coleção de opiniões individuais. Se conseguirmos descobrir como as opiniões pessoais se formam, saberemos como se forma a opinião pública. As opiniões são sempre expressões individuais da atitude. A crença de que há uma mente de grupo, uma entidade dissociada dos seres humanos individuais, foi totalmente abandonada.

Além disso, é necessário apresentar de novo a nossa definição de opinião. É meramente uma expressão, uma única expressão verbal da atitude. Toma sempre a forma de palavras escritas e orais. Mas todas as palavras que pronunciamos ou escrevemos constituem expressão de opinião? Não devemos fazer distinção entre afirmações de fatos e expressões de opinião?

“Sabe-se que nossas opiniões, bem como nossas personalidades, são o que são em virtude da interação das influências da hereditariedade e do ambiente… Homens não nascem radicais ou conservadores… Ao nascer, eles são apenas um conjunto de potencialidades. Isto não significa que não se possa predizer, até certo ponto, a cor da pele, o tipo de cabelos e alguns traços. E, todavia, é tão grande a influência do ambiente, que, mesmo com relação a essas características físicas, nossas predições podem malograr… O ambiente pode servir para reduzir as diferenças em alguns e aumenta-las em outros”. (CHILDS, 1967)

As festas de Aparelhagens são freqüentadas por diversas classes sociais, ou seja, o ambiente desse tipo de festa faz com que as diferenças sócio-econômicas diminuam, já que 48% dos entrevistados fazem parte da Classe Média, e 25% da Classe Alta. Esse público se mistura ainda com a Classe Baixa que corresponde a 27%, como é comprovado na pesquisa em anexo.

Poyares (1998) define imagem como aquela representação simplificada que emerge na mente, como síntese de uma ou várias sensações ou percepções. Não é um resultado matemático nem mesmo, necessariamente, o fruto de combinações lógicas. Sua natureza inclui a tônica da fragilidade, da sensibilidade forte, da instabilidade. Por conseqüência, não podemos exigir-lhe o que entendemos por justiça e equilíbrio. Também não esqueceremos que a imagem, apesar de produto da interação, é sempre um fenômeno individual, em cujos elementos de formação é possível exercer influência.

“ ‘Não há fatos imparciais’, dizem David Kroch e Ricard S. Crutchfield em seu estudo sobre a percepção da mensagem. “Os dados não têm uma lógica de si mesmos que resulte nas mesmas percepções e concepções para todas as pessoas. Os dados são percebidos e interpretados em termos das necessidades e emoções, personalidade e soma de conhecimentos, previamente formados no indivíduo percipiente”. O jornalismo levou algum tempo (quando os chefes de Redação insistiam gravemente em “objetividade”) para descobrir, como agora, que qualquer forma de relatar é sempre interpretativa, mesmo que a pesquisa corretamente forneça a maior abundância de fatos e dados”. (POYARES, 1998)

O homem vê e concebe sempre à sua imagem e semelhança e, quanto mais simples sua mente, tanto mais tende à comparação consigo mesmo. Essa tendência individual se transfere para o social e, uma vez neste campo, se manifesta através da opinião pública, que sempre procura transfigurar-se em pessoas, quer para se igualar, quer para se deixar conduzir (líder). É ainda como pessoa, como unidade psicossomática, que ele – o indivíduo da comunidade – se identifica como os apelos, as campanhas, os movimentos.

O público quer gente e não setores anônimos. Quer pessoas que, como ele, vivam, vibrem, sofram, amem, pequem, triunfem ou se glorifiquem.

Todas as organizações, entidades públicas ou privadas de certo porte, personalidades em posição de destaque perante o público precisam hoje cuidar da “imagem”. Essa imagem constrói-se ou destrói-se (óbvio, mas ameaçador) com palavras, atitudes, fatos e sistemas.

Como subsídio para quantos precisam lidar com jornalistas, a seguir os compromissos assumidos pelos jornais que fazem parte da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidade fundada em 1979 e sediada em Brasília, que responde por 92% do total da circulação dos diários do país:

- Manter sua independência;
- Sustentar a liberdade de expressão, o funcionamento sem restrições da imprensa e o livre exercício da profissão;
- Apurar e publicar a verdade dos fatos de interesse público, não admitindo que sobre eles prevaleçam quaisquer interesses;
- Defender os direitos do ser humano, os valores da democracia representaria e a livre iniciativa;
Assegurar o acesso dos leitores às diferentes versões dos fatos e às diversas tendências de opinião da sociedade;
- Garantir a publicação de contestações objetivas das pessoas ou organizações acusadas, em suas páginas, de atos ilícitos ou comportamentos condenáveis;
Preservar o sigilo de suas fontes;
- Respeitar o direito de cada indivíduo à sua privacidade, salvo quando esse direito constituir obstáculo à informação de interesse público;
- Diferenciar, de forma identificável pelos leitores, material editorial e material publicitário;
Corrigir erros que tenham sido cometidos em suas redações.

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[1] Relativo, pertencente ou destinado ao povo, à coletividade; conjunto de pessoas as quais se destina uma mensagem artística, jornalística, publicitária; agregado ou conjunto de instável de pessoas pertencentes a grupos sociais diversos, e dispersas sobre determinada área, que pensam e sentem de modo semelhante a respeito de problemas, gostos ou movimentos de opinião.

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2.1 - Barreiras Ultrapassadas

As Aparelhagens conseguem exercer uma influência sobre a opinião pública e vice-versa. A opinião pública controla as músicas que tocam durante as festas, de acordo o DJ Dinho, que diz que a seleção de músicas é feita respeitando o gosto musical do público que costuma freqüentar a aparelhagem, o que ele prefere ouvir e dançar. Ele afirmou também que essa seleção varia de uma festa para outra, de um ambiente para outro, ou seja, a Aparelhagem se adequa ao público formador da opinião pública. Essa afirmação também é comprovada pelo DJ Juninho:

“Eu costumo dizer que essa seleção musical é feita na festa, porque o teu termômetro é o público”.

O preconceito era constante nas festas de Aparelhagens, e podemos dizer que a opinião pública influenciou para que o mesmo venha diminuindo, já que a mídia é a que menos entusiasma o público a freqüentar as festas, correspondendo a apenas 6% dos entrevistados. Mas a mídia possui o seu papel no contexto atual, já que 81% do público utiliza os meios de comunicação para se informar sobre as Aparelhagens, restando apenas 19% que usa outras formas como amigos, faixas de divulgação e carros-som.

As barreiras do preconceito estão cada vez mais ultrapassadas, como se pode verificar na diversidade de classes sociais que freqüentam as festas, nos diferentes graus de escolaridade, que vão de analfabetos a pessoas que possuem pós-graduação.

Diante da análise feita com matérias jornalísticas publicadas no Jornal O Liberal, no período de quatro anos, percebeu-se que a divulgação de matérias sobre Aparelhagens cresceu consideravelmente com o passar dos anos, já que em 2003 apenas uma matéria foi publicada, e em 2006, esse número aumentou para treze reportagens, mostrando assim o reconhecimento que o movimento cultural atingiu e a evolução no cenário da música paraense.

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CAPÍTULO III – CULTURA ALIADA AO GOSTO POPULAR

Para caracterizar melhor este capítulo, o encadeamento de idéias e dos inúmeros conceitos sobre cultura é necessário para a melhor compreensão do que será retratado adiante. Explica porque as aparelhagens são consideradas um movimento cultural que se expande na sociedade local e cada vez mais é aceita como parte da cultura paraense.

Segundo Roque de Barros Laraia (2003), para a ampliação do conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes tópicos:

- A cultura, mais do que a herança genética determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.
- O homem age de acordo com os seus padrões culturais. Os seus instintos foram parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo por que passou.
- Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do que a agir através de atitudes geneticamente determinadas.
- A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.

Para incrementar ainda mais o conceito de cultura Laraia (2003) acrescenta que:

- “Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.”

- “Mudança cultural é primeiramente um processo de adaptação equivalente à seleção natural” (”O homem é um animal e, como todos os animais, deve manter uma relação adaptativa com o meio circundante para sobreviver. Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, o processo é dirigido pelas mesmas regras de seleção natural que governam a adaptação biológica” B. Meggers 1977).
Já para Ruth Benedict (2002), a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas.

A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante. Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de agressões físicas quando era identificado numa via pública e ainda é objeto de termos depreciativos. Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural. Esta atitude varia em algumas culturas. Entre algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto com um ser dotado de propriedades mágicas, capaz de servir como mediador entre o mundo social e o sobrenatural, e, portanto respeitado. Um outro exemplo de atitude diferente de comportamento desviante encontra-se entre alguns povos da Antiguidade, onde a prostituição não constituía um fato anômalo: jovens da Lícia praticavam relações sexuais em troca de moedas de ouro, a fim de acumular um dote para o casamento.

O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.

Podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças lingüísticas, o fato de mais imediata observação empírica.

O fato que o homem vê o mundo através de sua cultura como conseqüência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.

Benedict (2002) afirma ainda que o etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão. Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais.

Por muito tempo as aparelhagens eram vistas pela sociedade de forma marginal e para desmoralizar ainda mais esse movimento as pessoas preconceituosas criaram um esteriótipo de que quem frequenta esse tipo de festa são pessoas de má conduta. Com o passar dos anos esse preconceito foi diminuindo, mas as pessoas ainda acham que a mídia discrimina esse movimento cultural, porém como já foi constatado na pesquisa de campo que esse indicativo não procede.

Para Edson Coelho, editor do caderno Magazine do jornal O Liberal:

“…qualquer coisa que vem do povo, principalmente do Brasil, que vem da pobreza, eu acho que enfrenta preconceito. A mídia não inventou o preconceito, ela reflete o preconceito que existe na sociedade contra a pobreza. Então existe naturalmente um preconceito da sociedade contra aquilo que ela não gostaria de ser, que ela gostaria de evitar, com o qual ela não gostaria de conviver… esse preconceito existe, não só em relação à música mas como em qualquer outra coisa do povo. Antes o preconceito era maior, as aparelhagens agora, primeiro elas tão na mídia, tocaram por exemplo na Assembléia Paraense, que seria o oposto do tipo de palco que ela sempre tocou”.

A participação do indivíduo em sua cultura é sempre limitada; nenhuma pessoa é capaz de participar de todos os elementos de sua cultura. Este fato é tão verdadeiro nas sociedades complexas com um alto grau de especialização, quanto nas simples, onde a especialização refere-se apenas às determinadas pelas diferenças de sexo e idade.

Mas, qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. Isto porque, como afirmou Marion Levy Jr., “nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade todos os indivíduos igualmente bem socializados, e ninguém é perfeitamente socializado. Um indivíduo não pode ser igualmente familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade; pelo contrário, ele pode permanecer completamente ignorante a respeito de alguns aspectos”.

Porém, deve existir um mínimo de participação do indivíduo na pauta do conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os demais membros da sociedade. Todos necessitam saber como agir em determinadas situações e, também, como prever o comportamento dos outros. Somente assim é possível o controle de determinadas ações. Apesar disso tudo há sempre o risco de perda do controle da situação, porque “em nenhuma sociedade todas as condições são previsíveis e controladas”.

Cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável futuro mundo novo.

Para Antônio Augusto Arantes (2004), cultura é um processo dinâmico; transformações (positivas) ocorrem, mesmo quando intencionalmente se visa congelar o tradicional para impedir a sua “deterioração”. É possível preservar os objetos, os gestos, as palavras, os movimentos, as características plásticas exteriores, mas não se consegue evitar a mudança de significado que ocorre no momento em que se altera o contexto em que os eventos culturais são produzidos.

Para que se entenda isso, é preciso que se pense a cultura no plural e no presente e que se parta de uma concepção não normativa e dinâmica. O ponto de partida usual do trabalho do antropólogo é a observação direta de indivíduos se comportando face a outros indivíduos e em relação à natureza.

As pessoas falam umas com as outras, gesticulam, movimentam-se de determinadas maneiras, ocupam certos espaços e evitam outros, trocam com seus parceiros e participam de conflitos, desenvolvem suas atividades sexuais e de subsistência. A observação, prolongada e teoricamente treinada, desses e outros comportamentos e atividades, permite detectar regularidades.

Embora o equipamento biológico dos homens seja idêntico em toda parte, inclusive a despeito das chamadas “diferenças raciais”, essas regularidades variam de um grupo social para outro; variam mesmo as atividades que atendem às necessidades fisiológicas do homem, tais como o provimento de alimentação, do abrigo e do sexo. Evidentemente, atendendo a restrições de ordem pragmática, os vários grupos interpretam diferentemente o utilitário e o materializam segundo as suas múltiplas linguagens e concepções de mundo.

Essa diversidade, que se desenvolve em processos históricos múltiplos, é o lugar privilegiado da “cultura” uma vez que, sendo em grande medida arbitrária e convencional, ela constitui os diversos núcleos de identidade dos vários agrupamentos humanos, ao mesmo tempo em que os diferencia um dos outros. Pertencer a um grupo social implica, basicamente, em compartilhar um modo específico de comportar-se em relação aos outros homens e à natureza.

- A cultura se constitui de signos e símbolos; ela é convencional, arbitrária e estruturada.
- Ela é constitutiva da ação social sendo, portanto, indissociável dela.
- O significado é resultante da articulação, em contextos específicos, e na ação social, de conjuntos de símbolos e signos que integram sistemas.
- Em conseqüência disso, os eventos culturais devem ser pensados como totalidades, cujos limites são definidos a partir de critérios internos às situações observadas.
- Embora os símbolos culturais tenham existência coletiva, eles são passíveis de manipulação. Articulam-se no interior de uma mesma cultura, concepções e interesses diferentes ou mesmo conflitantes.
- Os eventos culturais não são “coisas” (objetos materiais ou não materiais), mas produtos significantes da atividade social de homens determinados, cujas condições históricas de produção, reprodução e transformação devem ser desvendadas.
- Os eventos culturais articulam-se na esfera do político, no sentido mais amplo do termo, ou seja, no espaço das relações entre grupos e segmentos socias.

A assim chamada arte do povo é caracterizada sempre pela negativa, por algum tipo de falta: ela é vista como “desprovida de qualidade artística”, como “tentativa tosca e desajeitada de exprimir fatos triviais”, é “ingênua”, “retardatária” e etc.

A chamada “arte popular”, produzida por um grupo profissional de especialistas (indústria cultural) era vista, por outro lado, como “mais apurada e apresentando um grau de elaboração técnica superior à primeira”. Não obstante, seu “objetivo supremo consiste em distrair o espectador em vez de formá-lo, entretê-lo e aturdi-lo, em vez de despertá-lo para a reflexão e a consciência de si mesmo. Ela abre ao homem a porta para a salvação ao refugiá-lo numa existência utópica e num eu alheio ao seu eu concreto”.

De acordo com Santos (1994), a cultura é um resíduo imune à ação do tempo, dos conhecimentos fundamentais do povo. A cultura é definida como lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho de sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica. Segundo essa definição de cultura, ela não é criada para ser vendida ou consumida, mas para ser vivida.

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3.1 - APARELHAGEM: RESULTADO DA CULTURA DE MASSA OU DA INDÚSTRIA CULTURAL

Cultura de massa e indústria cultural são conceitos diferentes que foram e são aplicados em épocas distintas. Por conta disso, Santos (1994) define a expressão cultura de massa como uma correlação com a sociedade de massa, uma característica especial da civilização urbana e industrial contemporânea, mas encontrada também em vários graus nas sociedades em via de industrialização.

E sob os efeitos da massificação da indústria e consumo culturais, as artes correm riscos de perder três das suas principais características:

1- de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas

2-de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo;

3-de experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e pelo consumo.

Para Fideli (1998), a massa não passa de uma confusão de indivíduos que não se movem, mas são movidos por paixões. A massa é sempre, necessariamente, passiva. Ela não age racionalmente e por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e idéias não estáveis. É sempre escrava das influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos que passam.

Para muitos teóricos da cultura de massa, a massa é como areia movida pelo vento, ou o rebanho nas mãos do pastor. Movem-na apenas desejos: o dinheiro, a facilidade, o luxo, o prazer e o prestígio.

Ser, pensar, agir, estar sempre, obrigatoriamente, “como os outros” é amoldar-se inexoravelmente a esse implacável “deus” chamado “todo mundo”. É renunciar à própria individualidade, trocando-a pelo amorfo e medíocre “eu coletivo” da multidão. Inserir-se na massa é socializar a si mesmo. A massa é, portanto, o povo degenerado.

Como por exemplo, as festas de grandes aparelhagens, as quais são filmadas e as imagens são veiculadas em programas televisivos e o público que é filmado tem a sensação de estar na mídia, logo é reconhecido, esse tipo de tática atrai ainda mais esse público, que geralmente são pessoas de classe econômica baixa que praticamente não teriam com tanta facilidade outra oportunidade de aparecer. A identidade pessoal passa a depender da mídia, em como ela mostra a imagem das pessoas, e estas sentem a necessidade de aparecer para serem reconhecidas ao olhar do outro.

Vitorino (1999) comenta que a Indústria cultural é uma expressão criada por Adorno na obra Dialética do Iluminismo (1944) em co-autoria de Horkheimer, filósofos da Escola de Frankfurt. A partir da década de 1970, a sociedade passou a ser chamada de pós-moderna, as artes foram submetidas a uma nova servidão, as regras do mercado capitalista e a ideologia da indústria cultural, baseada na idéia de prática de consumo de “produtos culturais” fabricados em série. As obras de arte são mercadorias, como tudo o que existe no capitalismo.

Diferenciando-se da “cultura de massa”, o conceito “indústria cultural” torna manifesto o equívoco de uma cultura produzida pela massa. Ao contrário, trata-se de um conjunto de preceitos para a massa – o que significa: seu meio de inserção é a passividade. Sua avaliação é de uma cultura exposta que leva a um pensamento único, o reino da uniformidade e da unanimidade.

A indústria cultural acarreta o resultado oposto ao massificar a cultura porque, em primeiro lugar, separa os bens culturais pelo seu suposto valor de mercado: há obras “caras” e “raras”, destinadas aos privilegiados que podem pagar por elas, formando uma elite cultural; e há as obras “baratas” e “comuns”, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o mesmo direito de todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão social entre a elite “culta” e a massa “inculta”.

Em segundo lugar, porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais, cada um escolhendo o que deseja como o consumidor em um supermercado. No entanto, basta darmos atenção aos horários dos programas de rádio e televisão ou ao que é vendido nas bancas de jornais e revistas para vermos que, por meio dos preços, as empresas de divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social pode e deve ouvir, ver ou ler.

A maneira como a matéria e manchete são escritas definem o consumidor e determinam o conteúdo daquilo a que terá acesso e o tipo de informação que poderá receber. Se comprarmos em uma mesma manhã, cinco ou seis jornais diferentes perceberemos que no mesmo mundo o qual vivemos - transforma-se em cinco ou seis mundos diferentes ou mesmo opostos, pois um mesmo acontecimento recebe cinco ou seis tratamentos diversos, a função do leitor que a empresa jornalística pretende atingir.

Em terceiro lugar, porque cria uma figura chamada “espectador médio”, “ouvinte médio” e “leitor médio”, aos quais são atribuídas certas capacidades mentais “médias”, certos conhecimentos “médios”, oferecendo-lhes produtos culturais “médios”. Ou seja, a indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolvê-lo com nova aparência, o que ele já sabe, já viu ou já fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova.

Para Thompson (2002), o papel das instituições da mídia é tão fundamental, e seus produtos se constituem em traços tão onipresentes da vida cotidiana, que é difícil hoje, imaginar o que seria viver num mundo sem livros e jornais, sem rádio e televisão, e sem os inúmeros outros meios através dos quais as formas simbólicas são rotineiras e continuamente apresentadas a nós.

“Dia a dia, semana a semana, jornais e estações de rádio e televisão nos apresentam um fluxo contínuo de palavras e imagens, informações e idéias, a respeito dos acontecimentos que têm lugar para além do nosso ambiente social imediato. Os personagens que se apresentam nos filmes e nos programas de televisão se tornam pontos de referência comuns para milhões de indivíduos que podem interagir um com o outro, mas que partilham, em virtude de sua participação numa cultura mediada, de experiência comum e de uma memória coletiva. Mesmo as formas de entretenimento que existem por muitos séculos, tais como a música popular e a competição esportiva, estão hoje entrelaçadas com os meios de comunicação de massa. Música popular, esportes e outras atividades são em grande parte mantidas pelas indústrias da mídia, que estão envolvidas não apenas na transmissão e apoio financeiro de formas culturais preexistente, mas também na transformação ativa dessas formas”. (THOMPSON, 2002)

As indústrias da mídia nem sempre desempenham um papel tão fundamental. O surgimento e desenvolvimento dessas indústrias foi um processo histórico específico que acompanhou o surgimento das sociedades modernas. As origens da comunicação de massa podem ser ligadas ao século XV, quando as técnicas associadas com a imprensa de Gutemberg foram assumidas por uma variedade de instruções nos maiores centros comerciais da Europa e exploradas para fins de produzir múltiplas cópias de manuscritos e textos.

Esse foi o início de uma série de desenvolvimentos que, a partir do séc. XVI até hoje, conseguiu transformar radicalmente as maneiras como as formas simbólicas foram produzidas, transmitidas e recebidas por indivíduos no curso de suas vidas cotidianas. É essa série de desenvolvimentos que denominam a midiação da cultura moderna. Esse é um processo que caminha lado a lado com a expansão do capitalismo industrial e com a formação do sistema moderno de estados-nação. Em conjunto, esses processos são constitutivos das sociedades industriais do ocidente. Eles são também processos que afetaram profundamente o desenvolvimento das sociedades industriais de outras partes do mundo, sociedades que no passado estavam interligadas a vários graus umas às outras e que estão e tornando cada vez mais interligadas hoje. A crescente interconexão das sociedades do mundo moderno é resultado dos mesmos processos – inclusive a midiação da cultura moderna – que configuraram o desenvolvimento social a partir do início da era moderna.

Lima (2000) comenta que para Adorno e Horkheimer na indústria cultural o indivíduo é ilusório, só é tolerado à medida que sua identidade sem reservas com o universal permanece fora de contestação.

“A indústria cultural pode fazer o que quer da individualidade somente porque nela, e sempre, se reproduziu a íntima fratura da sociedade”. (LIMA, 2000).

Portanto, as aparelhagens são consideradas um resultado uma cultura de massa aliada à cultura midiática, que é responsável pelo aumento dos mercados culturais e pelo crescimento e concepção de novas maneiras de absorver essa cultura. A cultura midiática proporciona às aparelhagens a divulgação do trabalho e das festas que acontecem, assim a massa segue a tendência de tornar as aparelhagens um movimento cultural reconhecido.

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3.2 - O CONFRONTO DA CULTURA POPULAR COM A CULTURA DE ELITE

A cultura popular tem suas raízes nas tradições, nos princípios, nos costumes, no modo de ser de um povo. A cultura popular pertence ao povo e dele se origina. É a expressão da oralidade passada ao longo do tempo. De acordo com Câmara Cascudo (1972) “é aquela sempre aberta a transmissão oral e coletiva, estórias e acessos às técnicas habituais do grupo, destinada à manutenção dos usos e costumes no plano do convívio diário”.

Ao lado da chamada cultura erudita, transmitida na escola e sancionada pelas instituições, existe a cultura criada pelo povo, que articula uma concepção do mundo e da vida em contraposição aos esquemas oficiais. Especialista em literatura popular brasileira, Oswaldo Xidieh, discute as características funcionais da cultura popular.

Umas delas é a coesão interna: cada hábito, crença ou técnica tem seu significado na economia do todo. Outra é a vivência não consciente, mas emotiva: quem vive o folclore não refletiu sobre a diferença existente entre seus hábitos e uma outra cultura, não folclórica. Uma outra característica da cultura popular, constatada por Xidieh, é a sua reelaboração constante. Os temas se refazem, nem tudo é herdado.

Quando a cultura popular entra em crise, quando se empobrece e desagrega, “os prejuízos que daí advém afetam a segurança subjetiva do homem que se reduz de seu papel de criado e renovador da cultura para o de consumidor”.

Na cultura popular, novo e arcaico se entrelaçam: os elementos mais abstratos do folclore podem persistir através dos tempos e muito além da situação em que se formaram. Assim, na metrópole, suas formas de pensar e sentir continuam organizando sistemas de referência e quadros de percepção do mundo urbano.

Tanto do ponto de vista histórico quanto do funcional, a cultura popular pode atravessar a cultura de massa tomando seus elementos e transfigurando esse cotidiano em arte. Ela pode assimilar novos significados em fluxo contínuo e dialético.

No século passado, vista como “cultura dos incultos”, a cultura popular já é sentida como diferente da erudita. O burguês crê viver “racionalmente” o progresso; já o homem do povo viveria miticamente as suas tradições.

As aparelhagens são uma mistura de cultura popular e cultura de elite. Percebe-se isso tanto no público quanto na preferência musical. Pessoas que estavam acostumadas a outros ambientes de festa agora freqüentam as aparelhagens onde existe uma mistura de classes sócio-econômicas.

Na pesquisa, em anexo, o ritmo brega ainda é a preferência do público que freqüenta as aparelhagens totalizando 69%, mas a segunda opção mais votada do público é a música eletrônica com 12%, caracterizando assim o encontro dois ritmos musicais, um regional e o outro que vem de outras culturas.

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CAPÍTULO IV - APARELHAGEM: UM FENÔMENO PÓS-MODERNO

Para analisar melhor este capítulo Santaella (2002) define como figura exemplar da cultura pós-moderna uma dinâmica de cultura midiática, que se revela como uma cultura de trocas, de misturas entre múltiplas formas, estratos, tempos e espaços da cultura.

A cultura midiática propicia a circulação mais fluida e as articulações mais complexas dos níveis, gêneros e formas de cultura, produzindo o cruzamento de suas identidades. Inseparável do crescimento acelerado das tecnologias comunicacionais, a cultura midiática é responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novos hábitos no consumo de cultura.

Inseparável também da globalização da cultura aliada à nova ordem econômica e social das sociedades pós-industriais globalizadas, a dinâmica cultural midiática é peça chave para se compreender os deslocamentos e contradições, os desenhos móveis da heterogeneidade pluritemporal e espacial que caracteriza as culturas pós-modernas.

Steven (2000) descreve a pós-modernidade como uma marca de nivelamento de hierarquias e um apagamento de fronteiras, efeito da explosão do campo da cultura, no qual o cultural e o social e o econômico deixam de ser facilmente distinguíveis uns dos outros.

Muitas dessas formas e práticas culturais atribuem-se à qualidade de elementos representativamente pós-modernos em si, embora possam ser formas e práticas que nunca passaram por alguma fase modernista reconhecível. Essas formas, ao que se parece, não necessitam da legitimação da teoria pós-moderna para gozarem da sua condição pós-moderna. Na cultura popular, como em outros campos, a condição pós-moderna não é um conjunto de sintomas simplesmente presentes num corpo de evidência sociológica e textual, mas um complexo efeito do relacionamento entre prática social e a teoria que organiza, interpreta e legitima as suas manifestações.

De acordo com Edson Coelho:

“…teve mais tecnologia, fez com o que o próprio trabalho das aparelhagens, primeiro pela sua originalidade, pela forma de fazer festas, e depois pela qualidade tecnológica e de invenção, de inventividade, que teve na construção da sua divulgação, contribuiu pra que fosse menor o preconceito, ainda que necessariamente ainda exista como qualquer coisa imediatamente identificada com o povo. O paraense inventou sua própria forma de fazer festa, não precisa imitar ninguém, ele criou sua própria forma. Essa ‘coisa’ de uma discoteca ambulante, onde se monta onde é necessário. Com o sucesso disso daí, mesmo à margem da mídia se possibilitou os investimentos, esse crescimento todo. Com a facilidade tecnológica, com essa coisa de CD, dos equipamentos serem todos mais baratos, isso aumentou ainda mais a estrutura, e facilitou que isso houvesse. Agora pra que, por exemplo, quinze anos atrás já havia essas paredes sonoras, então já havia sim dinheiro circulando, e já havia equipamentos, já havia um investimento, ainda que à margem da mídia”.

Michael Ryan (1998)[1] cita que os signos culturais tornam-se agentes culturais em si mesmos, criando novas substâncias, novas formas sociais, novos modos de agir e de pensar, novas atitudes. É nessa margem que a cultura, aparentemente autônoma e apartada por inteiro, gira e se torna uma força social e material, um poder de significação que desacredita todas as reivindicações de bases substantivas fora da representação, descrédito que se aplica à instituições políticas, normas morais, práticas sociais e estruturas econômicas.

Já para Mafessoli (2000) a condição pós-moderna implica dizer que Deus (e a teologia), o espírito (e a filosofia), o indivíduo (e a economia) cedem lugar ao reagrupamento. O homem não é mais considerado isoladamente. E mesmo quando admitimos, e eu teria a tendência de fazê-lo, a preponderância do imaginário, não devemos esquecer que se ele resulta de um corpo social e que, de retorno, volta a materializar-se nele.

Não se trata exatamente de auto-suficiência, mas de constante retroação. Toda a vida mental nasce de uma relação e de seu jogo de retroações. Toda lógica comunicacional se fundamenta nisto.

O neotribalismo é caracterizado pela fluidez, pelos ajuntamentos pontuais e pela dispersão. Assim é possível descrever o espetáculo nas ruas das megalópoles modernas. Características do social: o indivíduo podia ter uma função na sociedade, e funcionar no âmbito de um partido, de uma associação, de um grupo estável.

Características da sociabilidade: a pessoa (persona) representa papéis, tanto dentro de sua atividade profissional quanto no seio das diversas tribos de que participa. Mudando o seu figurino, ela vai, de acordo com seus gostos (sexuais, culturais, religiosos, amicais) assumir o seu lugar, a cada dia, nas diversas peças do theatrum mundi.

O culto do corpo, os jogos da aparência, só valem porque se inscrevem numa cena ampla, onde cada um é, ao mesmo tempo, ator e espectador. A acentuação está menos no que particulariza do que na globalidade dos efeitos. O retorno da imagem e do sensível, em nossas sociedades, remete certamente a uma lógica de tocar. O indivíduo não pode existir isolado, logo ele está ligado pela cultura, pela comunicação, pelo lazer e pela moda a uma comunidade. Trata-se, de algum modo, de um laço em que entrecruzamento das nações, das situações e dos afetos, formam um todo.

Sob esse aspecto, a vida pode ser considerada uma obra de arte coletiva. Seja ela de mau gosto, folclore, ou uma manifestação de “mass entertainment” contemporâneo. Tudo pode parecer futilidade oca e vazia de sentido. Entretanto, se é inegável que existe uma sociedade “política”, e uma sociedade “econômica”, existe também uma realidade que dispensa qualificativos, que é a coexistência social e que poderia ser a “forma lúdica da socialização”.

As aparelhagens podem ser consideradas um fenômeno pós-moderno porque além delas divulgarem a cultura e a música local, difundem também as músicas de outras culturas. Além disso, a aparelhagem é, literalmente, constituída de equipamentos desenvolvidos e fabricados em outras localidades. Como no caso da aparelhagem Tupinambá, que possui cerca de 200 alto-falantes, cada um com potência de 1.000 watts, além de amplificadores, equalizadores de som, crossovers, aparelhos de sonoplastia (instant replays), a mesa de operação, os notebooks, a iluminação do cenário que é feita pelos moving head, os troubles, os telões de acrílico, onde têm conexões ligadas à câmera que captura as imagens da festa, e também passam vídeo clipes. As caixas de som são feitas de compensado mais o revestimento de alumínio, assim como o altar sonoro (mesa de controle do DJ) é revestida também de aço-inox. Pelos nomes dos equipamentos já é possível observar que são materiais estrangeiros, o que é um exemplo de que a globalização têm influência no local.

Edson Coelho reafirma que a utilização desses equipamentos e o alto investimento feito em tecnologia, demonstra que as aparelhagens se profissionalizaram tanto tecnicamente como também na divulgação de suas festas, que também pode ser feita através dos bregas, já que o ritmo é parceiro dessas festas.

A comunidade, o espaço e a dinâmica giram em torno do nascimento e da morte dos grupos que formam a comunidade e vivem nesse espaço. A sociedade assim compreendida não se resume numa mecanicidade racional qualquer. Ela vive e se organiza através dos reencontros, das situações, das experiências no seio dos diversos grupos a que pertence cada indivíduo. Estes grupos se entrecruzam uns com os outros e constituem, ao mesmo tempo, uma massa indiferenciada e polaridades muito diversificadas.

A modernidade, ao mesmo tempo em que multiplicou a possibilidade das relações sociais, esvaziou-as, em parte, de todo conteúdo real. Esta foi, em particular, uma característica das metrópoles modernas. Já a pós-modernidade, tende a favorecer, nas megalópoles contemporâneas, ao mesmo tempo o recolhimento do próprio grupo e um aprofundamento das relações no interior desses grupos. Fica entendido que esse aprofundamento não é sinônimo de unanimismo, e tanto é assim que o conflito desempenha aí o seu papel. Aliás, não é essa questão. Basta reter que a atração e a repulsa são causas e efeito do relacionismo.

A confiança que se estabelece entre os membros do grupo se exprime através de rituais, de signos de reconhecimento específicos, que não têm outro fim senão o de fortalecer o pequeno grupo contra o grande grupo. A reflexão sobre o segredo e seus efeitos, leva a duas conclusões que podem parecer paradoxais. Por um lado assistimos à saturação do princípio de individualização, com as inevitáveis consequências econômicas que resultam daí. Por outro, é possível ver como se projeta um desenvolvimento da comunicação.

É esse processo que permite constatar que a multiplicação dos microgrupos só é compreensível num contexto orgânico. Tribalismo e massificação caminham lado a lado. Ao mesmo tempo, na esfera da proximidade tribal, bem como na esfera da massa orgânica, é utilizado, cada vez mais, o recurso da “máscara”. Quanto mais se avança mascarado mais se fortalece o laço comunitário.

Com efeito, trata-se de um processo circular: para se reconhecer é necessário o símbolo, isto é, a duplicidade, que engendra o reconhecimento. É assim que se pode explicar o desenvolvimento do simbolismo sob suas diversas: modulações, tal como podemos observar em nossos dias. O fato de constituir uma “panelinha”, tal como ocorre nas redes sociais, não significa o fim do estar-junto, mas simplesmente que este foi investido em outra parte que não as formas reconhecidas pela legalidade institucional. O único problema sério é o do limiar a partir do qual a abstenção, o fato de constituir uma “panelinha”, provoca a implosão de uma dada sociedade.

As “tribos” de que nos ocupamos podem ter um objetivo, uma finalidade, mas não é isso o essencial. O importante é a energia dependida para a constituição do grupo como tal. Dessa maneira, elaborar novos modos de viver é uma criação pura para a qual devemos estar atentos. A constituição em rede dos microgrupos contemporâneos é a expressão mais acabada da criatividade das massas. Assistimos ao desenvolvimento das “Aldeias da cidade”, quer dizer, dessas relações face-a-face que caracterizam as células de base. Isso pode ocorrer em função das solidariedades, da vida cotidiana, das práticas culturais, ou mesmo das pequenas associações profissionais.

“Se a tribo é o penhor da solidariedade, é também a possibilidade do controle, e ela pode ser, também, a fonte do racismo aldeão. Ser membro de uma tribo pode levar alguém a sacrificar-se pelo outro. O tribalismo, sob seus aspectos mais ou menos reluzentes, está impregnando cada vez mais os modos de vida. Isto é, através de bandos, clãs e gangs ele recorda a importância do afeto na vida social. Existe um constante movimento de vaivém das tribos e a massa se inscreve num conjunto que tem medo do vazio. Esse “horror vaciu” que se manifesta, por exemplo, nas praias, nas lojas, em inúmeras ruas de pedestres, é uma ambiência que talvez lembre o ruído permanente, a agitação desordenada das cidades mediterrâneas e orientais. Seja como for, nenhum domínio é poupado por esta ambiência, e se nos lembrarmos, resumindo e concluindo, que o teatro é um bom espelho para apreciar o estado de uma dada sociedade, basta lembrar, por um lado, o que a agitação de nossas cidades deve aos diversos espetáculos de rua”. (MAFESSOLI, 2000)

Isso quer dizer que a multiplicidade dos grupos, fortemente unidos por sentimentos comuns irá estruturar uma memória coletiva que, na sua própria diversidade, é fundadora. Esses grupos podem ser de diversas ordens (étnicas, sociais), mas, estruturalmente, é sua diversidade que assegura a unidade da cidade.

Como é no caso do movimento cultural aparelhagens. Elas fazem com que as pessoas acabem cultuando e valorizando a cultura local. E nessas festas, pode-se comparar os microgrupos, que são valorizados, com os fã-clubes das aparelhagens. Já que estas acompanham as festas e possuem o mesmo propósito. Os fã-clubes são diferenciados da massa, pois é um público fiel das aparelhagens.

O termo “laço” (familiar, de amizade, etc.) deve ser compreendido em sua acepção mais estrita, isto é, a da necessidade, aquilo que a associação mutualista medieval enumerava sob a rubrica “obrigação”. A ajuda mútua, sob suas diversas formas, é um dever, pedra de toque do código de honra, muitas vezes não dito, que rege o tribalismo. É ele que induz esse exclusivismo, que de várias maneiras, desconfia de tudo que não é familiar.

Podemos considerar que existe um reconhecimento desses grupos uns pelos outros. O exclusivo não significa a exclusão, dessa maneira, um reconhecimento produz um modo de ajustamento específico. Pode ocorrer conflito, mas este se exprime em função de certas regras, ele pode ser perfeitamente ritualizado. A heterogeneização é a regra, que o pluriculturalismo e o polietnismo caracterizam, da melhor maneira, as grandes cidades contemporâneas, podemos pensar que o consenso seja, antes, o resultado de um ajustamento “afectual” a posteriori, do que uma regulagem nacional a priori.

Nesse sentido, é necessário uma grande atenção ao que, por comodismo, chamamos de marginalidade. Essa é, certamente, o laboratório dos modos de vida futuros, mas a (re) novação dos ritos de iniciação dos grupos sobre os quais falamos só toma o lugar dos antigos ritos vazios de sentido, à força de terem sido tão uniformizados. A condenação prematura não é suficiente, a condescendência tampouco. É necessário compreender que esses ritos mereciam uma análise específica. Na verdade, sua vivacidade demonstra que está emergindo uma nova forma de agregação social. Talvez seja difícil conceitualizá-la, mas com a ajuda de antigas figuras, certamente será possível esboçar seus contornos. Daí a proposição das metáforas de tribos e de tribalismo. Essa metáfora traduz muito bem o aspecto emocional, o sentimento de pertença e a ambiência conflitual que este sentimento induz. Ao mesmo tempo, ela permite ressaltar, além desse conflito estrutural, a busca de uma vida cotidiana mais hedonista, isto é, menos teleológica, menos determinada pelo “dever-se” e pelo trabalho.

Em torno dos valores que lhes são próprios, os grupos sociais dão forma a seus territórios e a suas ideologias. Em seguida, por força das circunstâncias, são constrangidos a ajustar-se entre eles. Esse modelo macrossocial, por sua vez, se difracta e suscita uma mírade de tribos que obedecem às mesmas regras de segregação e de tolerância, de repulsa e de atração.

No quadro de uma sociedade complexa, cada um vibre a série de experiências que não têm sentido senão dentro do contexto global. Participa de uma multiplicidade de tribos, as quais se situam umas com relação às outras. Assim cada pessoa poderá viver sua pluralidade intríseca, ordenando as suas diferentes “máscaras” de maneira mais ou menos conflitual, e ajustando-se a outras “máscaras” que a circundam. Trata-se de uma construção que, como certas pinturas, valorizam todos os seus elementos, sejam eles os mais minúsculos ou mais insignificantes.

Existe cada vez mais um vaivém constante entre a tribo e a massa. Ou ainda: no interior de uma matriz definida se cristaliza uma infinidade de pólos de atração. Numa ou noutra dessas imagens, o cimento da agregação - que poderíamos chamar experiência, vivido, sensível, imagem - é o cimento composto pela proximidade, pelo afetual (ou pelo emocional), aquilo que a nos remete a auréola, o minúsculo, o cotidiano. Assim sendo, a rede das redes se apresenta como uma arquitetônica que não vale senão pelos elementos que a compõem. Reencontramos aí a flexibilidade, a mobilidade, a experiência, o vivido emocional, o sentimento coletivo.

Parceria, assim, que, por um desses curtos-circuitos habituais nas histórias humanas, a sociabilidade pós-moderna estaria recuperando alguns valores no mínimo arcaicos. O paradigma da rede pode, então, ser compreendido como a reatualização do antigo mito da comunidade. Mito, no sentido de que alguma coisa que, talvez, jamais tenha existido, age, com eficácia, no imaginário do momento. Daí a existência dessas pequenas tribos, efêmeras em sua realização, mas que nem por isso deixam de criar um estado de espírito que parece destinado a durar.

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[1] Postmodern Politics, Theory, Culture And Society, 1998, p. 560-561

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4.1 - Brega: O Ritmo que Embala as Noites Paraenses

O Brega ganhou força de modismo e hoje serve para rotular pessoas e objetos, sempre com tom pejorativo. E, como toda novidade que surge ou ressurge, provocou reação rápida, resumida numa simples palavra: brega.

Sucesso e preconceito – Sentimentalismo exacerbado não é fato novo na música brasileira, mas não causou polêmica enquanto se manteve restrito a certos círculos e só começou a ganhar manchetes e espaço nas discussões, quando invadiu casas de espetáculos consideradas “de melhor gosto” por certa elite, como as paulistas 150 e Palace, e as cariocas Canecão e Asa Branca.

As rádios FMs abriram espaço para um repertório mais romântico do brega. O brega obedece a algumas características, como emprego de estereótipos ou clichês, artificialismos (pretende ser o que não é), exagero e uso “fora do lugar”. Numa visão mais geral, o romantismo, principalmente na música, é de mau gosto quando se baseia exclusivamente em estereótipos e vira chique quando é objeto de elaboração mais original, sem apelos fáceis ao consumismo.

Depois do enfraquecimento do movimento musical Jovem Guarda na década de 60 a 70, seguiu-se o gênero popular (povão), no cenário da música nacional. E o Brasil foi descobrindo uma grande diversidade de ritmos, que posteriormente viria à tona, como a lambada, o axé music, sertanejo, forró.

E mesmo assim vários novos cantores surgiam, ainda sob influência da Jovem Guarda, mas desconhecidos da grande mídia e por sua vez (com a exceção de alguns, entre eles o cantor Reginaldo Rossi), eram inexistentes para o público nacional.

Justamente por esses cantores não fazerem parte de nenhum movimento definido, com apresentações esporádicas e isoladas por todo o Brasil, este é apenas um dos motivos pelo qual a maioria desses cantores, ficaram no anonimato.

O teor destas composições, geralmente era ligado a desilusões amorosas (traições), e/ou os motivos pelo qual levavam um homem a embriagar-se e etc. Isso tudo era encarado pelo público como algo engraçado, que ajudava a descontrair o estressante dia-a-dia.

No Pará, nos anos 80, houve o primeiro “Movimento do ritmo Brega”, encabeçado por famosos cantores, a maioria com gravadora nacional, como: Alípio Martins (In Memoriam), Juca Medalha, Luiz guilherme, Ted Max, Mauro Cota, Francis Dalva, Míriam Cunha, Carlos Santos, Ari Santos, Os Panteras, Waldo César, Solano e seu conjunto, Vieira e Banda, Fernando Belém, Beto Barbosa, Ditão (In Memoriam), os maranhenses: Ribamar José, Beto Douglas e Adelino Nascimento (moraram e gravaram seus primeiros discos no Pará) e outros.

No final dos anos 80, já sem o apoio da mídia, principalmente as rádios, o movimento, enfraquecido, dependia apenas das aparelhagens (espécie de aparelho de som com proporções gigantes) como: Rubi, uma das mais tradicionais - Tupinambá, Itamarati, Guanabara (as mais atuais: Super Pop Som, Príncipe Negro, Crocodilo, Ciclone etc.) - que tinham, e tem, em seu repertório 80% de músicas de produção local, mais especificamente o Brega - publicidade sonoras, e de poucos cantores, que apesar de muitas dificuldades e obscuridade, continuaram no cenário musical paraense.

No início da década de 90, em meio ao surgimento do Axé Music no cenário musical, o Pará também se adequou à moda, pois o carimbó ritmo legitimamente paraense não era valorizado, como atualmente, pela maioria dos artistas locais, e nem pela imprensa paraense e consequentemente pelo próprio público.

Com a atenção do público paraense e de quase todo Brasil voltado para o axé, durante uns seis anos o Brega saiu da mídia refugiando-se, nas aparelhagens.

Na época, não houve qualquer união ou iniciativa por parte dos músicos alternativos, das pessoas ligadas a cultura, críticos musicais e governantes para preservar nossa identidade Musical.

Em 1995, o Brega voltou com a música “A Nuvem”, do cantor e compositor Roberto Villar, trazendo algumas reformulações no ritmo, através dos músicos: Chimbinha (guitarra), Tonny Brasil (teclados) e entre outros. E com o lançamento do CD “Ator Principal” (O Papudinho), de Roberto Villar.

Mudanças mais perceptíveis: Aceleração considerável do pit (ritmo), maior desenvoltura, ousadia e suingue na execução do contra baixo, a troca da clave por outros instrumentos percussivo de maior expressão e a inserção de mais guitarras sob influências musicais, provindas do Caribe, “Guianas Francesas, Trinidad Tobago, cuba e adjacências”, dando mais suingue, tornando a música mais sensual e alegre ao dançar.

O ritmo reconquistou o povo paraense e retomou seu espaço na mídia local de uma maneira mais forte que nos anos 80. Começou a “ganhar” outros estados do Norte do Brasil, atraindo novos adeptos (do então rebatizado “Brega Pop”), como o cantor Wanderley Andrade, que se apresentou em vários programas de rede nacional, Kim marques, Alberto Moreno, Edilson Moreno, Banda Xeiro Verde, a Baiana Rosemarie e outros.

Em 1997, a TV Liberal começou a divulgar as festas de Fernando Belém no Brega Pai d’égua da casa noturna Xodó. Logo depois, as festas viraram reportagem de TV. Quando a TV Cultura de São Paulo cobriu um festival de música de câmara e a produção do Zuera (programa da Liberal FM). Até que a rádio Liberal FM tirou o ritmo da madrugada, pois a rádio percebeu que o ritmo estava alavancando a audiência, e colocou no horário nobre, criando um programa de discussão sobre a nova música, nas tardes de domingo, já que o ritmo é inspirado na Jovem Guarda, para dar voz a todos os que faziam aquele novo ritmo. Era o Zuera Liberal, comandado por Jorge Reis, Rosenildo Franco e Marquinho Pinheiro.

Em 1996 e 97, surgiu então uma nova safra de compositores adaptados ao “novo ritmo”, como: Tonny Brasil, Kim marques, Edilson Moreno, Adilson Ribeiro, Jr. Neves, Nilk Oliveira, Edinho e Alberto Moreno. O romântico Marcelo Wall, Tarcísio França, e posteriormente, Daniel Delatuche, Mário Senna, João Paulo, Markinho(e banda), Sandro Aragão, Josiel Carvalho, Jocel Penaffor e etc.

O movimento tornava-se mais forte e cada vez mais quebrava os tabus impostos por alguns setores, ainda existente, da imprensa e da própria sociedade elitista, atraindo mais cantores e compositores com todas as influências musicais possíveis: Rock, MPB, pagode e etc. Dando maior diversidade ao gênero.

Com outros intérpretes como: Joba, Lenne Bandeira (atualmente dividindo os palcos com a cantora Mylla Carvalho na Banda Companhia do Calypso), Simone Faoli e Suzane Faoli, Jorge Silva e Jade da Banda Sayonara, Markinho e Banda, Gerson Thirrê, Joelma da Banda Calypso, Suelene, Edilson Moreno, Aninha, Bosco Guimarães, Carla Maués, Fábia Lenizze da Banda Cajuí, Sandro Aragão, Chyco Salles e etc.

Exemplo de programas regionais que fizeram sucesso, no retorno do “BREGA POP” em todo Pará:

ALÔ BELÉM na 99 FM com Vicente Figueira que juntamente com Hilbert Nascimento, o Binho, foram os primeiros a apostarem na reformulação do ritmo que também teve a apresentação de Aldrin Gonçalves.
BREGA PAI D’ÉGUA na RAULAND FM com Fernando Belém.
ZUÊRA na LIBERAL FM com Jorge Reis e Markinho Pinheiro.
NA BATIDA na Rauland FM com DJ Dinho.
Programa TV CIDADE na TV BOAS NOVAS com o veterano turbilhão Everaldo Lobato.
BREGA MANIA na RAULAND FM com Heloisa Hühn / Nonato Pereira.
TÁ BONITO TÁ BONITO na Marajoara FM com Ari Santos.
GALERA DAS APARELHAGENS, na TV Rauland, com Rodrygo Lisboa

OS ATUAIS:

Programa CARLOS SANTOS NA TV exibido na TV RBA e no canal 50 com Carlos Santos.
Programa MEXE PARÁ na Marajoara FM com Silvinho Santos.
METENDO BRONCA na TV RBA, apresentado por Luís Eduardo Anaice.
NA FREQUÊNCIA NA TV, na TV Rauland, com DJ Dinho.
PARÁ SHOW na TV Rauland, com Silvia Gil.
NA ONDA na 99 FM, com Aldrin Gonçalves e DJ Alex.
FESTA POP na Rauland FM, com os DJS Élison E Juninho.
BALADA SHOW na Rádio Marajoara, com os DJs Edílson e Edielson.
BALANÇO BELÉM na Rádio Belém FM, com Nic Medson.

O ritmo Brega teve várias aparições, como na TV Liberal-PA/Globo (Fantástico e Ana Maria Braga), Rede Record, TV Bandeirantes, MTV e várias Revistas Nacionais.

As bandas que fizeram e fazem sucesso com o ritmo Brega são: Calypso, Sayonara (uma das mais tradicionais, com mais de 45 anos de existência), Tanakara, banda Pará kalyente, Banda Orlando Pereira, Banda da Loirinha (Recife), Banda Beijo de Moça, Banda Halley, Banda Fruto Sensual, Banda Furacão, Banda Mais Biss, Banda Fruta Quente, Vendaval (Maranhão), As Leoas (São Paulo), Xeiro Verde, Tempero da Tribo, Banda Kassikó, Companhia do Calypso (Pará / Recife) e outras.

Se a letra falar de amor, que é uma linguagem universal, de uma forma “suave”, uma produção moderna e de qualidade, explorando a dança de uma maneira respeitosa, podendo, o ritmo, ser exportado, seria o Calypso[1] do Pará.

Se for uma letra sem pretensão literária, apenas pra dançar e se divertir, como os “Bregas” de aparelhagens (Espécie inteligente de Marketing), melô da sogra, brega country, os “Bregas” do: fusquinha, do canoa, do rupinol (ruhypnol), do citotec, Chico Preto, e muitos outros, seria o bom e velho “BREGA”.

Em 2002, surge o TECNOBREGA. Estilo de consumo musical das periferias de Belém e do interior do Pará.

O tecnobrega é a nova evolução de um dos estilos mais populares que a música popular brasileira já produziu. Esse estilo musical toca nas rádios locais e nas festas de aparelhagem, que são os grandes bailes da periferia paraense, com equipamento gigantesco formado por centenas de amplificadores, televisores, teclados, “samplers”, tudo empilhado em formato de totem tribal eletrônico. Os DJs das aparelhagens -equipes de som que levam nomes como Rubi ou Treme-Terra Tupinambá tocam de tudo.

Vista da Unidade de Controle em uma Festa de Aparelhagem
Vista da Unidade de Controle em uma Festa de Aparelhagem

Os primeiros sinais do tecnobrega foram ouvidos no verão de 2002, mas tomou realmente conta das festas de aparelhagem em 2003. É o velho brega, com batida mais acelerada, feito só com sons de computadores.

A música circula mais como bytes do que como objetos reais que podem ser comprados e manipulados no mundo “não-virtual”. Os músicos não têm mais gravadoras nem o custo de prensar os discos, imprimir as capas ou distribuir os produtos - esse custo todo fica por conta dos camelôs e seus sistemas não-oficiais de indústria e comércio. O tecnobrega assumiu a pirataria como forma de divulgação.

Os músicos vivem das apresentações ao vivo. As bandas do tecnobrega precisam da divulgação nas rádios, nas aparelhagens e no camelô para fazerem sucesso e serem contratadas para shows. Por isso seus grandes sucessos são metamídia: as músicas elogiam DJs, programas de rádio, como o “Mexe Pará”, e de TV, aparelhagens, fã-clubes de aparelhagens. E assim todo mundo encontra seu devido lugar numa nova cadeia produtiva, totalmente descolada da economia oficial.

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[1] O Calipso (grafia original) é um ritmo, bastante percussivo e originário do caribe e países próximos. Seria uma fusão de culturas de diversos povos

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4.2 - Da Periferia aos Grandes Centros Urbanos

De acordo com o artigo de Antonio da Costa (2004), as aparelhagens são Empresas de sonorização voltadas especialmente para a realização de festas de brega. Normalmente de propriedade e de administração familiar, as aparelhagens passam de pai para filho, além do que suas diversas funções de gerenciamento são divididas entre os membros do núcleo familiar masculino: realização de contratos com casas de festa, controle financeiro, transporte do equipamento, reparo, revisão e atualização do equipamento sonoro, dentre outros.

As aparelhagens são em geral classificadas como de pequeno, médio ou grande porte por meio de sua potência sonora, embora conte também para isso o valor dos contratos para festas, sua popularidade (por exemplo, a quantidade de fã-clubes que a seguem) e suas ligações com os outros empresários: donos de casas de festa e festeiros (contratantes particulares de festas). No sentido estrito, a aparelhagem é o equipamento sonoro composto de uma unidade de controle e seu operador (o DJ), que possibilita o uso de diversos recursos e alta qualidade na emissão musical, e suas caixas de som, que comportam diversos alto-falantes e tweeters, agrupados no formato de colunas de 3 a 6 metros de altura.

Unidades de Controle e Caixas de Som
Unidades de Controle e Caixas de Som

O DJ se destaca na festa como o “astro” representante da aparelhagem, o controlador que fica de frente para o público, selecionando as músicas a serem tocadas, acionando as vinhetas que fazem propaganda da própria aparelhagem entre e durante as músicas, anunciando a presença de pessoas ilustres, dos fã-clubes e de seus amigos na festa e animando o público a dançar as músicas, incitando a sua participação de forma intensa na festa.

Os fãs-clube são uma modalidade recente do relacionamento emergente do público apreciador do brega com as aparelhagens mais conhecidas no interior do circuito. No entanto, as preferências do público por determinadas aparelhagens e a escolha de freqüência a determinadas festas por conta da apresentação de aparelhagens específicas é uma prática recorrente desde muito antes da consolidação do circuito bregueiro. Na realidade, os fã-clubes representam uma aproximação maior entre as estratégias empresariais dos donos das aparelhagens e a resposta do público deste circuito ao seu poder de atração.

Exemplo de Fã-Clube, adoração: Brasilândia, Safadões (Fã-Clube do Tupinambá) e a Logomarca do Fã-Clube
Exemplo de Fã-Clube, adoração: Brasilândia, Safadões (Fã-Clube do Tupinambá) e a Logomarca do Fã-Clube

A novidade relativa à sua presença é de que os fã-clubes se distanciam do tipo comum de participante das festas e, ao mesmo tempo, apesar de sua proximidade dos profissionais (especialmente donos de aparelhagem, DJs e outros funcionários das empresas de sonorização), eles permanecem situados fundamentalmente no plano do lazer.

A referência anterior ao “participante típico das festas de brega” toma como base, na verdade, a classificação proposta por Silva (1992), que em seu estudo sobre o interesse pela música brega em Belém identificou três tipos de público do universo do brega:

a) O público cativo: formado em sua maioria pelos segmentos pobres, ou de sua origem, para as quais a música brega faz parte de seu universo sócio-cultural. Trata-se de um público que não só vai às festas para dançar sobre o ritmo da música, mas adquire discos desse estilo e ouve programas com predomínio da mesma, com a finalidade de ‘curtir’, atualizar-se em relação aos sucessos recém-lançados etc. A música aqui, faz parte de uma apreensão total do universo cultural do indivíduo;

b) O público opcional: aquele que ouve e dança a música brega por opção, sem no entanto adquirir discos como o descrito anteriormente. Aqui incluem-se pessoas de formação universitária que foram, de algum modo, educadas ouvindo esse estilo de música;

c) O público momentâneo: formado por pessoas de classe média, quase sempre de formação universitária, que vão às festas para dançar, mas não têm o brega como consumo cultural. É o público de MPB que freqüenta boates de classe média, nas quais a música brega faz parte do repertório da festa.

Os fã-clubes, além de público cativo, constituem um tipo de inserção de forma inteiramente especializada e integrada ao seu funcionamento mais abrangente na cidade. De certa forma, os membros dos fã-clubes são “especialistas” nas festas de brega. Eles representam uma modalidade de participação típica neste circuito, uma forma de integração mais intensa com as aparelhagens e o seu calendário de apresentações em diversos pontos da cidade e em cidades vizinhas à Belém.

Os fã-clubes desfrutam as festas e ao mesmo tempo são uma importante atração destes eventos. Ao mesmo tempo em que estão integrados às aparelhagens, representando a empresa, ressalta-se a sua autonomia quanto ao seu funcionamento. Eles são parte integrante e ao mesmo tempo, espetáculo do circuito bregueiro.

Em grande parte, os fã-clubes são originários do hábito de acompanhar as apresentações de aparelhagens específicas desenvolvido por determinados grupos de pessoas. Trata-se de uma forma de sociabilidade desenvolvida a partir da freqüentação às festas de brega como uma prática de lazer. Normalmente os fã-clubes surgem por conta das apresentações bem-sucedidas de uma aparelhagem num determinado bairro (principalmente as aparelhagens de grande porte), criando espaço para o aparecimento de “admiradores” desta aparelhagem, ou seja, aqueles que se mobilizam especialmente para participar das suas festas.

Por serem consideradas empresas, as aparelhagens precisam de um alvará de licença para poder tocar e este é renovado todo ano. Além disso, toda festa precisa de uma licença para tocar, que atualmente custa R$ 120,00. E o órgão responsável pela fiscalização é a Divisão de Polícia Administrativa do Pará (DPA).

De acordo com a DPA[1], estão cadastradas cerca de 420 aparelhagens, distribuídas nas cidades: Belém, Ananindeua e Marituba. As que fazem maior solicitação de festas são: Tupinambá, Rubi, Ciclone, Super Pop Som, Brasilândia, Rubi Saudade, Meteoro, Pop Saudade, Santos, Alvi Azul, Líder Som, Impala, Itamaraty, Diamantina, Alternativa, Luck Som, J. Som e Jacksom. O limite de decibéis permitido é de 55 de dia e 50 de noite, de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

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[1] Em anexo

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4.3 - História das Aparelhagens: Tupinambá, Super Pop, Rubi e Brasilândia

TUPINAMBÁ

De acordo com o DJ Dinho, o Tupinambá já existe há mais de trinta anos. E ele surgiu em Abaetetuba, quando Andir Corrêa, o patriarca da família fazia as festas, principalmente no interior da cidade, na região das Ilhas. Depois toda a família teve que se mudar pra Belém devido o trabalho.

Com isso, Andir trouxe também a aparelhagem, até então na época não era tão conhecida, e pra conciliar o trabalho dele com a aparelhagem, o DJ Dinho, aos 12 anos, começou a trabalhar na aparelhagem para poder ajudar o pai.

O Tupinambá já teve os seguintes slogans: Treme-Terra Tupinambá, Novíssimo Treme-Terra Tupinambá e hoje em dia está com o nome de Fantástico Tupinambá.

Atualmente possui 38 funcionários. A sua potência sonora total equivale a cem mil watts. O ingresso das festas custa em média de R$10,00 e cada festa é freqüentada por um público em torno de 5 mil pessoas. São vários fã-clubes, entre eles: Os Safadões, Equipe Rex, Equipe Tubarão, Bad Boys, Galera da Moto, Galera do Laser, Galera Tô Nem Vendo, Galera do Centavo, Galera do Chop, Fura-Olho e outras.

Os DJs do Tupinambá são: DJ Dinho, Toninho, Wesley , Patty Potência e Agatha.

Festa do Tupinambá
Festa do Tupinambá

SUPER POP

A aparelhagem Super Pop existe há quase 18 anos e já teve quatro denominações, entre elas: Pop som O Águia de Fogo, Pop Som 1, 2, 3 e 4, Super Pop O Peso do Som, Super Pop O Águia de Fogo e atualmente é denominado como O Águia de Fogo Super Pop, O Arrasta Povo.

O DJ Juninho, do Super Pop, explica que o “Águia de Fogo” era o nome de um seriado muito famoso da década de 80, sobre um helicóptero da polícia que sobrevoava a cidade em busca de crimes a serem resolvidos. Por causa disso eles se inspiraram no seriado para que todo o equipamento lembrasse a idéia do helicóptero. Os comandos lembram uma cabine e a aparelhagem espalha gelo seco, as metralhadoras soltam faísca e papel laminado.

Atualmente o Super Pop faz 16 festas mensais, com o público de cinco mil pessoas e a média de ingresso em torno de R$ 7,00. Os DJs são considerados artistas, as aparelhagens são homenageadas com músicas por parte de cantores e bandas, além de vários fã-clubes. Só o Super Popsom tem mais de 60 fã-clubes, entre eles o Eternamente Popsom, Explosão Popsom e As Marias do Pop. A potência sonora do Super Pop é de mais de 200 mil watts.

A empresa Pop Som está divida em Super Pop O Novo Águia de Fogo, que possui 50 funcionários e tem como DJs: Élison e Juninho; e Pop Saudade, A Relíquia da Saudade, que emprega 30 funcionários, no comando está o DJ Betinho e Siqueira.

RUBI

Segundo o DJ Gilmar Santos, a aparelhagem Rubi surgiu no dia 13 de Agosto de 1950, e quem comandava era pai Orlando Santos. Nessa época, a aparelhagem chamava-se Esplêndido Rubi. Em Junho de 1973, Gilmar Santos, um dos filhos assume o Rubi, o Todo Poderoso “Peso Pesado” tocando brega e outros ritmos variados, o aparelho sempre zelando pela qualidade ao seu público.

Em 2002, surgiu a 1º nave do som, trazendo a maior atração em termo de aparelhagem do Estado do Pará, o Dj que antes ficava de costas para o público, passou a comandar o som de frente para o público. Já em 2003, surgiu a nova nave do som.

Uns meses depois Rubi lança a Boite Itinerante, com alta tecnologia em iluminação.

Em novembro de 2004 surgiu “A Espaçonave do Som”, com toneladas de iluminação, som de alta qualidade digital, para variados tipos de ambientes.

Em 03 de dezembro de 2005, foi lançado no Iate Clube o novo Rubi, O Portal Intergálactico, com o primeiro sistema Flay Pea, mais potente, qualidade total, tecnologia de ponta, com 05 Dj’s, inclusive lançou a primeira DJ mulher (Dj Dani Cabrita) nas aparelhagens.. Atualmente os DJS do Rubi são: DJ Gilmar Santos, Dani Cabrita e Junior Moreno. E o atual título da aparelhagem é Rubi, A Volta da Espaçonave do Som.

APARELHAGENS DE BAILES DA SAUDADE

O Baile da Saudade é a volta dos grandes sucessos dos bregas das décadas de 50, 60, 70, 80 e 90 denominados de flashes brega. Nos bailes dança-se de tudo um pouco: desde o flash brega, que é mais forte, até a discoteca, passando pelo pagode, lambada, zouk, cúmbia e música lenta, sem o aceleramento do ritmo, mantendo a originalidade da música na hora de dançar.

Vale ressaltar que nem tudo que as emissoras comerciais tocam significa que é só aquilo que se está produzindo em Belém em termos de brega calypso e nem tão pouco o que certas aparelhagens tocam nas festas. Nestas, as músicas, além de estarem superaceleradas, os casais não conseguem dançar mais do que 10 músicas seguidas, sendo repetitivos demais.

Por conta dessa explosão musical que vem se tornando cada vez mais presente através dos Bailes da Saudade, nossas gravadoras regionais já lançam no mercado, principalmente os selos independentes, os CD´s de coletânea só de flashes bregas, como o CD lançado recentemente pela Tetéia Produções. Até a aparelhagem Rubi também lançou o seu CD nesta linha com um repertório variado de grandes sucessos da década de 90 e que em agosto de 2006 lançou o Rubi Saudade, A Nave da Saudade.

Uma outra aparelhagem teve seu nome recriado foi o Pop Saudade. Com isso, os bregas da linha pop-melody voltam a ser os mais executados nos programas das emissoras de rádios em Belém e em Estados do Nordeste. Hoje, em todos os cantos de Belém, de domingo a sábado, a boemia da velha guarda se faz presente nos bailes da saudade.

O Baile de Saudade é um tipo de festa voltado prioritariamente para um público de maior idade (entre 25 e 60 anos, aproximadamente) e em que se destacam a apresentação de boleros, lambadas, zouk, cúmbia, merengues e flashbregas (bregas antigos).

Normalmente, os contratos celebrados entre aparelhagem e casa de festa (ou mediados por festeiros) para este tipo de evento tomam como base valores muito menores do que as aparelhagens comuns.

O baixo custo dos ingressos e a presença de um público específico apreciador das “músicas do passado” caracteriza a festa de aparelhagens do passado. Neste caso, não há presença de fã-clubes. Além disso, a preocupação com a segurança neste tipo de evento também é muito menor que nas outras aparelhagens, o que é confirmado pela presença poucos seguranças particulares.

BRASILÂNDIA, O CALHAMBEQUE DA SAUDADE

De acordo com Zenildo Fonseca, o proprietário do Brasilândia, tudo começou com seu pai, nos anos 1940, no bairro da pedreira. O comerciante Zeno Fonseca, dono de uma fábrica de móveis no bairro da Matinha (hoje Fátima), começou a colocar um aparelho de som em frente à loja e, aos poucos, foi recebendo convites para tocar nos aniversários dos filhos dos amigos até conseguir um acervo com mais de 30 mil unidades, entre LPs, long plays e compactos, de rotação 33 ou 78. Em 1945, o “Pickarpo Brasilândia” animava as noites paraenses. Em 1950, o nome da aparelhagem mudou pra “Sonoros Brasilândia”. Em 1978, era intitulada como “Som Brasilândia”. E em 2004, é inaugurado o “O Novo Brasilândia, O Calhambeque da Saudade”.

Zenildo, herdeiro da aparelhagem, faz questão de manter o compromisso e a tradição iniciada por seu pai há mais de 60 anos. Ele mantém a exclusividade dos vinis - os DJs só usam CDs e MDs para tocar a abertura da festa e as vinhetas. O acervo de vinis do Brasilândia tipo de arranhão, o que não acontece com o CD”, explica.

Segundo ele, o diferencial do vinil é o ruído característico da agulha em contato com o disco. São mais de cinco agulhas por festa. Zenildo afirma que, nas festas, são vendidas de mil caixas de cerveja por final de semana. E além da equipe de 20 pessoas do Brasilândia, as festas geram ainda cerca de 100 empregos indiretos.

Em outubro de 2005 foi gravado o primeiro DVD.

Atualmente, os DJs do Brasilândia são: DJ Zenildo e Maizena

As aparelhagens de saudade que mais se destacam são: Brasilândia, Alvi-Azul, Diamantina, Som Alternativa, Pop Saudade e Rubi Saudade.

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4.4 - Perfil do jornal O Liberal

Em 15 de novembro de 1946 foi comercializado o primeiro exemplar do jornal impresso vespertino O LIBERAL, que foi criado sob inspiração política do Partido Social Democrático para fazer campanhas do inventor Joaquim de Magalhães Barata.

Em 1963, o jornal foi vendido para Ocyr Proença e em 1º de maio de 1966, para o jornalista Romulo Maiorana, pernambucano e descendente de italianos, decidiu investir em jornal que estava falido, que tinha uma circulação diária de 300 jornais.

De acordo com o IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), O LIBERAL é lido por mais de 640.000 leitores.

O jornal tem uma tiragem média de 50.000 jornais de segunda a sábado e aos domingos essa tiragem aumenta para 110.000 exemplares. Com a nova máquina UNISET FULL COLLOR, é possível rodar 75.000 exemplares por hora, todo colorido.

A sede atual foi inaugurada em 1995, localizada na Avenida 25 de Setembro, Bairro do Marco.

O jornal mantém uma sucursal em Brasília e correspondentes em todo o Estado do Pará, e nas principais capitais do Brasil, onde circula diariamente. Circula em mais de cem municípios do Pará, além das principais capitais do Brasil, entre elas o Rio de Janeiro e São Paulo.

Informações adicionais:

O jornal tem formato Standart e é diário. Possui seis cadernos, entre eles o Opinião, Poder, Magazine, Esporte, Polícia e Classificados. E sete Suplementos: Mulher, Mercado, Automóvel, Informática, Troppo Demais, Revista da TV e Liberalzinho.

PERFIL DAS PESSOAS QUE LÊEM O LIBERAL (IBOPE)

*Share: 80%

*Classe AB: 90%

*Classe C: 72%

*Classe DE: 76%

*Sexo feminino: 81%

*Sexo masculino: 78%

*Faixa etária:

10 - 14 anos: 72 %

15 – 19 anos: 82 %

20 – 24 anos: 88 %

25 – 29 anos: 80 %

30 – 34 anos: 79 %

35 – 39 anos: 69 %

40 – 49 anos: 82 %

50 – 59 anos: 78 %

+ de 60 anos: 77 %

*Fonte: IBOPE/ Novembro de 2003

PERFIL DAS PESSOAS QUE LÊEM O LIBERAL (MARPLAN)

*Share: 82%

*Classe AB: 43%

*Classe C: 40%

*Classe DE: 17%

*Sexo feminino: 53%

*Sexo masculino: 47%

*Faixa etária:

10 - 14 anos: 10%

15 – 24 anos: 27 %

25 – 39 anos: 40%

40 – 49 anos: 11%

+ de 50 anos: 12%

*Fonte: Estudos MARPLAN 2001 – Consolidado 2001

Cidades que têm acesso ao Jornal O LIBERAL

Abatetetuba, Almerim, Altamira, Aveiro Barcarena, Belterra, Benevides, Bragança, Bujaru, Capanema, Capitão poço, Carajá, Castanhal, Conceição do Araguaia, Concórdia do Pará, Faro, Igarapé-Miri, Irituia, Itaituba, Jacareacanga, Jacundá, Juruti, Mãe do Rio, Marabá, Maracanã, Marapanim, Moju, Monte Alegre, Monte Dourado, Mosqueiro, Nova Timboteua, Novo Progresso, Óbidos, Oriximiná, Ourém, Paragominas, Placas, Portel, Prainhas, Quatro Bocas, Redenção, Rurópolis, Salinas, Santa Izabel do Pará, Santa Luzia do Pará, Santa Maria do Pará, Santarém, Santo Antônio do Tauá, São Félix do Xingu, São Miguel do Guamá, Soure, Tailândia, Terra Santa, Tomé-Açu, Trairão, Tucumã, Tucuruí, Ulianópolis, Vigia, Vila dos Cabanos e Xinguara.

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4.5 - Aparelhagens no Jornal O Liberal

Para analisar as matérias de cunho jornalístico do jornal impresso O Liberal, foi utilizado o site de busca do Portal ORM (www.orm.com.br), onde é o único local que a empresa possui arquivadas as matérias relacionadas.

Portanto, as matérias analisadas foram encontradas no período de novembro de 2003 até julho de 2006. Cada matéria foi analisada separada pelos respectivos anos, e ao final de cada período existe uma análise geral, que permite entender onde aconteceram as mudanças de conteúdo.

2003  2004  2005  2006 

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2003 - Matérias do Jornal O Liberal

A única matéria encontrada no ano de 2003 mostrava o surgimento de um novo bloco do Parafolia, com o nome de Technomania: Rubi, Pop Som 4 e Novo Príncipe Negro foram as aparelhagens escolhidas para estrear no corredor da folia, divulgando a cultura paraense. A matéria envolveu assuntos como o público que é fiel a cada aparelhagem e dos fã-clubes que elas possuem espalhados em todo o Estado. Essa foi a época em que a mídia começou a perceber o crescimento das aparelhagens e com isso ganhavam espaço. De acordo com a matéria, o bloco criado buscava valorizar a cultura paraense, democratizar o evento para todos os segmentos da sociedade. O movimento cultural que ganhava mais força, isso com a ajuda do público que freqüentava. O público foi o maior motivador para a criação do bloco, pois a opinião de que o quadro musical paraense é bastante eclético foi levada em consideração. A oportunidade de pessoas de baixa renda (porque até então a Aparelhagem era ligada ao público de periferia) freqüentarem um evento do porte do Parafolia (que não fosse na Pipoca ou em arquibancadas) foi uma forma de começar a romper a barreira do preconceito sócio-cultural. A matéria estimula as pessoas a optarem por este ritmo, que já fazia parte há anos da cultura paraense e somente agora começava a ficar em evidência.

2003

1

DJs levam o “tecnobrega”
para o corredor da folia

Na batida do “techno brega”. É nesse ritmo que muitos foliões vão curtir a maior micareta da região Norte no Technomania, o bloco das aparelhagens, que promete fazer história no Parafolia deste ano. A micareta começa na próxima quinta-feira, e os blocos das superaparelhagens Rubi, Pop Som 4 e Novo Príncipe Negro entrarão no corredor da folia na sexta, no sábado e no domingo com um show de tecnologia e modernidade.

Uma das novidades do Technomania é a estrutura, diferente dos demais blocos que entrarão na avenida puxados por banda e trio elétrico. O Technomania não terá banda e será puxado por uma carreta especial. A supercarreta passou a ser chamada pela diretoria do bloco de “carreta elétrica”, preparada para levar toda a estrutura de som que compõe as aparelhagens.

Os diretores do bloco, Hélder Corecha e os irmãos David e Ranier Overal, explicam que desfilar sem banda ou trio elétrico é o principal desafio do technobrega. “Certamente toda a força do bloco está no entrosamento dos Dj’s com o público das aparelhagens, que é um público muito fiel”, explica Corecha.

David Overal explica que essa fidelidade, aliada à procura por abadás, motivou a decisão da diretoria em vender um abadá para cada noite. “Quando o bloco nasceu nós realizamos todo um trabalho de verificação da opinião do público freqüentador das festas de aparelhagens, e descobrimos que cada aparelhagem tem o seu público fiel, que vai onde está a sua aparelhagem preferida”, explica David.

A infra-estrutura será o outro ponto forte do Technomania, segundo explicou Ranier Overal. “Em estrutura nós não seremos diferentes de nenhum dos outros. Teremos um forte esquema de carro de apoio e cordão de isolamento para garantir a segurança dos brincantes dentro do bloco”, informa.

A outra novidade do bloco, segundo os diretores, está exatamente nos carros de apoio, que, diferente do que tem sido visto na avenida, não levará muitas pessoas brincando sobre os caminhões. “O nosso carro de apoio será transformado em um superbar onde estaremos recebendo os convidados vips do bloco”, informa Hélder Corech.

Entre os convidados vips estarão os nomes que movimentam o cenário no gênero musical brega no Pará, cujas músicas são divulgadas para o grande público principalmente pelo som das aparelhagens.

Democracia - A idéia de um bloco inteiro levado somente com o som de aparelhagens nasceu dos produtores Carlos Assis e José Maria Viana, que criaram o bloco e a marca Technomania, nome escolhido pelos fãs que votaram pela internet. Segundo Hélder Corecha, a aposta no sucesso do bloco está exatamente na multidão que acompanha as festas de aparelhagens, muitas das quais possuem até fãs-clubes. Ele cita como exemplo a aparelhagem Pop Som, que tem 120 fãs-clubes espalhados em todo o Pará.

Hélder Corecha explica ainda que a escolha das aparelhagens para este ano foi também baseada no critério do termômetro popular, que indicava as três em maior evidência no momento. “É claro que o Pará, precursor em aparelhagens, tem muitos nomes de boa qualidade, mas a nossa expectativa é que o bloco cresça e possa agregar mais nomes nas próximas micaretas”, disse Hélder.

David Overal vai ainda mais longe. Para ele o Technomania em todas as condições de conquistar espaço em micaretas de outros Estados. “Essa é uma forma de valorização de uma manifestação cultural que nasceu em nosso Estado, de valorizar o que produzimos de bom aqui e faz sucesso em outras regiões”, disse ele, lembrando que as aparelhagens já foram objeto de programas especiais produzidos pela Rede Globo e exibidos em cadeia nacional.

Overal explica ainda que essa valorização é uma forma de democratizar o Parafolia a todas as tribos. “Nem todas as pessoas são obrigadas a gostar de ache. Acho que isso abre uma porta na micareta para que futuramente fãs de outros sons também possam participar”, afirma, ao explicar que o próprio preço do abadá do Technomania, de R$ 60, considerado acessível pela diretoria, é uma forma de aproximar da novidade até quem nunca foi a uma festa como essa e não conhece o som das aparelhagens.

Músicas - Os Dj’s que irão animar as três aparelhagens do Technomania prometem arrasar na avenida pelo repertório, que será diversificado, e pela comunicação com o público, como garante o Dj Dinho, que estará à frente do Pop Som 4. “Vamos mexer com a galera como em uma festa de aparelhagem, com as músicas que eles gostam, a comunicação com público e brincadeiras com recados e torpedos enviados pelos brincantes”, afirma o Dj.

Serviço - Os abadás para o Technomania estão à venda nas Centrais Parafolia do Iguatemi, Castanheira e Braz de Aguiar, ao preço de R$ 60, valor que pode ser parcelado em até três vezes no cartão de crédito. A entrega dos abadás começa na próxima quarta-feira na boate KM3, no KM 3 da BR-316. Informações: 242 7766.

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2004 - Matérias do Jornal O Liberal

A primeira matéria divulgada em 2004 teve como tema central a volta do DJ Dinho ao Treme-Terra Tupinambá. Mostrou o renascimento da aparelhagem, mais modernizada. Tecnologias em equipamentos nunca antes utilizadas fazem parte da nova estrutura da aparelhagem. Além de fazer um retrospecto na carreira do DJ, comentou a história da aparelhagem e a origem do famoso “Altar Sonoro”. A matéria foi feita para divulgar o trabalho do DJ e a aparelhagem, usando adjetivos superlativos, valorizando-os.

2004

1

Magazine 15/05/2004

Dinho volta ao Tupinambá hoje e lança ‘altar sonoro’

Dj Dinho
Para marcar a volta do dj Dinho ao Treme-Terra Tupinambá, será lançado hoje, às 22 horas, na Aldeia Cabana,o altar sonoro, que vai permitir ao dj subir a até três metros de altura e se descolar a até dois metros à frente da estrutura. “É o mesmo sistema hidraúlico do trio elétrico da Ivete Sangalo”, explica Dinho. A aparelhagem ganhou também um sistema de som com 24 canais digitais, iluminação computadorizada, nova linha de amplificadores e três laptos para armazenar as músicas.

Dinho, que também é radialista, tem 22 anos de carreira como ds. Além de comandar o Treme-Terra, ele toca em várias casas noturnas de Belém. Dinho ficou afastado do Tupinambá por quatro anos e agora diz que voltou para revolucionar. “Eu fiquei afastado por muito tempo, mas estou voltando para dar um novo brilho para a minha aparelhagem”.
O Tupinambá, sucesso de público no Pará, já foi atração em Macapá e Maranhão. “É a maior estrutura de aparelhagem do Brasil”, garante o dj, que espera hoje um público de aproximadamente doze mil pessoas.

Batizar o palco de “altar sonoro” foi uma homenagem de Dinho à apresentadora Regina Casé, que veio a Belém para fazer uma matéria sobre as aparelhagens de som em 1995 no extinto programa “Brasil Legal”. Nessa matéria, o Tupinambá foi apresentado ao público como a primeira aparelhagem de som do Brasil.

O Tupinambá tem 25 anos e possui uma altíssima potência, mas o dj avisa que durante os shows os limites de som estão dentro do tolerável pela polícia. Para o show de hoje, os ingressos podem se comprados na Loja Statuas (Shopping São Brás e Avenida Tamandaré), no estúdio Tupinambá (Bernardo Sayão) e na Aldeia Cabana a R$ 7. No domingo, o show é no Ipanema Clube da Cidade Nova, às 14 horas. Mais informações: 9964-2669.

No mês seguinte o jornal divulgou uma matéria que aborda o mesmo assunto com enfoque contrário da anterior, mostrando a polêmica que existe em relação à potência sonora das aparelhagens. A matéria mostrou tanto a indignação dos moradores quanto a irritação do proprietário da aparelhagem por achar que seus direitos estão sendo negados. Enfocou, ainda a questão da poluição sonora, dos limites e das multas se o volume for ultrapassado. Além da falta de agilidade do serviço da polícia em fiscalizar os locais onde há festa. Deveria conter na matéria, dicas para locais adequados onde se possa fazer uma festa de aparelhagem sem incomodar as pessoas ao redor que não gostam, mostrando soluções para ambas as partes.

2

Atualidades – 08/06/2004

Festa irrita moradores da Barão do Triunfo

Festa
“Quero ver quem é que vai desligar o som!”. Foi assim que o morador da travessa Barão do Triunfo, no bairro Sacramenta, identificado apenas pelo prenome Max, recebeu, ontem à tarde, a equipe de reportagem de O LIBERAL, que estava no local para apurar a denúcia da comerciante Patrícia Baia sobre o barulho de uma festa que atormentava a vizinhança. Patrícia decidiu denunciar os vizinhos à imprensa depois que recorreu sem sucesso à delegacia da Pedreira e ao “Disk Silêncio”. Segundo os moradores da área, os vizinhos mantiveram uma aparelhagem ligada ontem e anteontem. No domingo, a festa acabou por volta de meia-noite. Ontem, começou às 9 horas e só terminou com a chegada da equipe de reportagem, por volta das 16 horas.

“É comum este tipo de coisa aqui nesta rua. Na sexta-feira passada, quase fui impedido de entrar na minha própria casa. Simplesmente lacraram minha residência para ninguém penetrar na festa. Achavam que eu estava mentindo só para entrar sem pagar”, disse o digitador Rui Amoras, 20 anos, enquanto na casa do outro lado da rua, Max fazia ameaças com o microfone. “Eu moro aqui há mais de 30 anos e ningúem vai me impedir de ligar meu som. Estou no meu direito”. Rui disse que não se incomoda que os vizinhos façam festa, desde que respeitem os limites estabelecidos por lei.

Mariléia Nery, 31 anos, dona da casa onde se encontrava a aparelhagem, disse que a denúncia não procede. “Eu contratei o Max (vizinho) para animar a festa que eu faço todo ano. Eu nasci nesta rua e acho que se divertir com a família é direito de todo o cidadão”. “Nunca ninguém reclamou. Por que eles não chegaram aqui e pediram para abaixar o som?”. A dona da festa ressaltou várias vezes que na casa dela só se encontravam parentes e amigos. “É aniversário de um amigo meu”, disse.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) determina que o limite sonoro permitido é 60 decibéis durante o dia e 55 no horário noturno. A multa para quem ultrapassar o nível varia entre R$ 1,2 mil e R$ 10 mil e ainda apreensão dos intrumentos sonoros.

A equipe de reportagem ainda apurou as ocorrências registradas na delegacia da Pedreira e no “Disk Silêncio”. Na primeira, o delegado Renato Vanghon disse desconhecer a denúncia, mas solicitou à delegacia da Sacramenta uma equipe para ir ao local, porém a aparelhagem já estava desligada, quando as viaturas chegaram. Já o “Disk Silêncio” informou, às 18 horas, que estava se dirigindo ao lugar. “Estávamos na Cidade Nova. Só agora iremos averiguar”. O “Disk Silêncio” opera na Região Metropolitana de Belém com apenas uma viatura.

A terceira matéria de 2004, não deu certeza no que está divulgando, assim como os próprios entrevistados. Não mostrou dados precisos para fundamentar as reclamações. A matéria falou apenas que as aparelhagens causam riscos à população e ainda afirmou que elas roubam energia elétrica, mas em momento algum esse tipo de argumento é comprovado, já que a empresa reclamante, no caso a CELPA, não possui e nem declara os registros e as reclamações feitas sobre o roubo de energia. Além de que não foi dado espaço para que alguma aparelhagem se defendesse. O problema é generalizado a todas as aparelhagens de pequeno e médio porte, como se todas fizessem isso.

3

ATUALIDADES - 25/06/2004

Aparelhagens “roubam” eletricidade

E Celpa diz que vai ser rigorosa na fiscalização dos terreiros

Aparelhagens roubam eletricidade
Antes tarde do que nunca. Apesar do próximo final de semana ser o último da quadra junina, o perigo das ligações clandestinas feitas em fiações públicas pelos proprietários de aparelhagens de som, de pequeno e médio portes, fazem a ameaça conviver de perto com milhares de consumidores comuns de energia elétrica em Belém. Para hoje, amanhã e domingo, o Departamento de Polícia Administrativa (DPA) expediu cerca de 150 autorizações de festas em terreiros improvisados. A Celpa, empresa distribuidora de energia, diz não ter dados nem o valor do prejuízo da clandestinidade das ligações nas fiações públicas e apela aos moradores para que denunciem o fato, evitando assim o pior.

O gerente do Departamento Comercial Metropolitano da Celpa, Carlos Augusto Couto da Silva, lembra que o problema foi bem mais grave no ano passado, obrigando a empresa a intensificar a fiscalização nas ruas e a convocar uma reunião com os donos das aparelhagens de som. “O número de pedido atendidos é duas ou três vezes mais este ano”, afirma, acreditando que o encontro foi positivo. Em junho deste ano, a Celpa atendeu ou atende cerca de 500 pedidos de ligações provisórias, aquelas que servem para suprir a demanda de energia em eventos que funcionam provisoriamente, no caso, um terreiro junino. O número, no entanto, abrange todos os eventos provisórios. A empresa não tem também o número exato dos atendimentos exclusivos para terreiros juninos.

Dados do DPA mostram que o departamento policial expediu, só nos finais de semana, uma média de 150 licenças para festas juninas em Belém. Considerando os três finais de semana já passados nesta quadra junina, foram realizadas 450 festas legalmente autorizadas. Até o próximo final de semana, a demanda deve chegar a 600 licenças expedidas, sem contar as autorizações para outros dias da semana.

O gerente da Celpa explica que para funcionar sua aparelhagem de som, o proprietário deve, antes, procurar uma agência de atendimento da Celpa, informar a carga potencial de sua aparelhagem, o dia e o tempo de consumo. De posse dessas informações, a empresa faz o cálculo do valor do consumo e emite a fatura para pagamento antecipado. Só depois é que empresa faz as adaptações para a ligação de uso temporário, sem qualquer possibilidade de risco para a aparelhagem e para os moradores. Se isso não acontece, os moradores podem denunciar o risco a que estão exposto pelo número 0800-910196.

Carlos Augusto admite que algumas aparelhagens em Belém funcionam com consumo clandestino de energia elétrica. Lembra que a empresa está atenta, com equipes de fiscalização nas ruas. Além do controle externo, a Celpa tem um controle interno, sinalizado com algum pane captado pelo sistema. O gerente diz acreditar que a reunião com os proprietários, feita no ano passado, minimizou o risco, e que somente as aparelhagens de pequeno e médio portes ainda estejam insistindo nas ligações clandestinas.

A matéria seguinte falou da profissão de ser DJ, do quanto é preciso para poder se adequar à evolução dos equipamentos utilizados. Retratou também os altos investimentos e da constante inovação tecnológica que são necessárias para que uma aparelhagem competitiva precisa ter para manter se manter no mercado.


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Magazine - 26/06/2004

Djs de brega investem até R$ 500 mil em equipamentos

Dj Dinho
Quem acha que ser dj é brincadeira, não sabe o quanto é preciso ter em caixa para investir. Um bom pick up não sai por menos de R$ 3 mil e um CD player por R$ 2 mil, mesmos valores do mixador e amplificador. Como é difícil ter essa grana disponível, os djs preferem alugar os equipamentos. Alex Pinheiro diz que com R$ 150 a R$ 200 dá para garantir o aluguel de dois CD players, um mixador e um pré-amplificador ou amplificador (que potencializa o som para as caixas). Quando consegue pechinchar ainda leva luz e uma “fumaça”. “Aliás, dj precisa de luz, senão a festa vira inferninho”.

Benjamin explica que quem quiser trabalhar com vinis também precisa ter dinheiro, porque 90% deles são fabricados fora do país, e cada um custa em média de R$ 40 a R$ 45. “De cada disco dá para aproveitar de uma a duas músicas, então imagine quanto é preciso para fazer um set de duas horas”. Por conta disso, djs como ele e Alex, que prefeririam trabalhar com vinis, precisam se render ao CD. “Precisei substituir o vinil pelo CD por causa da mudança na tecnologia e porque o valor foi lá para cima. Mas para mim, dj que não sabe tocar vinil é só dublê de dj”, avisa Alex.

Agora se você tem mais de R$ 100 mil para aplicar, não hesite: invista na aquisição de uma aparelhagem, daquelas que tocam brega, com inúmeras caixas de som de máxima potência. “Uma aparelhagem competitiva custa ao todo de R$ 400 a R$ 500 mil. No caso do Tupinambá, que comando, investimos R$ 138 mil só em iluminação”, revela o dj Dinho.
Lá se vão 22 anos das primeiras festas em que ele carregava as caixas de som da aparelhagem do pai, no interior de Abaetetuba. Muita coisa mudou desde então. Nem CD player Dinho usa mais: tudo é no computador. Enquanto os djs de outras áreas precisam catar discos fora de Belém, aqui é a terra do brega, e a matéria-prima das aparelhagens aflora por todos os cantos da cidade. Os exemplares de house, daqueles bem bate-estaca que também tocam nesse tipo de festa, Dinho baixa em MP3 direto para o computador.
Ser dj de aparelhagem numa terra como Belém, onde as festas de brega imperam principalmente pela periferia da cidade (nas boates do centro a moda já esfriou), garante dinheiro no bolso. Dinho, por exemplo, faz de cinco a seis eventos por semana e isso lhe garante viver só das festas. “Dá para ter tranqüilidade fazendo isso. Desde a minha adolescência não sei o que é ganhar dinheiro de outra maneira”. (E.B.)

Continuando a ordem cronológica, a quinta matéria divulgou o aniversário do DJ Dinho, onde fez um breve comentário de sua história, do sucesso em outros estados como Maranhão, Amazonas e Amapá, do reconhecimento dele pela mídia e da evolução tecnológica que facilitou o trabalho. A matéria enfocou mais a vida DJ do que a aparelhagem, o que está no cenário cultural da música paraense.

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Magazine - 03/07/2004

DJ Dinho comemora aniversário com a aparelhagem Tupinambá

Dj Dinho
O DJ Dinho, um dos mais famosos DJs de aparelhagens do Pará, comemora seu aniversário neste fim de semana e, como não poderia deixar de ser, os festejos serão embalados pelo poderoso som da aparelhagem “treme-terra” Tupinambá, ao lado da banda Matrix e da banda Amazonas. Hoje, a festa será a partir das 22 horas no clube Estação BR. Amanhã, o DJ faz a festa no almoço do clube da Sudam, a partir do meio-dia.

Dinho começou a carreira de DJ aos 13 anos no município de Abaetetuba, onde nasceu. Ele começou a tocar ao lado do pai, Andir Rodrigues Corrêa, se apresentando com a aparelhagem Tupinambá de Abaeté. Em Belém, Dinho abraçou também a vida de DJ no rádio, no comando do programa “Brega Pop”, na rádio Liberal FM. Depois ele foi para outra emissora, a Marajoara FM, no programa “Ari Santos Show”, e por fim tornou-se apresentador do programa diário “Na Batida”, na Rauland FM.

Com o sucesso alcançado no rádio e nas aprelhagens, Dinho também engatilhou uma carreira solo como DJ e já se apresentou em casas noturnas de outras capitais, como Macapá (AP), Manaus (AM) e São Luís (MA), o que lhe proporciona uma agenda lotada, com até seis eventos por semana, e a possibilidade de viver só da música que toca nas festas, como ele mesmo ressalta. “Como o brega é uma música nossa e as aparelhagens ganharam força em Belém e eu fui um desses precursores, consigo ter a tranqüilidade fazendo só isso, e desde a minha adolescência essa tem sido a minha única fonte de renda”, diz ele.

Com página na internet e um público fiel, Dinho ganhou ares de celebridade em diversos momentos da carreira. Ele já foi destaque, há sete anos, do programa “Brasil Legal”, apresentado por Regina Casé, na Rede Globo, onde passou 25 minutos falando sobre sua carreira e festas de aparelhagens no Pará. Um ano depois, em 1996, foi matéria de primeira página do caderno de cultura do jornal “Folha de São Paulo”, e em 1998 participou do programa “Músicas do Brasil” apresentado por Gilberto Gil, na MTV.

As festas comemorativas, diz ele, não são apenas pelos seus 35 anos de idade, mas por 22 anos de uma carreira. “Nas primeiras festas eu carregava as caixas de som da aparelhagem do pai, lá em Abaetetuba, e hoje não uso sequer CD player” revela o DJ, que agora faz tudo pelo computador. Até as batidas eletrônicas indispensáveis nesse tipo de festa, ele garimpa na internet e copia no formato MP3.

Serviço - Festas em comemoração pelo aniversário do DJ Dinho, hoje e amanhã. Hoje, às 22h no Clube Estação BR, na BR-316, próximo ao viaduto. Amanhã, no clube da Sudam, na rodovia Augusto Montenegro. O DJ anima as festas com o “Treme-terra Tupinambá”, Matrix e banda Amazonas. Ingressos a R$ 5 nos locais.

A próxima matéria retratou do sucesso que a aparelhagem Ciclone conquistou em pouco tempo de existência, aborda um pouco da história dos DJs, dos projetos sociais que eles possuem, da presença dos mesmos no Parafolia, do alto investimento tecnológico na aparelhagem, dos ritmos que eles tocam, principalmente do ritmo melody e dos futuros planos, como o lançamento de um DVD. A matéria priorizou mais os investimentos feitos do que a aparelhagem como um movimento cultural.

6

Magazine - 04/11/2004

Ciclone conquista fãs das aparelhagens

Tecnobrega e melodybrega são os ritmos que arrastam as multidões durante os ensaios para o bloco do Parafolia todas as segundas-feiras

Djs Edilson e Edielson
Os fãs do tecnobrega e melodybrega têm agora mais uma aparelhagem: Ciclone - O Furacão do Som, sob o comando dos DJs Edílson e Edielson. O Ciclone estará no bloco Tecnobrega, do Parafolia, e abrirá o ensaio geral da micareta na próxima segunda-feira, dia 8, às 17 horas, na Tuna Luso Brasileira. Reunindo cerca de 3.500 brincantes, o bloco do Ciclone ensaia sempre às segundas-feiras, reunindo um grande público que curte as famosas festas de aparelhagem.

Parceiros há dez anos, os irmãos Edílson e Edielson vinham projetando há quatro anos ter sua própria aparelhagem. O sonho foi concretizado e com apenas três semanas do lançamento oficial, o Ciclone faz jus ao nome e já arrasta multidões por onde passa, contando com mais de 70 fã-clubes de vários bairros da cidade.

“Nem acreditamos quando vimos o grande número de fãs na festa de lançamento. Todos vestidos com camisas e dançando coreografias inovadoras, só pra chamar a nossa atenção. Isso é muito gratificante”, ressalta. Mas por que o nome? Edílson explica que a intenção é unir dois fenômenos diferentes, ciclone e furacão, ou seja, ele e seu irmão.

Influenciados pelo pai, os irmãos iniciaram a trajetória nas aparelhagens muito cedo. Primeiro foi Edílson que, aos nove anos começou a mixar hits. Nove anos depois foi Edielson quem assumiu de vez o gosto pela coisa e firmou parceria com o irmão tocando no Príncipe Negro.

A novidade do Ciclone está na sua megaestrutura, garantem os DJs. São equipamentos digitais de última geração, como o duplo cyber comando - onde os dois podem tocar ao mesmo tempo - além da iluminação, potência de 400 mil watts, telão, estrutura metálica e torre de som. De acordo com Edílson, o ápice da festa acontece quando, através de um sistema hidraúlico, o comando duplo do cyber é elevado e os irmãos se encontram.

O investimento na construção da aparelhagem chegou a R$ 4000 mil e não seria possível sem a ajuda dos amigos, explica Edílson. A estrutura foi construída em três cidades diferentes - o cyber em Castanhal, a estrutura metálica em Marituba e a torre de som em Belém - durante quatro meses de trabalho.

Melody - A explosão do melody de autoria da dupla de DJs veio com a banda Quero Mais. “Meu irmão vinha me dizendo que ao tocar as músicas a galera delirava, e quando finalmente parei na cidade, pude ver de perto o público dançar e curtir as baladas”, conta Edílson.

A boa aceitação do público veio também por conta do programa de rádio que a dupla apresenta. Edílson destaca que mal o Ciclone entrou no mercado das aparelhagens e já tem agenda lotada até o final do ano, com apresentações de quinta a domingo.

O trabalho dos irmãos DJs também ganhou espaço no Amapá e Maranhão, onde eles devem se apresentar em micaretas e festas. Edílson e Edielson também planejam o lançamento de um DVD no final do ano, reunindo as músicas mais pedidas pela galera, além de um making off sobre os bastidores, desde a construção ao show de lançamento da aparelhagem. Mas esse projeto ainda depende da autorização das canções pelas bandas.

Projetos - Não é apenas música que motiva os irmãos. Eles também desenvolvem projetos sociais com as comunidades dos bairros por onde se apresentam e cobram um quilo de alimento na entrada dos ensaios, realizados uma vez por semana pelos fã-clubes.

Serviços - Ensaio geral do bloco Tecnobrega do Parafolia com a aparelhagem Ciclone: O Furacão do Som. Segunda-feira, dia 8, às 17 horas, na Tuna Luso Brasileira (Av. Almirante Barroso). Ingressos antecipados: R$ 5. Informações: 9123-0422 e 8808-7599 ou pelo site www.ciclonefuracaodosom.com.

A última matéria do ano de 2004 divulgou o aniversário da aparelhagem Super Pop Som retratando um pouco da história, de como vai ser a festa, das dificuldades que encontraram para poder conseguir estarem onde estão. Essa matéria junto com as duas anteriores formaram uma série que buscam mostrar o trabalho dos DJs que comandam as aparelhagens mais evidentes no Pará.

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Magazine - 11/12/2004

Aparelhagem Super Pop Som faz 18 anos

Comandada pelos irmãos Elison, Juninho e Betinho, a aparelhagem faz a trilha sonora em duas festas e prepara lançamento de DVD

Djs Elison e Juninho
A aparelhagem Super Pop Som completa 18 anos. Para comemorar a data, os irmãos Juninho, Elison e Betinho fazem a trilha sonora de duas festas: ao meio-dia no Ipanema Club (Cidade Nova) e às 22 horas no Palmeiraço (Cidade Velha). A novidade é a participação de Betinho, que comanda a aparelhagem Pop Saudade. “Como é difícil unirmos as duas aparelhagens em outras festas, pois têm estilos diferentes, queremos nesse aniversário aproximar ainda mais a família”, diz Juninho.

Os DJs herdaram o gosto pela mixagem do pai mecânico, dono de oficina e apaixonado por música. O primeiro equipamento de som chamava-se Big Som Progresso. Mais tarde a aparelhagem ganhou uma nova cara, com capacidade ainda maior e sons diversificados. Juninho conta que esse foi o pontapé inicial para a família de DJs se apresentar nas festas da cidade. Depois a aparelhagem foi batizada de Pop Som: O Águia de Fogo e fez sucesso no interior paraense, principalmente no município de Acará. Mas naquela época era proibido por lei utilizar esse tipo de equipamento em Belém. “Nosso pai não queria reduzir os equipamentos e muito menos parar de tocar. Por isso passamos quatro anos viajando pelo interior”, conta Juninho.

A Super Pop Som surgiu em 2002 e atualmente conta com quatro amplas estruturas, além da aparelhagem individual Pop Saudade, que faz um remake das canções dos anos 70 e 80. Juninho garante que no primeiro semestre de 2005 será lançado o DVD da Super Pop Som, juntamente com o novo sistema. “Será a volta do ‘Águia de Fogo’”, diz ele.

Serviços: Show de aniversário da aparelhagem Super Pop Som. Hoje, ao meio-dia, no Ipanema Club (Cidade Nova), e às 22 horas, no Palmeiraço (Cidade Velha). Ingressos: R$ 5. Informações: 249-0972 e 9966-8110.

Fazendo uma análise geral das matérias divulgadas no ano de 2004, cinco delas foram divulgadas no caderno Magazine e duas no caderno atualidades. As que saíram no magazine falaram do trabalho dos DJs e da evolução das aparelhagens, utilizando apenas em uma matéria adjetivos superlativos, retratando bem a aparelhagem, incentivando o público a freqüentar, além de publicar onde as aparelhagens vão tocar. Já as que saíram no caderno atualidades retrataram de maneira negativa as aparelhagens, sendo que uma delas foi classificada como antiética, por acusar as aparelhagens de algo e não ouvirem o lado delas.

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2005 - Matérias do Jornal O Liberal

A primeira matéria publicada pelo jornal no ano de 2005, falou sobre aparelhagem, que apesar de ser um movimento cultural e estar no caderno relacionado, é tratada somente como a empresa que é aparelhagem Matrix e onde eles vão tocar e dos futuros projetos. A matéria acrescenta informações que divulgam o trabalho, mas não mostra o principal objetivo que é a cultura. Pode-se dizer que é um serviço.

2005

1

Magazine 07/05/2005

DJs da Matrix Revolution tocam junto com o público

DJs Walmix e Beto Brasil
Hoje tem novidade no mundo das aparelhagens. O Matrix Revolution tem uma surpresa tecnológica para o público que for curtir as festas de final de semana com os DJs Walmix e Beto Brasil: um comando móvel, que garante a movimentação dos DJs em meio ao público. Segundo o DJ Beto Brasil, a tecnologia vai incrementar ainda mais a festa do Matrix, que tem um repertório eclético, com variações do brega à música eletrônica, passando pelo tecnobrega, melody e lambada. A programação começa logo mais, a partir das 22 horas, na casa de shows Na Balada (Av. Bernardo Sayão próximo da Alcindo Cacela). Os ingressos estão sendo vendidos no local a R$ 6.

Beto Brasil diz que sente paixão e responsabilidade pelo que faz. Para ele, o contato com o público é o mais bacana. “A estrela é a platéia”, garante ele. Para o DJ Walmix, além de divertir e comandar a festa eletrônica, os DJs têm a função de garantir a segurança do público. “Quando o clima esquenta, cabe a nós modificar o ritmo da festa”.

A equipe do Matrix Revolution comemora a boa fase: as festas têm sempre casa cheia, daí é possível manter o pique da programação mensal. As festas desse fim de semana contam com a participação especial das aparelhagens do Treme Terra e Tupinambá, além de serem uma preparação para a gravação do 1º DVD do Matrix, que vai acontecer no próximo dia 13, no Kalamazoo.

Amanhã o show do Matrix Revolution acontece no Balneário dos Estivadores, a partir das 14 horas, e na segunda-feira, dia 9, na Associação dos Servidores da Universidade Estadual do Pará (Assovepa), na BR-316, em frente a Prefeitura de Ananindeua, a partir das 14 horas.

Serviços: Apresentação da aparelhagem Matrix Revolution. Hoje, a partir das 22 horas, na casa de shows Na Balada (Av. Bernardo Sayão próximo da Alcindo Cacela). Os ingressos no local a R$ 6.

A segunda matéria do ano abordou exatamente da mesma forma que a anterior. Primeiro informou sobre o lançamento da aparelhagem, depois fala dos shows, da história e termina acrescentando o serviço.

2

Magazine - 28/05/2005

Super Pop faz festa com cinco mil músicas

Acontece hoje o lançamento da aparelhagem Super Pop, o “Águia de Fogo”, no Iate Clube. O show vai reunir um acervo de mais de cinco mil músicas de autores paraenses, mas o próprio público é convidado a levar um CD que gostaria de ouvir. No ano passado, a festa recebeu mais de dez mil pessoas e a expectativa dos DJs, que repetem a dose amanhã, na área da Sudam, é superar esse número.

O DJ Juninho, um dos organizadores do show, explica que assim como os artistas se atualizam e buscam estar sempre em dia com os lançamentos do musicais, a disputa entre as aparelhagens é grande. “Com esse lançamento vamos mostrar para o público o que mudou na aparelhagem. São mais luzes, o jogo de iluminação foi todo incrementado, voltamos a utilizar CDs pela gama de possibilidades que ele permite, mas ainda temos notebooks com capacidade de armazenar milhares de músicas, o que facilita bastante as apresentações”, explica.

A aparelhagem Super Pop existe há 18 anos e já teve quatro denominações. “A escolha por ‘Águia de Fogo’ foi por causa da vinheta da aparelhagem, que sempre usou esse espécie de slogan”, explica Juninho. “Águia de Fogo” era o nome de um seriado muito famoso da década de 80, sobre um helicóptero da polícia que sobrevoava a cidade em busca de crimes a serem resolvidos. “Por causa dessa inspiração, todo o equipamento traz a idéia do helicóptero. Os comandos lembram uma cabine e a aparelhagem espalha gelo seco e pétalas de rosas”, descreve.

Serviços: Lançamento da aparelhagem Super Pop, o “Águia de Fogo”. Hoje, a partir das 22 horas, no Iate Clube (Av. Bernardo Sayão). Amanhã a festa acontece na área da Sudam, a partir das 15h. Ingressos entre R$ 7 e 10. Informações: 3249-0972 e 9966-8110.

A matéria seguinte associou as brigas, assaltos e mortes às festas de aparelhagens que acontecem no bairro da Terra-Firme. Não procurou ser imparcial, relatando os dois lados da questão, como o dono da aparelhagem e as pessoas que freqüentam e gostam, colocando apenas os moradores que foram questionados na matéria.

3

Polícia - 09/09/2005

Jovem é morto após sair de festa de aparelhagem

Éverton Castro de Almeida, de apenas 18 anos, foi a mais nova vítima das brigas provocadas por grupos rivais que se encontram nas saídas das festas com aparelhagens, realizadas no bairro da Terra Firme. Segundo o pai da vítima, E. S. A., que prestou depoimento ao delegado Welington Araújo, titular daquela delegacia, Éverton caminhava pela alameda Amazônia, na avenida Perimetral, quando foi surpreendido por três elementos portando arma de fogo. Ele contou ainda que o filho tentou correr, mas acabou sendo atingido por vários disparos. A vítima chegou a ser levada com vida para o Pronto Socorro do Guamá, mas acabou falecendo minutos depois.

O pai de Éverton também não soube precisar o tipo de arma usada no crime e nem quantos disparos foram realizados pelo bando. O depoente atribuiu o excesso de violência naquela área às festas realizadas com a participação de aparelhagens onde, segundo ele, o consumo de bebida e até mesmo o uso de entorpecentes são excessivos. O pai da vítima revelou ao delegado o nome de alguns suspeitos que estão sendo investigados pela Polícia Civil da Terra Firme.

Uma das maiores dores-de-cabeça dos moradores do bairro é provacada pelas festas realizadas na Ascon - a Associação dos Funcionários do Museu Emílio Goeldi, que fica na avenida Perimetral. Muitos moradores dizem que são vítimas da ação de meliantes que aguardam o final da festa para ssaltar. No início do ano, um grupo de assaltantes chegou a realizar mais de dez assaltos numa mesma rua, depois de um destes eventos. O próprio delegado Welington Araújo afirma que o ínidice de assaltos é bem maior aos domingos, quando as festas são realizadas neste e em vários outros locais, mas o delegado revela também que “esta é uma situação na qual a polícia tem se empenhado para tentar mudar”.

A quarta reportagem de 2005 fez um retrospecto das aparelhagens, fala da cultura local, como ela evoluiu tecnológica e midiaticamente. A matéria é considerada um exemplo de uma pauta cruzada, pois informou uma reportagem de um assunto local que vai ser mostrado nacionalmente pela Rede Globo, e pelo fato da TV Liberal ser afiliada e fazer parte do Grupo ORM e o Liberal ser vinculado, eles acabam divulgando. Assim o assunto é mais detalhado e aprofundado.

4

Magazine - 16/10/2005

Tecnobrega é fantástico

O DJ Dinho, da aparelhagem Tupinambá, mostra hoje no programa “Fantástico” o movimento de brega que já influencia o resto do Brasil

ESPERANÇA BESSA
DJ Dinho
Hoje tem Pará no programa “Fantástico”. Mais precisamente, hoje tem o legítimo tecnobrega paraense no quadro “Mercadão de Sucessos”, série especial de cinco programas apresentados por Regina Casé.

Um dos personagens centrais do programa é o DJ Dinho, velho conhecido do público local. “Estou muito feliz de mostrar o trabalho das aparelhagens para todo o Brasil ver”, comemora o DJ, que comanda a aparelhagem Tupinambá.
O quadro mostrará toda a infra-estrutura necessária para armar as toneladas de equipamento da aparelhagem de Dinho. Cobre a saída dos equipamentos da casa do DJ, a chegada na festa, a montagem, e a animação que é capaz de provocar nas milhares de pessoas que vão às festas. “Eles gravaram uma festa no Cidade Folia que estava com muita gente. Também fizeram um making off, mostrando os bastidores”, antecipa Dinho.

Essa não é a primeira vez que o programa de Regina Casé cruza o caminho do DJ paraense. O roteiro da participação de Dinho no “Mercadão de Sucessos” lembra em muito o programa de estréia do extinto “Brasil Legal”, que depois deu lugar ao quadro “Brasil Total”, já inserido no “Fantástico”. E isso foi há mais de dez anos, segundo cálculos do próprio Dinho. “Isso mostra que o movimento das aparelhagens não é um modismo passageiro, é uma referência. Ela voltou dez anos depois do primeiro programa e se depara com um movimento tão forte ou mais quanto naquela época”, avalia.

Além de Dinho, o episódio da série terá ainda a banda Cia do Tecno, Beto Metralha e Iran, dois dos maiores produtores de tecnobrega da atualidade. Pouca gente pode ter ouvido falar na dupla, mas eles estão por trás do sucesso de alguns dos maiores nomes da história recente do brega local, como Nelsinho Rodrigues e a banda Tecnoshow. A Cia do Tecno, nova banda no Beto Metralha, também está no programa.

Por falar em Tecnoshow, a banda liderada por Gaby Amarantos será citada no próximo programa do “Mercadão de Sucessos”, domingo que vem. Será um espisódio sobre DVDs, e um flash da recém-lançada produção do grupo paraense entrará na reportagem.

Música - Mônica Almeida dirigiu junto com Patrícia Guimarães o episódio sobre música de Belém no “Mercadão de Sucessos”, idealizado por Hermano Vianna. “A idéia é fazer uma série sobre música que junta muita gente, mas que não está na grande mídia”, destaca Mônica.

O primeiro foi sobre o funk, que de fenômeno do Rio de Janeiro virou sucesso nacional. Outro foi dedicado ao chamado “forró eletrônico” do Ceará, o terceiro à música do Sul do Brasil, e o quarto episódio chega ao tecnobrega nortista. “É uma música que reúne multidões há anos mas que o resto do Brasil conhece pouco. Pouca gente conhece o desdobramento disso, como o fato de terem bandas em Recife que vieram aqui, ouviram o tecnobrega e estão produzindo isso lá em Pernambuco agora. É toda essa movimentação que queremos mostrar”.

O que diferencia a última matéria divulgada em 2005 das primeira e segunda matérias, é o fato de ter sido mencionado o público das aparelhagens que tem crescido e a influência do mesmo para o desenvolvimento da empresa.

5

Magazine - 15/12/2005

Aparelhagem lança DVD

A Pop Saudade faz festa hoje no Casota para o lançamento de seu primeiro DVD, com o registro das festas que arrastam multidões

DJ Betinho Carvalho
A empresa Pop Som, responsável pelas aparelhagens Super Pop e Pop Saudade, lança hoje seu primeiro DVD, “Pop Saudade”, no Casota. Durante a festa, será comemorado também o aniversário de 19 anos da empresa dona das estruturas que lotam as casas de show por onde passam. Os festejos terminam no domingo com uma super festa na área da Sudam que deve durar o dia todo.

Ao comando do DJ Betinho Carvalho, o DVD foi gravado durante várias festas da aparelhagem Pop Saudade, que toca músicas que marcaram as décadas de 50, 60, 70, 80 e 90. Nas imagens, o público canta e dança diante da estrutura que já foi assunto até de revistas internacionais especializadas em música, além de mostrar o trabalho dos operadores das chamadas “naves de som”. “O movimento da saudade já é muito grande e ganha cada vez mais público. O Pop Saudade reúne centenas de pessoas por onde passa, por isso, estava mais que na hora de a gente fazer esse registro”, explica Betinho.

Para quem acha que a festa acaba junto com o fim de semana, em janeiro vai ser a vez do Super Pop fazer o seu registro audiovisual. “O público de aparelhagem tem crescido bastante e essa vai ser a nossa resposta, o nosso agradecimento para quem nos acompanhou e nos aplaudiu por todo esse tempo”, finaliza o DJ.

A Empresa Pop Som investe pesado nas suas duas aparelhagens, trazendo o que há de mais sofisticado no mercado em equipamentos de som, o que proporciona grande potência e qualidade sonora na hora de fazer a festa. A atenção e o carinho que os DJs dão para os fãs durante os shows, complementa Betinho, é o diferencial das festas e o que faz o público acompanhar as apresentações com frequência.

Serviço - Lançamento do DVD “Pop Saudade” no Casota (Av. Pedro Álvares Cabral), às 22h. Ingressos a R$ 4. Amanhã tem a aparelhagem Super Pop na Área da Sudam (Rod. Augusto Montenegro), a partir do meio-dia. Informações: 9966-8110.

Foram publicadas no ano de 2005 cinco matérias, sendo que quatro delas no Caderno Magazine e uma no Caderno Polícia. Matérias que falaram tanto da cultura, como da divulgação das festas das aparelhagens e da associação de festas à violência. A maioria das matérias não analisou o movimento cultural aparelhagem, apenas mostra que tecnologia cada aparelhagem oferece, onde a festa vai acontecer e esquecem do principal: o por quê que elas ganham cada vez mais espaço na mídia, qual o mérito que elas têm para estarem sendo pautadas, qual a importância disso para a cultura paraense. Para leigos no assunto, sente-se falta de um retrospecto de quantas aparelhagens existem no Pará, porque cada vez mais elas crescem tanto na qualidade quanto na quantidade.

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2006 - Matérias do Jornal O Liberal

No ano de 2006, as matérias de Aparelhagens iniciaram com uma reportagem divulgando uma festa GLS com a participação da Aparelhagem Rubi. É novamente um exemplo de pauta cruzada, onde um ator Global participa da festa, com divulgação feita pela Rádio Liberal, que promoveu promoções para que as pessoas possam conhecer o ator. O espaço da matéria é maior para o ator do que para a aparelhagem, dando mais valor ao que vem de fora do Estado, à novidade, do que ao que pertence ao Pará.

2006

1

Magazine - 14/01/2006

Aparelhagem em festa GLS

O ator Murilo Rosa é uma das atrações da noite, que terá ainda drag queens e go-go boys agitando o público ao som do Rubi, torre sonora comandada pelo DJ Gilmar

Para quem não acreditava, chegou a hora. Será hoje, a partir das 22 horas, na Metrópole City Hall, a 1ª Festa GLS das Aparelhagens. Com a presença do ator Murilo Rosa, que viveu o personagem “Dinho” na telenovela “América”, da Rede Globo de Televisão, a programação vai contar com uma novidade atrás da outra. No comando da nave do som, DJ Gilmar, da aparelhagem Rubi.

Murilo Rosa vai estar no palco, ao lado do DJ Gilmar, e vai receber, em seu camarim para fotos e autógrafos, alguns sortudos a serem sorteados entre os participantes da festa e, ainda, participantes de uma promoção da rádio Liberal FM. A realização da festa é um antigo projeto da comunidade GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), que promete levar drag queens e go-go boys para recepcionar o público logo na entrada.

Nos últimos anos as festas de aparelhagens vêm conquistando espaço em rede nacional, com a exibição de várias reportagens em jornais e programas de variedades. Como demonstração da força dessas festas, uma segunda edição da Festa GLS das Aparelhagens começa a ser pensada para fevereiro, com a participação da aparelhagem Tupinambá.

SERVIÇO

1ª Festa GLS das Aparelhagens, a partir das 22 horas, na Metrópole City Hall, na rodovia Augusto Montenegro, com a cobertura do portal intergaláctico Rubi e o DJ Gilmar. Presença do ator Murilo Rosa. Ingressos a R$ 15 com meia-entrada para estudantes e camarote R$ 25 (por pessoa). Vendas nas Centrais Iguatemi, Castanheira, Braz e Metrópole. Informações: 3242-7766

A segunda matéria de 2006 explorou bem o tema, citou vários personagens, analisou de forma sucinta e aprofundada como é o movimento cultural. Abordou a importância do Brasilândia na vida das pessoas, buscou valorizar a aparelhagem da saudade como se fosse para todas as idades e gostos musicais. E ainda fez um breve histórico das aparelhagens.

2

Magazine - 07/02/2006

No ritmo do Brasilândia

Aparelhagem especializada em flashback bate recorde de público e venda de cerveja na periferia de Belém. É a coqueluche do Brasilândia, o ‘Calhambeque da Saudade’.

Brasilândia
Final da tarde de sábado, sede da Apeti, na avenida Independência. Por volta das 17 horas, o salão já estava completamente lotado, fervilhando de casais, mulheres, jovens e até crianças, que dançavam ao som dos melhores sucessos do passado. Era mais uma das concorridíssimas festas do Brasilândia, aparelhagem que surgiu na década de 60 e que hoje é a única a utilizar exclusivamente discos de vinil em festas onde o principal repertório é de músicas de até 40 anos atrás.

Para Zenildo Fonseca, mais conhecido como “Agulha de Ouro”, que herdou o Brasilândia do pai, a matinê da saudade (como ele gosta de chamar suas festas promovidas nas tardes de sábado), chega a reunir mais de quatro mil pessoas.

No sábado, o público era um pouco menor: cerca de duas mil pessoas. Mas há uma explicação: era a segunda festa da aparelhagem no local e o público ainda não está habituado.

Enquanto crianças tomavam banho de piscina supervisionados por dois salva-vidas, seus pais divertiam-se no salão em frente, dançando as músicas de Jerry Adriani, Ronnie Von, Roberto Carlos e Walter Baço, além de muito flashback norte-americano. Um festa “bem família”, poderíamos dizer. À venda, pipoca, tacacá, bombons, churrasquinho e, claro, cerveja bem gelada. A festa é também lugar para encontrar um par, e muitos estão ali à procura disso.

A servente Maria de Assis, 51, garante que curou uma depressão freqüentando as festas do Brasilândia, hábito que ela adota há um ano. Após separar-se do marido, há duas décadas, passou a dedicar-se exclusivamente ao cuidado dos filhos e ao trabalho. Com o passar do tempo, a solidão foi inevitável. “Foi quando meus filhos começaram a me incentivar a vir para as festas do Brasilândia. Me diziam que era legal, e eu resolvi conferir”, diz Maria.

Atualmente, ela não perde as matinês de sábado ou domingo, e chega a deslocar-se do bairro do Marco, onde mora, para qualquer outro ponto da cidade onde aparelhagem esteja tocando. “Sendo durante o dia, eu venho mesmo. Aqui a gente dança, se diverte, conhece gente nova. É muito animado. Eu me livrei de uma depressão vindo dançar aqui”.

Brasilândia
Para Maria, as pessoas que freqüentam estas festas são o principal atrativo, depois da seleção musical. “As pessoas são interessantes, respeitadoras, sadias, querem fazer amizade e tratam a gente muito bem”, afirma.

Entre as músicas preferidas de Maria, estão os sucessos de Fernando Mendes e Roberta Miranda. “A música é ótima, só de vir ouvir eu já me sinto bem. Às vezes até fico sozinha, tomando a minha cervejinha, e me divirto muito”.

Ainda sozinha, Maria tem esperanças de encontrar um novo amor entre os freqüentadores do Brasilândia. Reunindo-se com os amigos todo final de semana, ela acredita que isso não será muito difícil de acontecer.

Festa é opção para mais jovens

Brasilândia
O casal de namorados Lucila de Alexandria, 55, dona-de-casa, e Claudomiro Souza, 56, carteiro, tem o hábito de freqüentar as festas do Brasilândia há seis anos, desde quando começaram a namorar. Mesmo morando em casas separadas, eles não deixam de sair nenhum final de semana, e resolveram trocar as badalações noturnas pelas vespertinas por causa da violência.

“Aqui a gente se diverte sem preocupação. Tocam todos os ritmos e não temos problema de transporte para voltar para casa, nem corremos o risco de sermos assaltados, como acontece de madrugada. Adoramos sair para dançar, bater papo e comer churrasco. São os nossos programas preferidos”, afirma Lucila.

Para Souza, que mora no Jardim Sideral, sair de casa durante o dia é mais tranqüilo e as festas do Brasilândia são a primeira opção por causa da seleção de músicas. “Gosto muito de ouvir os sucessos do passado, de dançar. Também é melhor sair à tarde porque a gente se diverte e volta cedo, sem perigo”.

Mas não são só as pessoas de mais idade que gostam do Brasilândia. Há pessoas como o autônomo Alexandre Vinagre, 30, que há anos troca as tardes de sábado com a família para reunir-se com os amigos nas festas. “Eu cresci ouvindo esse tipo de música, e a gostar com o meu pai. Procuro conciliar com o meu horário e trabalho, porque é um lugar bom para paquerar, para fazer amizades, conhecer gente nova. É muito bom”, diz Vinagre.

Acompanhado de outros amigos, que juntos denominam-se “Legião da Saudade”, Vinagre assume que esconde da mulher o destino certo das tardes de sábado, que afirma serem totalmente diferentes daquelas promovidas pelas outras aparelhagens. “Aqui não tem briga, dá para curtir bem. Eu até já freqüentei as festas de tecno, mas não é a minha praia”.

Tudo começou nos anos 40, com um aparelho de som

O proprietário do Brasilândia, Zenildo Fonseca, conta que tudo começou com seu pai, nos anos 40. O comerciante Zeno Fonseca, dono de uma fábrica de móveis no bairro da Matinha (hoje Fátima), começou a colocar um aparelho de som em frente à loja e, aos poucos, foi recebendo convites para tocar nos aniversários dos filhos dos amigos. O que era a princípio uma diversão, foi gerando dividendos até ocupar status de principal ganha-pão da família.

Zenildo, herdeiro da aparelhagem, faz questão de manter o compromisso e a tradição iniciada por seu pai há mais de 60 anos. Ele mantém a exclusividade dos vinis - os DJs só usam CDs e MDs para tocar a abertura da festa e as vinhetas. O acervo de vinis do Brasilândia já soma mais de 30 mil unidades, entre LPs, long plays e compactos, de rotação 33 ou 78. “O vinil é mais fácil de ser conservado. Nós temos um segredo, uma química, que recupera qualquer tipo de arranhão, o que não acontece com o CD”, explica.

Para ele, o grande “barato” de usar vinil, ainda é o ruído característico da agulha em contato com a superfície do disco. “As pessoas gostam de sentir esse som original, o chiado, de saber que estão ouvindo um vinil e não um CD. Gostam de sentir a essência da música”, diz ele.

Para manter seu acervo atualizado, ele tem dois funcionários que percorrem as feiras e sebos de Belém e do interior atrás de relíquias. E para manter o estilo, manda buscar na Alemanha agulhas para as eletrolas, por cerca de R$ 45 cada. São mais de cinco agulhas por festa. “Tem vezes que algumas agulhas estragam ao tocar um único disco. Por isso é preciso ter sempre um estoque bom”.

E com tanto empenho, o reconhecimento chega a galope. A aparelhagem recebeu no último sábado, durante a festa realizada no Clube dos Sargentos, Cabos e Taifeiros da Aeronáutica (Casota), o Disco de Platina da Enaps por recorde de bilheteria. No próximo dia 12, na sede do Estivadores, vai receber o Disco de Diamante do Sesc por recorde de público e de venda de cerveja. Zenildo afirma que, nas festas, são vendidas de mil caixas de cerveja por final de semana. “Além da equipe de 20 pessoas do Brasilândia, as festas geram ainda cerca de 100 empregos indiretos”, completa.

Ele comemora também o sucesso do primeiro DVD, gravado em outubro de 2005 e que já atingiu a marca de cinco mil cópias vendidas. “Já temos planos de gravar o segundo este ano, também em outubro. O título será ‘Novo Calhambeque 2006 - A Viagem Continua’”, anuncia.

A próxima é uma matéria que registrou os fatos, expôs ambas as partes envolvidas, como no caso os donos do Tupinambá que foram roubados quanto o acusado de cometer o furto. Não denegriu e nem elevou a imagem da aparelhagem.

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Polícia - 10/02/2006

Preso ladrão da “Tupinambá”

Ele agiu sob encomenda para roubar equipamentos dos donos da aparelhagem

Já se encontra recolhido à carceragem da Seccional Urbana do Guamá Cléber Calandrini do Rosário, o “Binho”, de 21 anos, residente na rodovia Arthur Bernardes, passagem União, casa 7, bairro do Telégrafo. Ele foi preso na manhã de ontem e confessou ter roubado dos proprietários da aparelhagem de som “Tupinambá” um notebook (computador portátil), nº 1020, PRO, Celeron, 1.7 GHZ, Compaq e um projetor de imagens data-show da marca Sony.

O crime ocorreu no dia 29 de novembro do ano passado, às 5h30, na sede Pit-Stop, situada à rodovia BR-316, rua Principal, município de Benevides. Os aparelhos eletrônicos pertenciam ao empresário Antônio Carlos de Araújo Correa um dos sócios da aparelhagem de som. O prejuízo, segundo a vítima, ficou em R$ 12 mil.

“Binho” trabalhava como iluminador da aparelhagem e sabia como funcionava o esquema de trabalho. Atualmente, ele disse ser funcionário da aparelhagem Matrix, onde recebe uma diária por festa superior à da empresa anterior. Antes já teve passagens pela Polícia, por ser integrante de gangues do Telégrafo.

Para furtar os produtos eletrônicos, ele aproveitou o momento em que não havia ninguém por perto para subtrair os equipamentos após o encerramento da festa, em Benevides. No dia seguinte ao roubo, passou o computador portátil a um receptador, identificado apenas por Sandro, que reside no bairro do Telégrafo.

Investigadores de Polícia Civil da Seccional do Guamá estiveram na residência de Sandro, mas não o encontraram no local. Segundo o policial “Bené”, que está à frente das investigações, “Binho” foi usado como laranja por Sandro, um estelionatário, hacker e assaltante, que teria iludido o autor do delito.

Em sua estratégia, Sandro aluga uma casa e um telefone convencional, onde leva as pessoas que pretende aplicar os seus golpes. Até hoje, dois meses depois, “Binho” não recebeu de Sandro nenhum valor pelo furto. O computador portátil e o projetor de imagem estavam encomendados por uma terceira pessoa.

No acerto com “Binho”, Sandro pagaria R$ 300 e mais outra quantia indefinida em troca do projetor de imagem e do notebook. Com o seu pai desempregado, “Binho” aceitou a proposta e se deu mal. Ele será autuado por furto qualificado, cuja pena varia de dois a seis anos de reclusão em regime fechado. Sandro continua foragido.

Logo no subtítulo da quarta matéria de 2006 (ver página 127) pôde-se captar alguns adjetivos que valorizam excessivamente a imagem tanto da aparelhagem como a do DJ. A matéria analisou e descreveu detalhadamente como é esse movimento cultural, fazendo um “raio x” de como é uma festa de aparelhagem, uma análise que vai desde as pessoas que trabalham até o público que freqüenta. Utilizou personagens para enriquecer a matéria e complementou com a história do Tupinambá.

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Magazine - 14/03/2006

O altar sonoro do tecnobrega

O DJ Dinho é o grande cacique desta tribo sonora que começou a arrepiar da periferia para o centro e conquistou lugar de destaque na mídia e na cultura

Tupinambá
Sábado, meia-noite. A avenida Bernardo Sayão está congestionada, não apenas por carros, mas por centenas de jovens que ocupam a rua, indo para o Iate Clube do Pará. Vendedores de bombons e flanelinhas abordam os clientes com a boa conversa característica dos que precisam conquistar para ganhar o dia (ou a noite). A boa fumaça do churrasquinho a R$ 1 se propaga no local e o som contagiante que chega à rua faz o corpo dançar antes da hora. A placa e uma logomarca famosa indicam o motivo do furdunço - tem apresentação do Tupinambá, uma das maiores massas de sons do planeta. É a terceira matéria da série sobre o brega e estamos num dos eventos mais característicos da cultura paraense: uma festa de aparelhagem e a importância dos chamados treme-terra na história do ritmo que sacode o Brasil.

A fila para a compra de ingressos está indócil. Dentro do clube, não propriamente no salão, alguns sentam-se em torno de um carro de cachorro-quente (com picadinho, está claro, e não de salsicha). O salão parece lotado, mas logo ficará intransitável: mais de trinta pessoas entram a cada minuto. O público é variado: a grande maioria, jovens com menos de 25 anos, que usam roupas estilizadas (muitas marcadas pelo improviso nos acessórios), que aparentam também ser de classes sociais diferentes. A azaração corre solta, mas o clímax fica reservado para o salão: aqui, quem não dança, dança! Seguranças circulam ostensivos no enorme salão, onde dezenas de garçons oferecem baldes com quatro latas de cerveja a R$ 12.

Uma da madrugada. A galera chega em massa e o salão parece tão lotado que é de estranhar como conseguem entrar. Telões exibem takes do público e do Altar Sonoro do Tupinambá: uma parafernália de luzes, dezenas de equipamentos eletrônicos, o DJ mandando ver em consonância íntima com o público e suas reações. O repertório é variado - axé music, disco, house, acid e outras tantas batidas. E, principalmente, o tecnobrega, mais de 60% de tudo o que as aparelhagens executam.

Palco - O brega é também o momento em que a paquera fica mais rasgada, os casais evoluindo, hora soltos, hora agarradinhos. E aí se confirma o que sabemos todos: o paraense é um bom de perna. Ir a uma festa de brega não é apenas divertir-se, mas é sobretudo exibir-se; o salão não é apenas a nave onde se aproveita a festa, mas o palco onde o público se apresentar como dançarino.

Duas da madruga. As pessoas chegam em menor quantidade, mas a bilheteria está escancaradíssima. O espaço está irrespirável, os gritos estão mais eufóricos, a festa está no auge. Mulheres usam na cabeça pequenos cocares vendidos a três reais na entrada do salão (o sinal da tribo que cai nas festas do Tupinambá). De vez em quando, ao comando do DJ, rola o refrão (’Faz o T, Faz o T, TT’) e o público toca o antebraço com a mão, na saudação da tribo. Três travestis desfilam rindo, imensos em seus saltos, e elegantes em suas ousadas saias e vestidos brilhantes. Grupos de amigos dançam em pulos conjuntos, de mãos dadas. O Iate Clube é uma discoteca de características e proporções especiais, cujo principal diferencial é a variedade do beat e a supremacia do brega. A estudante Rose Menezes, 18 anos, moradora do Guamá, destila paixão. ‘Vou a todas as festas do Tupinambá. O que mais gosto é a variedade das músicas. E do tecnobrega, claro’. A opinião é compartilhada por outras duas estudantes, as amigas Tatiane Costa da Silva, 18 anos, e Cássia Andrade, 22 anos, da Pedreira. Ambas chamam, com intimidade, o brega por uma de suas variáveis, o melody, e, sempre que podem, prestigiam alguma aparelhagem.

Três da manhã. A festa continua quente, mas muitos já buscam a saída. Suados, eufóricos, fazendo brincadeiras em grupos. O carro de cachorro-quente fumegando. Churrasquinhos tresandam na madrugada. O trânsito na rua está menos emperrado. Outra festa à paraense (em multidão) cumpre a missão de corresponder à medida de nossa energia.

Pará desenvolveu por si um jeito de fazer festa

Giseli Vasconcelos
Em maio próximo, um livro reunirá mais de trinta artigos de especialistas e pesquisadores brasileiros sobre o impacto das velhas e novas mídias na sociedade. O trabalho da paraense Giseli Vasconcelos intitula-se ‘Espaço[nave] - manifestação coletiva do aparelhamento midiático’ e trata do sucesso das aparelhagens no Pará. O livro é patrocinado pelo ‘WAAG For Old and New Media’, centro de mídia financiado pelo governo holandês que estuda, em todo o mundo, o impacto das tecnologias de mídia na sociedade e será organizado pela própria Giseli e pelos pesquisador paulista Ricardo Rosas.

A paraense lembra que, na metrópole do barulho, os níveis de ruídos extrapolam o limite de 65 decibéis estabelecido pela OMS, a média é de 80 decibéis, provocada por peculiaridades locais como os treme-tremes (sistemas sonoros), as bocas-de-ferro (rádio-cipó, rádio-poste), alto-falantes em lojas de bairro e inúmeros carros de som.’

Amapá, Pará e Maranhão são redutos desta cultura, onde a Amazônia encontra o mar e o Brasil vira Caribe, a reprodução e transformação dos sound systems jamaicanos deu origem às radiolas do Maranhão e às aparelhagens do Pará.’

Segundo ela, há no Pará em torno de 2.000 aparelhagens de pequeno, médio e grande porte, que viajam pelo interior e pelo Norte e Nordeste tocando basicamente ritmos locais. Com o maior e mais barato acesso às tecnologias, tanto as aparelhagens quanto o brega abrigado por elas ganham outras características. Assim em 2002 surgiu o tecnobrega, ‘um jeito mais barato de se fazer música explorando ferramentas no computador’. O tecnobrega utiliza versões da música pop internacional, às vezes de forma integral (com novas letras) ou parcial, ‘explorando a colagem, sampleagem e o remix’. E também de instrumentos pré-gravados.

Pobreza - Giseli cita o geógrafo brasileiro Milton Santos, para quem ‘os lugares são mundos, que se reproduzem de modos específicos, individuais e dispersos, sendo singulares, mas também globais. Com o impacto da mundialização da cultura aliada às novas formas de relação com a tecnologia de informação, o conceito de local e região tem que ser visto de forma universalizada, ou seja, não de forma isolada, mas com ações no local, no nacional e no global. Nesse sentido, o diferencial será a marca da singularidade de cada região, que num contexto global consegue ser visto como diferente, próprio e original.’ A partir desta ótica, ela conclui que, ‘no Brasil do capitalismo informacional, se há identidade e alma nacional, ela encontra a sua expressão na pobreza’.

Formada em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e tendo morado durante dez anos em São Paulo, Giseli observa que o movimento brega, no qual se incluem as aparelhagens, deve ganhar também um viés político, de análise, registro e reconhecimento, ‘ou corre o risco de se perder no tempo’. Para ela, o brega não é apenas do povo, ou de determinada classe social, ou da periferia; é de todo paraense, que de um jeito ou de outro conviveu com o movimento, com seus artistas e sua diversão. A não-preservação disso, independente de se gostar ou não do ritmo, é uma rasura cultural que precisa ser evitada. ‘É preciso gerar outras discussões, explorar os muitos lados em torno do movimento que permanecem intocados, despertar o interesse de outros pesquisadores. A série de matéria que vocês estão publicando, por exemplo, cumpre um papel importante nesse processo.’Boca a boca - Giseli disse ainda que o modelo de propagação seguido pelas aparelhagens e o movimento brega em geral é o do ‘faça você mesmo’, mas de forma específica. ‘Eles desenvolveram o próprio processo, e aperfeiçoaram a própria mídia, em consonância com um público específico, com elementos dirigidos àquele público, quase numa conversa boca a boca ao pé do ouvido. Isto gera também funções específicas, como a de garrafeiros (que apanham garrafas e latas depois das festas para vender) e os vendedores de suvenires das aparalhagens, como calcinhas, toalhas e camisetas com motivos dos treme-terras, e se vêem, por exemplo, tacacazeiras na festas, e não há nada mais paraense, para, por exemplo, combater uma ressaca.’

Giseli cita uma pesquisa feita em Belém dois anos atrás, que conclui que uma das singularidades da economia informal em Belém, Macapá, Recife e Caribe é ainda marcada pelo mercado ambulante: ‘os produtos são oferecidos de forma itinerante e pela cantoria’. E foi desta forma que o brega ganhou o Brasil e as aparelhagens paraenses ganharam o Norte e Nordeste e influenciaram, por exemplo, o desenvolvimento das radiolas no Maranhão’.

Giseli lembra ainda que o jeito paraense de fazer a coisa é tão acabado, tão aperfeiçoado ao longo do tempo, que não precisamos copiar nenhum outro modelo de festa: ‘Os outros é que precisam ser influenciados. Nosso movimento já é forte demais’.

Tupinambá conquista tribos da classe média

Tupinambá
O Tupinambá surgiu há 28 anos, a partir das festas familiares organizadas e sonorizadas por Andir Correa, pai do DJ Dinho, o atual cacique da aparelhagem e um dos DJs mais célebres da cidade. Dinho (hoje com 37 anos) começou a tocar aos dez na aparelhagem do pai e assumiu o negócio em 1996, com a morte de Andir. Hoje o Tupinambá é o treme-terra mais famoso do País, saudado por Fernanda Abreu, tema de teses, dissertações e reportagens em âmbito nacional em televisões, aparições no ‘Fantástico’, com Regina Casé, e no ‘Altas Horas’, da TV Globo.

‘A classe média é nosso público predominante, inclusive com apresentações em alguns dos clubes mais tradicionais da cidade, como Assembléia Paraense, T-1 e AABB’, comemora Dinho. O Tupinambá toca em média cinco vezes por semana, sempre por contrato de locação, a R$ 10 mil a festa. A aparelhagem emprega diretamente 33 pessoas, entre motoristas, carregadores, auxliares de palco de montagem de equipamentos, além de quatro DJs: o próprio Dinho, Wesley, Toninho e Ágata, ‘a única DJ mulher das aparelhagens de Belém.’

Dinho tem plena consciência da importância das aparelhagens não apenas para o brega, mas para a cultura paraense. ‘Apesar de toda a estrada e nossas vitórias, ainda tem preconceito. Os governos, os políticos, deveriam considerar nosso movimento em políticas culturais. O apoio institucional hoje para que isso se expanda é mínimo. No entanto, as aparelhagens e o movimento brega geram milhares de empregos.’DVD - Na festa de sábado passado, o Tupinambá lançou o primeiro DVD da aparelhagem, gravado em dezembro no Hangar do Aeroclub. O DVD custa R$ 12 e oferece uma boa mostra do repertório, da nave de som, do público, iluminação e efeitos, além de takes dos bastidores e um making of com os bastidores da produção do próprio DVD. ‘Dez meses atrás, lançamos um CD que vendeu 60 mil cópias. As aparelhagens não são apenas um modismo. Tampouco o movimento brega: além da Banda Calypso, tenho certeza de que outros cantores vão estourar, e permanecerão por muito tempo.’

Dinho afirma que o sucesso da Banda Calypso já aumentou o público para o brega dentro do próprio Pará. ‘Isto é evidente. Nossas festas estão muito mais cheias: em média cinco mil pessoas por apresentação. Estamos a todo o vapor.’

A matéria seguinte abordou tanto o evento como a história da aparelhagem. Analisou a evolução da aparelhagem que conseguiu mais adeptos e fã-clubes e do número de apresentações que aumentou consideravelmente. A festa de gravação de DVD de uma aparelhagem é muito mais do que uma festa que acontece cotidianamente, pois as pessoas vão ter a oportunidade de estarem presente no registro desse momento, fazendo parte da história da aparelhagem.

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Aparelhagem Super Popsom grava DVD no Hangar

19/03/2006

Uma grande festa vai marcar, a partir das 16 horas deste domingo, a gravação do primeiro DVD da aparelhagem sonora Super Popsom, que contabiliza 20 anos de atividades em Belém e em municípios do interior do Estado. À frente da gravação do DVD estão os DJs Juninho e Elison e o produtor Hélder Corecha. A festa será no Hangar do Aero-Clube, na avenida Senador Lemos, perto da Doutor Freitas. O lançamento do DVD deve ser ainda este ano.

Foi Elias Carvalho, pai do DJ Juninho, quem criou a aparelhagem sonora. ‘As aparelhagens animando festas em Belém e interior não é um modismo, tanto que o Super Popsom tem 20 anos e elas vêm se modernizando cada vez mais’, afirma Corecha. Juninho relata que há 20 anos as aparelhagens eram bem simples. Por exemplo, o Popsom nem era ainda Super Popsom e animava festas com um toca-discos, um DJ, fitas-cassete, um tape-deck, ao passo que hoje contabiliza dois DJs, iluminação específica, programação musical computadorizada com uma playlist reunindo mais de cinco mil músicas. ‘O DJ tem a opção de mixar músicas ao vivo’, destaca Juninho, informando que são utilizados cinco telões.

O Popsom fazia quatro festas por mês e, atualmente, o Super Popsom responde pela animação em 16 festas mensais. Hoje em dia, os DJs são artistas, as aparelhagens são homenageadas com músicas por parte de cantores e bandas, há fã-clubes de aparelhagens. Só o Super Popsom contabiliza 40 fã-clubes, entre os quais o Eternamente Popsom, Explosão Popsom e As Marias do Pop.

Na gravação - Na gravação do DVD, o Super Popsom vai contar com o slogan original da aparelhagem: ‘O Águia de Fogo’. Esse slogan acompanha a aparelhagem desde quando foi exibida uma minissérie homônima pela Rede Globo de Televisão e a nomenclatura foi adotada pelos programadores musicais. O DJ Juninho programa um salto de pára-quedas na chegada ao local da festa de hoje. No DVD vão estar depoimentoes de artistas como as bandas Fruto Sensual e Technoshow, entre outros. O DVD terá como particularidade informações detalhadas sobre como funciona uma aparelhagem sonora, ou seja, o que fazem os djs, como é montada uma aparelhagem e outros aspectos desse fenômeno musical paraense, que a cada dia ganha mais espaços fora do Estado.

No repertório da festa irão predominar músicas de autores paraenses nos ritmos calipso, techno-brega, melody, forró, dance, axé/quebradeiras e pagode. Será utilizado um sistema de laser, adotado em shows da banda mineira Jota Quest. Também será organizado um show pirotécnico. ‘A nossa proposta sempre foi divulgar a música paraense’, observa Juninho, que fará o ápice da programação musical da noite, quando sola uma guitarra eletrônica em uma das músicas da aparelhagem.

Serviço - Gravação do DVD da aparelhagem sonora Super Popsom, 16 horas, no Hangar do Aero-Clube, na avenida Senador Lemos, próximo da Doutor Freitas. Ingressos antecipados a R$ 7,00 no local, até a hora da festa. Até as 17 horas, mulher não paga. Informações: 9966-8110.

A sexta reportagem de 2006 (ver página 132) ofereceu espaço para os dois lados em questão. Não denegriu a imagem de ninguém, apenas relatou os fatos.

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Polícia - 08/04/2006

Justiça apreende aparelhagem sonora

A apreensão foi para quitar dívida que o DJ Dinho contraiu com uma ex-sócia. Durante a ação dos oficiais de Justiça, seguranças agrediram jornalistas

Oficiais de justiça apreenderam ontem os equipamentos da aparelhagem Tupinambá, do DJ Dinho, na casa de shows ‘Mauro’s Drink’s’, na rodovia Augusto Montenegro. A apreensão dos equipamentos foi para cumprir decisão da juíza Luzia do Socorro Guimarães, da 4ª Vara Cível da Capital. Ela ordenou o seqüestro da aparelhagem e a indisponibilidade dos bens do DJ Dinho, incluindo carros e imóveis. Durante a apreensão dos equipamentos, um repórter fotográfico do Amazônia Hoje foi agredido com um soco na cabeça. Ele estava no interior do ‘Mauros Drinks’ quando foi cercado por vários funcionários da casa de shows e da aparelhagem.

A ação que resultou na apreensão dos equipamentos foi movida por Elisângela Saldanha, ex-sócia do DJ Dinho. Ela requereu na Justiça a devolução do dinheiro que investiu na montagem da aparelhagem, cerca de R$ 198 mil. Na ação na justiça Elisângela quer R$ 400 mil. Ela disse que trabalhava com produção de eventos e que foi procurada pelo DJ Dinho para que montassem juntos a aparelhagem ‘Tupinambá’. A produtora investiu os R$ 198 mil, entre dinheiro emprestado ao sócio, iluminação, equipamentos de som e um carro, uma picape. Mas manteve todo o investimento em seu nome. ‘Eu investi dinheiro porque achei que não tinha como não dar certo, o que acabou se confirmando. Só que ele não me pagou um real do que me emprestou’, disse Elisângela.

Hoje ela é pecuarista, no interior do Estado. E disse que recorreu à justiça depois de muitas tentativas de negociação com o DJ e várias promessas falsas de pagamento. A ex-sócia de Dinho deciciu impetrar na Justiça uma ação cautelar inonimada, pedindo o ressarcimento com correção monetária e juros, do total que ela emprestou. ‘Eu tentei entrar com um processo na esfera penal, mas ele não andou e eu não consegui nada, em função da influência dele (Dinho). Mas, agora, felizmente, a justiça está sendo feita’, comemorou Elisângela.

Os equipamentos apreendidos ontem foram levados para um depósito em Belém. Rosângela foi nomeada judicialmente como fiel depositária da aparelhagem e dos objetos apreendidos, até a quitação da dívida.

O irmão do DJ Dinho, que não quis se identificar, estava no ‘Mauro’s’, não quis falar sobre a apreensão. Mas interpelou a equipe de reportagem do Amazônia Hoje, tentando impedir que os jornalistas registrassem em fotos a ação judicial. O irmão do empresário chegou a pedir para que a reportagem não fosse feita, para não abalar a imagem do Dj Dinho e da aparelhagem ‘Tupinambá’.

No momento em que resgistrava a saída dos equipamentos da casa de shows ‘Mauro’s Drink’s’, um repórter fotográfico do Amazônia Hoje foi agredido com um soco na cabeça e teve o equipamento fotográfico tomado. Ele foi empurrado por vários homens para fora do estabelecimento. A repórter de texto Amazônia Hoje foi cercada no interior da casa de shows, por pessoas que trabalham no ‘Mauros’ e na aparelhagem. O equipamento só foi devolvido para a equipe com a intervenção do investigador policial Ivan Quadros, que o tomou de um dos seguranças. Ele também protegeu a jornalista para que ela saísse da casa de shows. O comandante da 1ª Zpol, capitão PM Neil Duarte, enviou ao local uma guarnição da Polícia Militar, que escoltou a equipe de reportagem até a conclusão de seu trabalho.

A sétima matéria (ver página 134) abordou o show de Elymar Santos com a aparelhagem Brasilândia, sendo que o espaço que retratou o perfil do cantor foi maior do que o da aparelhagem.

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Magazine - 15/04/2006

Show para curtir a saudade
Brasilândia
Elymar Santos divide hoje o palco da Metrópole com a aparelhagem Brasilândia em show que vai recordar grandes sucessos do cancioneiro popular do Brasil

O encontro sonoro da espontaneidade do cantor Elymar Santos e da aparelhagem Brasilândia acontecerá hoje à noite, na casa de espetáculos Metrópole, a partir das 22 horas. O cantor, que está em Belém há uma semana e já se apresentou no Golden Palace, mostra-se entusiasmado com a oportunidade de se apresentar junto com o Brasilândia, cujo repertório remete os dançarinos e ouvintes das festas ao passado por meio de músicas em vários estilos. ‘Ser espontâneo é estar vivo e atento a todas as coisas, sem se importar com o que o vizinho vai pensar. Ser espontâneo é ser feliz’, afirma Elymar, comemorando 20 anos de carreira e que promete agitar o público com seus sucessos e músicas inesquecíveis. Acima de qualquer rótulo, Elymar não liga para quem prefira chamá-lo de brega. Prefere ser um cantor do povo, como ele mesmo declara.

O cantor afirma que um show nunca se repete, ’sempre tem algo diferente’. ‘No show, além dos meus sucessos, eu vou entrar no clima da festa, aquela coisa meio saudosista e nessa praia eu tenho um repertório vasto, porque já regravei grandes clássicos. Eu fiz o ‘Elymar Popular, ‘Elymar mais popular’. ‘O Amor e Dor Acústico 1 e 2’, todos discos com regravações de grandes clássicos e clássico tem a cara do povo de Belém. Então, eu acho que vai ser uma grande noite’, ressalta o cantor.

Clássicos - Antes dos 20 anos de sucesso nacional, Elymar apresentava-se em bares da noite carioca. Mas foi como um cantor popular que ele conquistou a simpatia de públicos diferentes, interpretando sucessos como ‘Escancarando de Vez’, ‘Taras e Manias’, ‘Mal de Amor’ e outros, além de regravações que integram o repertório dele. Essas canções e regravações vão estar no show do artista hoje à noite, como atração a mais: ‘O show está baseado no ‘Elymar de Todos os Santos’ que eu acabei de lançar em DVD (comemorando a centésima apresentação no Canecão, lançado no começo deste ano) e no que eu acabei de gravar agora, que é o ‘Procura-se uma pessoa que ainda tenha tempo para ser feliz’ ‘.

Entre outros clássicos que poderão abrilhantar o baile de hoje à noite, figuram ‘Sonhar Contigo’, ‘Quem eu quero não me quer’, ‘Quem é’, ‘Eu nunca mais vou te esquecer’, ‘Negue’ e outros, ‘Essas coisas que o povo gosta, não tem jeito. São fatais, são músicas fatais’. Há 20 anos, o cantor arriscou todas suas fichas em um show no Canecão, no Rio de Janeiro, e explodiu no Brasil inteiro. ‘Eu era um louco que alugou o Canecão, era um cantor de bar, um cantor da noite. Em 12 de novembro de 2005 eu gravei um CD e DVD comemorando o show ‘Procura-se uma pessoa…’), porque foi em 12 de novembro de 1985. É um segundo espetáculo, agora, que também foi dirigido pelo Chico Anysio, e o Chico está escrevendo um livro agora, contando a minha trajetória, a minha passagem pelos bares, chegando no Canecão e até os dias de hoje’.

Periferia - Elymar sempre foi um cantor espontâneo. ‘Eu sou muito ligado em agradar ao povo, porque eu tenho compromisso com o povo. Tem artista que canta pra si. Eu consigo cantar para mim e cantar para o povo. É por isso que dá certo’. No Brasil hoje existe um movimento todo de valorização das sonoridades das periferias das cidades brasileiras e Elymar Santos foi um artista que saiu da periferia carioca (Complexo Alemão, em Ramos, um local com alto índice de violência urbana) como um dos precursores desse boom que se verifica agora.

‘Eu acho o máximo essa valorização da periferia. Geralmente, quem canta pra si tem um público limitado. Diz que seu público não é muito grande, mas é um público elitizado, é de classe, não sei quê. Primeiro que público não tem classe, esse negócio de classe é para cavalo. Gente é gente em qualquer lugar, em qualquer situação. Eu canto com a mesma disposição, mesmo cuidado, mesma categoria, no Canecão, no Municipal, eu canto na favela. Todas as pessoas têm o direito de ver o trabalho. Ser artista de público limitado é fácil, difícil é ser popular, difícil é agradar à massa’.

Cantar em Belém possui um gosto peculiar para o cantor, porque já no primeiro disco dele, sem nunca ter vindo à cidade, a capital paraense era o segundo lugar em vendagem no Brasil, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Para Elymar Santos, os bailes da saudade são iniciativas em um cenário natural de valorização de músicas antigas e novas no Norte e Nordeste do Brasil. O Norte e Nordeste sempre tiveram um respeito muito grande pelos ídolos. No Pará ou no Ceará, você liga o rádio e ouve o Jota Quest, mas daqui a pouco você ouve a Núbia Lafayette, Nelson Gonçalves, Roberto Carlos, Fábio Júnior’.

No palco, Elymar Santos vai estar hoje com José Leal na percussão, Michelle no backing vocal, Jean Benedito no teclado, com a qualidade da banda de 14 músicos que ele leva para o Canecão. Logo após a Copa do Mundo, em outubro, Elymar vai lançar o CD e DVD de ‘Procura-se uma pessoa que ainda tenha tempo para ser feliz’ (faixa-título composta por Isolda), no Canecão.

O dj Zenildo Fonseca, responsável pela Aparelhagem Brasilândia, que contabiliza 60 anos de som, adianta que antes de Elymar Santos o público vai contar com muita jovem guarda, iê-iê-iê, twist até o carimbó, ‘para viajar no mundo das recordações’. O Brasilândia reúne numa festa o mínimo de mil pessoas e numa grande programação, cerca sete mil pesssoas, afirma Zenildo. ‘Na semana que vem, vamos estar com o Fernando Mendes no Casota’, anuncia o dj, indicando que a saudade vai continuar embalando os casais nas pistas de dança.

SERVIÇO

Show do cantor Elymar Santos e aparelhagem Brasilândia - ‘O Calhambeque da Saudade’. Na Metrópole, na avenida Augusto Montenegro, a partir das 22 horas. Ingressos antecipados a R$ 10,00 e, na hora, a R$ 15,00. Informações: 3248-5569.

A oitava reportagem (ver página 136) fez uma prévia da gravação do DVD e agora complementou a informação com o lançamento do DVD. Registrando o fato como um movimento cultural que cada vez mais ascende.

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Magazine - 07/05/2006

PopSom lança DVD em festa no Aero Clube

“Aberto a todas as tribos de Belém”, o lançamento do “Super PopSom - 0 DVD do Século” deve reunir mais de 10 mil pessoas hoje. Juninho anima a festa.

EDUARDO ROCHA

Super Pop
Chegou o momento tão aguardado pelos de fãs da aparelhagem Super PopSom: a partir das 16 horas de hoje, no hangar do Aero Clube, acontece o lançamento do DVD ‘Super PopSom - O DVD do Século’, com apresentação de artistas regionais, numa grande festa aberta para todas as tribos. Somente para essa festa de lançamento, estarão disponíveis 2 mil cópias do DVD, que foi todo produzido pela TV Norte a partir da gravação do show da aparelhagem no dia 13 de abril deste ano, no mesmo hangar do Aero Clube. Dessa festa muita gente participou, como artistas, torcidas de Remo e Paysandu e dançarinos, que deverão novamente lotar o local na tarde e noite de hoje.

O DVD traz, entre outras atrações, a festa promovida pelo Super PopSom, entrevistas e depoimentos com artistas, como Gaby, líder da banda Technoshow, banda Fruto Sensual e djs, além de making off. Uma das atrações do DVD são as performances do dj Juninho, com guitarra e bateria eletrônicas.

Nos últimos anos, a música paraense ganhou projeção nacional com nomes que fazem sucesso na MPB, como Leila Pinheiro, Fafá de Belém, Jane Duboc, Nilson Chaves, Lucinnha Bastos, e novos horizontes com o som das aparelhagens. Aparelhagens que tem público cativo e cada vez maior na periferia de Belém, animando bailes e festas, com muito technobrega, calypso e outros ritmos. Uma equipe da apresentadora Regina Casé, do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, veio recentemente a Belém para gravar uma reportagem sobre a febre das aparelhagens sonoras na periferia de Belém para ser exibida provavelmente em junho.

Com o sucesso obtido pelas aparelhagens e artistas que divulgam sua música a partir desses complexos sonoros, clubes sociais, como a Assembléia Paraense, passaram a sediar festas animadas por esses djs, cantores e bandas. Aparelhagens como o Super PopSom, Brasilândia, Tupinambá e Rubi arrastam multidões em Belém e em municípios do interior do Estado. Todas elas já gravaram DVDs.

História - A família PopSom, administrada por Elias Carvalho e filhos, atua com duas aparelhagens: o Super Pop (Águia de Fogo), sob o comando dos djs Élison e Juninho, e o Pop Saudade, conduzido pelo DJ Betinho. Além de instrumentos sofisticados, o Super PopSom conta com a atenção dos djs para com o público como uma qualidade presente nas festas da aparelhagem.

Na festa de hoje, os djs Élison e Juninho irão mostrar porque são considerados por muita gente como os melhores da atualidade em Belém. Um esquema de segurança foi providenciado para garantir o bem-estar dos participantes da festa de lançamento do ‘DVD do Século’, que promete colocar para dançar perto de 10 mil pessoas.

A matéria posterior foi informativa e explicativa, se baseia em dados, entrevista duas pessoas que trabalham com o som, mas quando podem ficam distantes do barulho e duas pessoas que adoram festas. Retratou os dois lados da questão. É mostrado o problema, mas também proporciona soluções.

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Atualidades - 08/05/2006

Belém é um risco para os ouvidos

Especialista diz que a capital do barulho pode enfrentar uma epidemia de perda da audição

Cláudia Mello

Belém pode estar se transformando em uma cidade de doentes auditivos. O alerta é do médico Jorge Resque, da Sociedade Brasileira de Otologia (ABO). Ele embasa sua advertência em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontam Belém como a capital mais barulhenta do País, e na própria cultura do paraense, apaixonado por sons de aparelhagens e no mais alto volume. O médico sugere que o legislativo comece a pensar em leis, a exemplo das que restringem o uso de cigarro, porque o som intenso pode provocar a perda de audição. ‘Os avisos seriam colocados nas boates e casas noturnas que utilizam aparelhagens’, afirma.

Os amantes dos sons automotivos no máximo volume, continua Jorge Resque, também fazem parte do grupo de risco. Da mesma forma aqueles que trabalham com as aparelhagens e nas casas noturnas, porque a intensidade, nestes locais, vai a 122 dB (decibéis), ultrapassando os limites de risco para audição

Cada vez que uma pessoa se submete a sons acima de 80 decibéis, explica Reque, as células do ouvido sofrem um edema, mas depois de 12 horas a inflamação - que se caracteriza por um zunido - tende a passar. ‘Mas, se amanhã e depois de amanhã, ela continuar recebendo a mesma intensidade de som, vai começar a perder a audição’, ressalta.

Os sons muito altos como de trios elétricos e das aparelhagens do Pará, de acordo com dados da ABO, podem causar trauma sonoro agudo, que leva à perda auditiva temporária ou permanente, e esta já é a segunda causa mais comum de deficiência da audição.

Para prevenir problemas, os especialistas recomendam que todos evitem lugares barulhentos, como boates e festas carnavalescas, por muito tempo seguido, e a cada 10 ou 15 minutos, saia de perto do barulho da festa para descansar o ouvido. Para quem não tem opção e é obrigado a ouvir o som porque está trabalhando, o ideal é o protetor auricular que bloqueia os sons mais altos.

A evolução tecnológica é outro fator de risco à saúde auditiva, segundo Jorge Resque, para quem a sociedade vem ficando cada vez mais barulhenta. ‘Antigamente as festas eram animadas por orquestras. Hoje, não. Você tem uma série de equipamentos e a potência dos instrumentos musicais aumentou. A música chega a ser ensurdecedora, não permitindo, muitas vezes, a conversa entre pessoas’, comenta.

Aparelhos como MP3 e walkmen também são vistos com preocupação pelo médico. O principal motivo está no fato de se elevar o volume para abafar o som externo. ‘Com isso, a pessoas pode estar se prejudicando e só tomar consciência quando outra perceber que ela já não escuta como antes’, ressalta.

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Médico diz que doença é traiçoeira

Jorge Resque adverte que os sintomas iniciais da perda auditiva induzida por ruído são quase sempre sutis e imperceptíveis para a própria vítima. Uma prova disso está nos dados da Sociedade Brasileira de Otologia: apenas 40% dos afetados reconhecem a doença. Por falta de informação e por preconceito, a maior parte das pessoas com problemas de audição demora, em média, seis anos para tomar uma providência, quando muitas vezes já é tarde demais.

Para prevenir a doença auditiva, a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO) organizou uma Campanha Nacional da Audição. A idéia, explica Jorge Resque, é torná-la permanente e associá-la a datas como os dias das Crianças e dos Idosos. ‘Não queremos que o assunto seja apenas para um dia do ano, mas que as pessoas possam estar sempre pensando e lembrando sobre a importância de cuidar da audição’, explica. A Campanha da ABO foi lançada em setembro do ano passado.

Belém está entre as cidades onde a ABO pretende intensificar as ações de prevenção a surdez , sobretudo por causa da cultura das aparelhagens e da pesquisa do IBGE, que apontou que 44,2% das famílias entrevistadas declararam morar perto de ruas ou vizinhos barulhentos. A cidade menos barulhenta, de acordo com a mesma pesquisa, é Goiânia (GO), com 20,7% de famílias insatisfeitas com o barulho das imediações.

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Quem comanda o som na noite, quase sempre só quer ouvir o silêncio

Quem trabalha ou é fã das aparelhagens admite que não está muito preocupado com saúde auditiva e até vê com certa desconfiança o alerta dos especialistas. Mesmo assim, reconhece que depois de uma noite intensa na balada, difícil é acordar sem o zumbido que caracteriza a lesão nas células auditivas.

Há 16 anos trabalhando com DJ, Sidnei Serrão, 28, diz que já se acostumou com o som potente do ‘Super Poderoso Corujão’. Por semana, ele comanda, em média, cerca de quatro bailes e põe pra dançar mais de 500 pessoas. Animação que, segundo ele, não permite pensar em como o ouvido está recebendo sons que podem chegar muito além de 70 decibéis. Mas depois que tudo termina é impossível se livrar do zumbido no ouvido, como se a potência do som ainda estivesse reverberando dentro da cabeça. ‘Como já acostumei, no dia seguinte acordo e já passou. Estou pronto pra outra’, acredita.

O uso do fone de ouvido e a preocupação com potência do som em meio à festa, segundo o DJ, são as formas que ele encontrou para reduzir um pouco os efeitos das aparelhagens no dia seguinte. A outra maneira, revela, é um pedido natural do seu próprio organismo. ‘Tem dia que me tranco no quarto e não quero ouvir nem televisão, rádio ou voz das pessoas. Só o silêncio’.

Domingos dos Santos, 44, responsável pela montagem do Som Brasilândia, diz que lidar com som alto faz parte da rotina de trabalho e por isso nunca sentiu nada. Mas não esconde a preocupação com quem se expõe diretamente na frente das caixas. ‘Principalmente quem curte o tecnobrega’.

Apaixonado por sons intensos e altos, o estudante Walace Farias, 18 anos, diz que quanto mais decibéis maior é a adrenalina. ‘O melhor lugar da festa é perto das caixas de som porque o impacto é maior’, afirma. Questionado se não tem medo de ficar surdo, ele rebate dizendo que ‘isso não existe’. Junto com os amigos, o estudante conta que não perde uma festa da aparelhagem Cidade Morena e defende o hábito como uma cultura do paraense.

A estudante Edilane Silva, 17 anos, também está entre os fãs das aparelhagens que não se preocupam com os efeitos do som muito alto. ‘É o volume que dá o clima’, garante.

Boa parte da matéria seguinte foi destinada a homenagear a cantora Gaby Amarantos, reconhecendo do seu trabalho. E a outra parte fez uma intensa análise descritiva sobre a evolução das aparelhagens tanto tecnológica quanto cultural, que deixaram de tocar só na periferia e passaram a tocar também nos grandes centros urbanos. A matéria conseguiu situar e explicar uma pessoa que nunca ouvir falar do assunto ou nunca freqüentou uma festa de aparelhagem.

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25/05/2006

O lazer se recria na periferia de Belém

A partir de hoje, uma série de matérias mostra os ritmos, os hábitos e as preferências dos bairros longe do centro

Tupinambá
Quando a cantora Gaby Amarantos subiu no palco armado na Praça do Relógio para a gravação do programa ‘Central da Periferia’, poucos ali duvidaram que ela seria a grande estrela da noite. Vestida como uma espécie de She-Ra afro-brasileira, ao lado dos Mestres da Guitarrada, do grupo de carimbó Uirapuru e de DJ Iran, da aparelhagem Musistar, ela reafirmou a sua vontade em ser a grande diva pop da Amazônia. Apoiada em uma letra de auto-afirmação da sua identidade cultural (’Sou tecnobrega/Sou calypso’, ‘Sou a corda do Círio/Sou o carimbó de Verequete e Pinduca’), Gaby liderou e cristalizou em sua figura espetaculosa o cruzamento óbvio, mas até então inédito, das batidas eletrônicas do tecnobrega com os ritmos caribenhos e a música de raiz do interior do Pará.

Avalizada pelo poder de sedução da Rede Globo, Gaby Amarantos é apenas o aspecto mais visível do tecnobrega, o ritmo pelo qual pulsam as baixadas de Belém. Um Kraftwerk de palafita criado quando, no final dos anos 90, DJs como Tony Brasil, Beto Metralha e Iran decidiram que também sabiam fazer música. Mais do que qualquer outro estilo, brasileiro ou não, é o tecnobrega e seus beats acelerados o som oficial dos terreiros e salões de festa da cidade. Inicialmente uma adaptação digital da música romântica brasileira dos anos 70 e 80, feita com samplers e teclados como forma de baratear as gravações dos discos, o tecnobrega modificou-se à medida que estreitou a relação com as festas de aparelhagem. Aos poucos acelerou a batida e incluiu na receita o raggamuffin’, que chega a Belém pelo estado vizinho do Amapá e da Guiana Francesa; o jungle londrino e ritmos caribenhos como a cumbia, o zouk e o calypso.

A radicalização eletrônica do tecnobrega levou os DJs a modificar também as letras, que deixaram as desilusões amorosas de lado e passaram a falar do universo da galera das aparelhagens. Há músicas que falam sobre uma kombi que anuncia as festas do Rubi (’A Kombi da Produção’, do DJ Iran), sobre a montagem de uma coluna de alto-falantes, (’Ajustando o Som’, de Dee Arimatéia) ou sobre uma turma fã do Popsom (’Galera do Rock’, Banda Pintus).

É um segmento de mercado considerável, que atrai milhares de pessoas aos salões de festa e terreiros de Belém e gerou uma espécie de metamúsica, cujas letras falam basicamente sobre as turmas de rua, os DJs e suas traquitanas tecnológicas. É o mesmo processo de modernização de ritmos tradicionais pelo qual passaram os estados do Ceará, com o novo forró eletrônico das bandas Aviões do Forró, Limão com Mel e Caviar com Rapadura; Amazonas, através da house amazônica de DJ Maluco e DJ Omena, que mistura ritmos digitais a letras sobre maridos traídos e meninas de moral duvidosa, e da festa do Boi de Parintins, que a cada ano agrega mais e mais novidades tecnológicas, tentando recriar na selva uma versão indígena do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Ritmo industrial

No universo urbano de Belém, a festa de aparelhagem é o ponto de convergência da cultura periférica local. Tudo o que o tecnobrega produz diariamente em ritmo industrial tem como destino os sets dos DJs. Espécie de boate itinerante, as aparelhagens surgiram em Belém nos anos 50 e hoje funcionam de maneira semelhante aos soundsystems jamaicanos, enormes sistemas de som e luz que viajam pelos bairros da cidade promovendo festas populares de quinta a domingo. Só na capital paraense existem cerca de 300 aparelhagens em atividade. Nas mais famosas – como Tupinambá, Rubi e Popsom, por exemplo - vigora um código próprio, que inclui gestos, roupas, cores e coreografias. É difícil uma turma fã de uma aparelhagem se misturar a outra, criando assim uma relação de idolatria com os DJs em um cenário meio maluco de simbologia roots e iconografia pop. Pense em uma versão tropical de Blade Runner cuja trilha sonora ecoa por todo o perímetro urbano da cidade.

Com preços que variam entre R$ 5 e R$ 8, a aparelhagem é a boate que vai aonde o povo está. Diversão para uma camada da população que ganha até três salários mínimos e não dispõe de R$ 30 para entrar em uma boate do centro de Belém. Lá dentro, cerveja barata e ‘no balde’. No chão de cimento, a parede de alto-falantes despejando o som grave, que bate forte no peito e faz a terra tremer e a batida hipnótica, temperada com ruídos digitais e efeitos sonoros. No cenário, telões, monitores de vídeo empilhados uns sobre outros, lasers e luzes estroboscópicas ajudam a criar o clima cyberpunk de terceiro mundo, onde adolescentes entre 15 e 20 anos dançam freneticamente. À frente desse gigantesco sistema de som, o DJ comanda a tribo incitando o povo a dançar e a entoar gritos de guerra enquanto, pelo microfone, troca recados entre casais de namorados, amigos, turmas de bairro e gangues de rua.

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Aparelhagens saem dos guetos sociais

Mas aos poucos as festas de aparelhagem e o tecnobrega saem do gueto. DJ Dinho, do Treme-Terra Tupinambá, já comandou festas em algumas boates de Belém e pôs os filhos da elite local para dançar em uma concorrida apresentação no Salão Nobre da Assembléia Paraense em abril desse ano. Ao mesmo tempo, Gaby Amarantos se desloca do eixo tecnobrega e colabora com a eletrônica cult de DJ Dolores, canta com a banda de rock Cravo Carbono, ganha elogios rasgados de produtores como Carlos Eduardo Miranda (O Rappa) e Kassin (Caetano Veloso e Los Hermanos) e se vê na condição de musa gay após se apresentar na boate A Lôca, em São Paulo, e estrelar uma reportagem na publicação GLS G Magazine.

No palco do Central da Periferia, Gaby sai ovacionada pela platéria para dar lugar ao Treme-Terra Tupinambá. Dinho então emerge fazendo pose por trás de seu ‘altar sonoro’. Conclama os presentes a fazer com os braços o ‘T’ que é o símbolo de sua aparelhagem. Os meninos e meninas - todos moradores de bairros distantes, pele morena, cabelos pintados com mechas loiras e usando versões piratas de roupas da Nike, Reebok, Gang e Adidas – fazem o gesto em saudação ao seu cacique pós-moderno. Nascido nas quebradas do bairro do Jurunas, o tecnobrega se mostra decidido a chutar a porta dos fundos da indústria fonográfica e reclamar o seu lugar no próximo elo evolutivo da música planetária digital. Lado a lado com reggaeton porto-riquenho de Luny Tunes e Daddy Yankee, o dancehall casca-grossa das quebradas jamaicanas e o sexismo favelado do funk carioca. Quando vier, a revolução será digital, pirata e rasteira, no pulso das células mais elementares do ritmo, direto de estúdios de fundo de quintal para as pistas de um planeta em festa. Longe dos olhos do mundo e da indústria fonográfica, Belém começa a definir as suas estratégias de ataque.

A décima primeira matéria retratou o programa global “central da periferia” que mostraria tantos as bandas de brega do Pará quanto as aparelhagens que são associadas ao ritmo. Esse foi mais um exemplo de pauta cruzada, ou seja, o jornal O Liberal divulga um acontecimento que será mostrado pela TV que faz parte do mesmo grupo. Faz citação à antiga imagem que o brega tinha, ou seja, ele era sinônimo de pobreza cultural, era relacionado às classes baixas, e agora é divulgado para os quatro cantos do país merecidamente como “ a faceta mais criativa e inovadora da cultura popular brasileira”.

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Magazine - 03/06/2006

Belém é atração hoje na TV Globo

À tarde - O programa ‘Central da Periferia’ que Regina Casé gravou na Praça do Relógio vai ao ar hoje

Central da Periferia
Em sua relação conflituosa com o seu lado mais pobre, Belém agora terá que encará-lo de frente e em cadeia nacional. Estréia hoje o segmento paraense do programa ‘Central da Periferia’, idealizado pelo antropólogo Hermano Vianna e apresentado pela comediante Regina Casé. Tudo aquilo que sempre foi rejeitado pelas elites (culturais e econômicas) como sendo ‘brega’, ‘mal-feito’ ou sinônimo de uma pobreza cultural inerente às classes mais baixas, chega agora revestido de um verniz moderno, vendido pela maior emissora de televisão da América Latina como a faceta mais criativa e inovadora da cultura popular brasileira.

Se por um lado o programa escorrega em alguns momentos ao tornar festiva demais a vida na periferia (um exagero recorrente da apresentadora) e por ser um pouco condescendente com certas manifestações culturais, por outro ele acerta ao estabelecer de maneira quase didática as conexões perdidas que resultaram na música popular paraense dos anos dois mil. Como o encontro de Chimbinha com os Mestres da Guitarrada, uma das matrizes musicais da banda Calypso; o carimbo tecnobrega de Gaby Amarantos e DJ Iran; o espetáculo gregário high-tech das aparelhagens Rubi e Tupinambá e a parceria entre a banda La Pupuña e o popstar brega Nelsinho Rodrigues na música ‘Me Libera’, mais conhecida entre nós como o ‘Melô da Baladeira’.

No palco montado pela Rede Globo na Praça do Relógio, foram passados a limpo 30 anos de música popular paraense, que sobrevive longe da indústria nos prostíbulos, nos portos e nas festas de aparelhagem.

Tratada como uma manifestação alienígena dentro do cenário cultural brasileiro, a música paraense continua a ser vendida como uma excentricidade, um devaneio pop que surge das contradições culturais e econômicas de uma das regiões mais pobres do país. Que a periferia sempre teve o desejo de se ver e ser representada na mídia isso todos nós sabemos. A Rede Globo também sabe. E a partir das experiências pessoais de Hermano Vianna como antropólogo procurou contextualizá-la e compreendê-la em todos os seus níveis. Resta saber se, a partir de agora, a música que ela produz em Belém conseguirá se afirmar como um segmento de mercado viável dentro da conturbada industria fonográfica de nosso país. Caso contrário, vai estar condenada eternamente a ser apenas mais um exotismo vindo da selva. (Vladimir Cunha)

Serviço

Programa ‘Central da periferia’, gravado em Belém. Entre as atrações, Gaby Amarantos e Banda Calypso. Às 16h55m, na TV Globo (TV Liberal-canal 7).

A matéria posterior reconheceu as aparelhagens como movimento cultural paraense que agrega milhares de pessoas, e como meio de comunicação de massa. A matéria mostrou como o Programa de Regina Casé da Rede Globo ajudou a divulgar a cultura paraense e deu espaço para artistas apresentarem seu trabalho. Ficou clara a força do ritmo que as Aparelhagens paraenses levam às multidões.

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Atualidades - 05/06/2005

Regina Casé mostra para todo o Brasil a força e o ritmo das aparelhagens paraenses

A magia, a poesia e a potência das aparelhagens que há anos animam e encantam o público paraense foram o destaque nacional, no último sábado, no programa global Central da Periferia, apresentado por Regina Casé, quando ficou provado que esses equipamentos são atualmente os maiores veículos de comunicação de massa do Estado. Os shows desses artistas que comandam essas máquinas gigantescas e modernas tem público cativo e lotam dezenas de espaços dos nossos subúrbios. São espetáculos fascinantes, que fazem parte da cultura do Pará, de som, luz e imagem.

Zenildo Fonseca, responsável pela aparelhagem Brasilândia, foi um dos destaques do programa. Ele levou a apresentadora para conhecer a sua ‘fábrica’ da saudade. ‘Temos um espaço muito bom e resolvemos aproveitar para ampliar os nossos negócios que envolvem a aparelhagem. Tem um local para confeccionar as roupas dos funcionários, tem a parte onde é montada a aparelhagem e outra onde são guardados os discos em vinil. É uma verdadeira fábrica musical’, afirmou Zenildo, que revela sentir orgulho em fazer parte do grupo das grandes aparelhagens paraenses responsáveis pelo sucesso da música regional.

‘É um prazer imenso poder levar alegria para as pessoas da periferia, pois o retorno é verdadeiro. Se o povão gosta do teu trabalho, significa que você não precisa se preocupar, pois o sucesso já está garantido. No caso do Brasilândia, a música da saudade voltou a ter espaço e o público agradece’, comentou.

Zenildo diz com orgulho que o programa sobre a música do Pará teve uma boa repercussão. ‘Depois que o programa acabou o telefone de minha casa começou a tocar. Eram pessoas querendo conhecer de perto a fábrica da saudade. Teve um casal mineiro que fez questão de conhecer a minha casa antes de voltar para Minas Gerais’, contou.

Para Gaby Amarantos, da banda Tecno Show, o programa contribuiu para divulgar ainda mais a imagem do Pará e as aparelhagens. ‘Quando estava gravando já sabia como seria, mas depois que foi ao ar percebi que ficou melhor ainda. Acredito que a população de Belém deve ter gostado muito’.

A foco da última matéria analisada foi mostrar que os DJ´s de aparelhagens são considerados artistas, pessoas que influenciam na opinião pública e portanto não poderiam participar de showmícios na época das eleições, de acordo com nova Lei estabelecida. Retratou a importância das festas de Aparelhagem em atrair público e como as mesmas são populares, ou seja, os DJ´s poderiam exercer um controle sobre o público que freqüenta aparelhagem e que consequentemente estariam nos showmícios, influenciando seu voto.

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Poder - 14/07/2006

Aparelhagem em showmício é vetada

Infração Ministério Público Eleitoral ficará de olho para impedir o uso de sonoros

Procuradoria Regional Eleitoral no Pará deu ontem mais uma prova do rigor com que pretende agir este ano na fiscalização da campanha eleitoral. O procurador Ubiratan Cazetta informou que o Ministério Público vai tratar como infração eleitoral a contratação, por partidos ou candidatos isoladamente, de grandes aparelhagens sonoras para animar seus comícios. A assessoria do MPE fez questão de ressaltar, porém, que não há ainda nenhuma denúncia formal sobre irregularidades desse tipo sob apreciação da Procuradoria.

A tipificação do uso de aparelhagens sonoras como crime eleitoral tem amparo, na interpretação do MPE, na lei 11.3000, de 2006, que alterou dispositivos da antiga lei eleitoral, a lei de nº 9.504, de 1997. Sob a nova redação, o artigo 39, parágrafo 7º, da legislação atualmente em vigor, estabelece que ‘é proibida a realização de showmício e de evento assemelhado para promoção de candidatos, bem como a apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral’.

De acordo com Ubiratan Cazetta, que até o dia 29 estará respondendo pela Procuradoria Regional Eleitoral, durante as férias do titular José Augusto Torres Potiguar, a lei ressalva a possibilidade de o candidato utilizar equipamentos de som - microfones e caixas amplificadoras - durante os comícios e outros eventos de campanha, permitindo inclusive a transmissão de músicas, eventualmente. Inclusive, destacou o procurador, entre a fala de um orador e o discurso do orador seguinte.

Mas há diferenças. A lei proíbe, por exemplo, que o candidato tenha showmício e veda igualmente a contratação de qualquer espécie de artista para animar o evento de campanha. No caso do Pará, enfatizou Ubiratan Cazetta, é sabido de todos que as grandes aparelhagens - destas contratadas por preços relativamente altos para festas dançantes em clubes e eventos festivos, tanto na capital quanto no interior - representam uma atração artística.

‘Os DJs (vários deles com inegável popularidade) são, eles próprios, uma grande atração’, afirmou o procurador, acrescentando: ‘Quando você contrata um profissional desses, está contratando também um artista. Por isso, entende-se que um comício que tenha a apresentação dessas aparelhagens será como se fosse um show. Assim será também considerado por nós, já que a característica é a mesma’, aduziu.

No entendimento da Procuradoria Regional Eleitoral, conforme já havia admitido antes a sua assessoria, a lei permite o uso de aparelhagem sonora fixa. Com o emprego desse tipo de equipamento, de potência geralmente reduzida, não será prejudicada a audição, pelo público presente, da mensagem dos candidatos e de suas propostas.

O que a lei pretende evitar são os abusos que fatalmente ocorreriam com as aparelhagens móveis, que, com seus DJs, estariam assegurando caráter artístico a um evento definido expressamente em lei como de natureza eleitoral. Esse entendimento está fundamento na proibição, também claramente determinada na lei, para contratação de artistas e realização de shows durante os comícios. A nova legislação eleitoral introduziu novidades que têm levado partidos e candidatos a tomar cautelas

No ano de 2006, as matérias são bem mais culturais, fazem jus à editoria do caderno em que foram publicadas, já que mais da metade estão no caderno Magazine. Duas vem no Caderno Atualidades, duas no Caderno Polícia e uma no Caderno Poder, de acordo com o assunto em que as Aparelhagens são contextualizadas. São matérias completas, analisando na maioria das vezes a raiz do assunto, abrangendo todos os pontos possíveis para o bom entendimento do leitor. Como as Aparelhagens fazem parte da cultura paraense, as matérias deveriam ser mais ilustradas para mostrar o que um texto não consegue dizer, afinal uma imagem pode ser a complementação daquilo que o leitor não conseguiu compreender. Grande parte das matérias deram espaço a todas as partes interessadas, como por exemplo, na matéria que mostra a poluição sonora como causa de casos de surdez. As matérias analisaram assuntos interessantes de maneira clara, em sua maioria conseguiram mostrar como realmente funciona uma festa de Aparelhagem e a importância que ela tem tanto na cultura paraense quanto na opinião pública.

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Diagnóstico

Nessa etapa do trabalho foi feito o diagnóstico, que tem a finalidade de descrever a situação da empresa para a qual o projeto está direcionado. É uma espécie de “raio-x”, que vai mostrar como está a opinião das pessoas relacionada ao jornal O Liberal, e por que a empresa está na situação em que se encontra.

A escolha dos itens abaixo teve o objetivo de revelar o comportamento do público freqüentador de Aparelhagens. O questionário em anexo segue o detalhamento do trabalho.

A tabela abaixo indica como foram categorizadas as classes sócio-econômicas.

 

CLASSE ECONÔMICA SALÁRIOS MÍNIMOS
A1 Mais de 30
A2 Mais de 30
B1 20 a 30
B2 10 a 20
C 5 a 10
D 2 a 5
E Até 2

Os dados tabulados abaixo demonstram que os jovens de 18 a 25 anos costumam se informar mais sobre as festas de Aparelhagens pela Televisão. Já as pessoas de 26 a 33 anos utilizam o Rádio como meio de informação, onde este também é o meio mais usado pelos entrevistados.

Complementando a análise anterior, o Rádio é o veículo de informação que possui maior audiência pelas pessoas que fazem parte da Classe C.

A aparelhagem preferida da Classe C é o Super Pop, de acordo com o gráfico abaixo. A Aparelhagem Tupinambá é mais freqüentada pelo público da Classe B1, sendo que possui preferência nas Classes A1 e A2 também. Portanto, observa-se que o público elitizado costuma escolher o Tupinambá como Aparelhagem de referência e prioriza mais as festas da mesma. O que consequentemente comprova que o Tupinambá concentra as pessoas que possuem a maior renda.

Como mostra o gráfico, o público mais freqüente nas festas da Aparelhagem Tupinambá é o público jovem de 18 a 25 anos, sendo a preferência também das pessoas de idade entre 26 a 33 anos. O público com mais idade, de 34 a 40 anos prefere a Aparelhagem Super Pop, e as pessoas com mais de 40 anos escolhem o Brasilândia como Aparelhagem preferida. As pessoas classificadas como Outros são jovens menores de 18 anos, e a sua maioria freqüenta o Tupinambá.

Como se pode observar, o gráfico indica que as pessoas com Ensino Superior Incompleto e Ensino Médio Completo, além de ser o maior público entrevistado é o maior freqüentador tanto de festa de Aparelhagem, como do Tupinambá.

Levando em consideração o sexo em relação a preferência pela aparelhagem, constata-se que tantos homens quanto mulheres optaram pelo Tupinambá como Aparelhagem preferida. Comparando a preferência por aparelhagem, os homens preferem mais o Super Pop e o Rubi do que as mulheres.

De acordo com a análise da coleta de dados, observa-se que a maioria dos entrevistados tem acesso ao Jornal O Liberal, e dentre eles os leitores mais freqüentes possuem Escolaridade de Nível Superior Incompleto, ou seja, as pessoas que mais lêem o Jornal têm uma capacidade significativa de análise e de compreensão dos fatos que o jornal divulga diariamente.

A maioria das pessoas que fazem parte tanto do Ensino Médio Completo, quanto do Ensino Superior Incompleto e Completo acham que o jornal O Liberal não retrata em suas matérias jornalísticas como é exatamente uma aparelhagem. Relacionando a opinião com o Grau de Escolaridade, contatou-se que as pessoas que têm um nível maior de discernimento são as que mais possuem uma idéia formada em relação ao assunto.

A justificativa que o público dá para que a resposta seja não, é de que o jornal não mostra a violência, a briga e as confusões que têm nessas festas. Não falam sobre as drogas, prostituição, e trata a Aparelhagem como algo cultural e esquece a criminalidade durante o evento. Para os entrevistados os editores do jornal deveriam ser mais realistas, pois mascaram a informação, muitas coisas são omitidas. O Jornal deveria ter cobertura adequada do público que freqüenta, e deixar de maquiar a informação. O público diz que falta uma coluna exclusiva para a divulgação das Aparelhagens, e a maioria das matérias são voltadas para as elites, já que só mostram as grandes aparelhagens.

Já outras pessoas possuem um pensamento contrário, dizem que falta divulgar já que faz parte da cultura local. O público afirma que o jornal só mostra a violência, não demonstrando imparcialidade nos fatos, só expõem nas matérias o que é de seu interesse. O público diz ainda que o Jornal O Liberal associa as festas a brigas ou a um ambiente pouco sociável, e que os mesmos não oferecem o devido espaço a elas.

As pessoas acham que muitas vezes a imagem das festas é deturpada, que só há críticas nas matérias. Para eles, o jornal faz um sensacionalismo, falando mentiras sobre as Aparelhagens, disseminando o preconceito, e que o mesmo deveria interagir com o público.

O resultado da análise mostra que há opiniões divergentes entre os entrevistados, e que o público acha que ainda existe preconceito com as matérias. Comparando a análise de matérias com a análise quantitativa, percebe-se que o próprio público ainda não conseguiu enxergar que as barreiras do preconceito estão sendo ultrapassadas, já que houve um aumento nas matérias divulgadas pelo jornal sobre Aparelhagens, sendo que a minoria aborda temas como a violência.

Nesse tópico foi levada em consideração a opinião de todos os entrevistados e mais da metade revelou que o jornal deveria sim divulgar mais matérias relacionadas à aparelhagem. A análise mostra que o fato das pessoas afirmarem que as aparelhagens deveriam estar sempre presentes no cenário cultural paraense em forma de matérias jornalísticas, independe de Grau de Escolaridade.

Para os entrevistados as matérias devem falar no geral da cultura, de todas as classes que freqüentam, mostrar que tem segurança. Falar de todas as aparelhagens, sem distinção, do que acontece nas festas, da diversão, da alegria que as festas proporcionam. Para eles, as aparelhagens são uma tendência que deve ser seguida, e o jornal precisa ter uma visão mais factual da realidade do povo. O público afirma ainda que o Jornal O Liberal deveria mostrar a discriminação cultural que existe, e complementar as matérias divulgando a agenda das aparelhagens. Segundo os entrevistados, as matérias necessitam mencionar a importância das mesmas para a economia, da geração de empregos.

Dois lados da questão deveriam ser analisados, escrevendo tanto artigos sobre a violência durante o evento como também sobre a influência das aparelhagens na cultura paraense. Mostrar a disputa entre as aparelhagens para atrair mais adeptos, a realidade das pessoas que freqüentam, e que é o único lazer da periferia.

O jornal deveria dispor uma página própria para o movimento cultural, mostrar por que os jovens (que fizeram as aparelhagens crescerem) vão pras festas, relacionando com a influência que exerce sobre as pessoas. Dizer em suas matérias que estão crescendo, e que é uma manifestação cultural que não predomina apenas em bairros periféricos. De acordo com os entrevistados, a música paraense tem a ver com a música que as aparelhagens tocam, e que hoje as festas não são voltadas apenas para o público que tem menor renda, mas sim para todas as classes sociais.

A escolha do Caderno em que as matérias de Aparelhagens deveriam estar inseridas reflete no Grau de Escolaridade, visto que a maioria das pessoas que acham que as matérias deveriam ser publicadas no Caderno Polícia, possui o Ensino Fundamental Incompleto e ou somente o Ensino Médio Incompleto. Demonstrando que o Grau de Escolaridade influencia na escolha pelo qual caderno o público tem preferência, constatando que o caderno Polícia tem uma maior afinidade com pessoas que possuem um nível baixo de escolaridade. Entre as pessoas que possuem um maior grau de instrução, pois têm ou o Ensino Médio Completo ou o Ensino Superior Incompleto ou Completo, dividem suas opiniões entre os Cadernos Magazine e Atualidades, ficando a preferência com o Caderno Magazine, onde são publicadas matérias culturais, identificando assim a Aparelhagem como movimento cultural.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Trabalho de Conclusão de Curso apresentou algumas pesquisas, uma delas é a qualitativa, onde foi feita a análise das matérias jornalísticas do jornal O Liberal e comprovou-se que na maioria das reportagens o jornal retrata que a imagem das aparelhagens vem se modificando, e o resultado disso é o reconhecimento da mídia e de pessoas das mais distintas classes sócio-econômicas que passaram a freqüentar essas festas. Pode-se comprovar também a importância desse movimento cultural para a economia paraense por ser geradora de empregos diretos e indiretos.

Já na pesquisa quantitativa foi possível comprovar um dos indicativos que nortearam o trabalho, como o fato de que as pessoas ainda possuem o preconceito em si mesmas, visto que não conseguem reconhecer a legitimação da mídia em relação às aparelhagens. É um movimento cultural que vem ganhando forças e ultrapassando barreiras, inclusive a do preconceito, tanto por parte da mídia quanto por parte do público que atualmente é bastante diversificado, contendo pessoas de várias classes sociais, gostos musicais diferentes e opiniões distintas.

E outro ponto importante é de que como as aparelhagens conseguiram mudar a sua imagem de que pertenciam somente à periferia, e conquistar o público elitizado, refletindo na seleção que o DJ Dinho da aparelhagem Tupinambá faz do seu público alvo, determinando que seja o de classe média e média alta. Essa seleção é feita pelo ingresso, de acordo com o DJ essa escolha foi feita com o objetivo de manter a boa imagem e a boa fase que a aparelhagem vem passando.

O Trabalho de Conclusão de Curso contribuiu para saber como o Jornal O Liberal expõe o movimento cultural, além de constatar como está a imagem do jornal perante o público que freqüenta as aparelhagens. Em algumas matérias analisadas foi perceptível que não houve imparcialidade, visto que de acordo com Ricardo Noblat (2003), um jornal é ou deveria ser um espelho da consciência crítica de uma comunidade em determinado espaço de tempo. Um espelho que reflita com nitidez a dimensão aproximada ou real dessa consciência. Segundo ele, um jornal pode estar até mesmo adiante do sentimento da média das pessoas que o lêem. E feri-lo por causa disso. Mas se for crível, e outra coisa não lhe cabe ser, e se lhe reconhecerem a honestidade, poderá operar a mudança do sentimento.

Para Noblat (2003), a democracia depende de cidadãos bem informados. Jornal depende da confiança pública. Antes de ser um negócio, jornal deve ser visto como um serviço público. E como o servidor público deverá proceder. Mais do que informações e conhecimentos, o jornal deve transmitir entendimento. Porque é do entendimento que deriva o poder. E em uma democracia, o poder é dos cidadãos. Por mais que soe ingênuo, pueril e até mesmo fora de moda, o dever número um dos jornalistas é com a verdade – mesmo que ela não seja algo claramente identificável. O dever número dois é com o jornalismo independente. O número três é com os cidadãos. Não se deve ter vergonha de tomar partido deles. O quarto dever do jornalista é com sua própria consciência. Tais deveres se tornam ainda mais relevantes diante do surgimento recente de grandes conglomerados de mídia com alcance universal.

A pesquisa serviu para verificar também qual o público que o jornal consegue atingir, de acordo com o grau de escolaridade.

Pode-se dizer que o preconceito que as pessoas ainda possuem em relação ao reconhecimento da mídia deve ao fato de ela ser a que menos estimula o público a comparecer nas festas de aparelhagens. E constatou-se também que de todas as pessoas entrevistadas apenas 2% usam o jornal impresso para se informar sobre as aparelhagens, portanto podemos dizer que o público já sabe que no Rádio e na Televisão têm programas de aparelhagens, mas o Jornal Impresso não possuem uma coluna específica sobre o assunto, então para eles seria mais seguro recorrer aos meios em que eles têm certeza que vão encontrar o que procuram.

Com isso, seria interessante para a audiência do jornal aumentar entre o público de baixa escolaridade, que fosse criado um caderno semanal ou uma coluna que documentasse a história das aparelhagens, fizesse análises de como o movimento cultural vem crescendo e abrir também um espaço para o leitor se expressar sobre o assunto. Um dos questionamentos do público em relação ao jornal é o fato de não haver a interação com o leitor que freqüenta e gosta de aparelhagens, aliado também ao assunto não estar sempre presente na estrutura do jornal, visto que é um movimento que faz parte da cultura paraense, e que é de origem do nosso povo.

O benefício que um caderno próprio voltado para a cultura paraense, em especial as aparelhagens, seria de grande valia para que o público que freqüenta as festas reconhecesse a legitimação que a mídia, específica a impressa, têm em relação às aparelhagens. A criação de um espaço para divulgar a evolução que esse movimento cultural teve e a aceitação por parte das pessoas, ultrapassando as barreiras do preconceito, e deixar com que o leitor participe da construção do caderno, opinando e criticando, poderia ser um bom caminho para que o público aceitasse o papel importante que a mídia possui na inserção definitiva do movimento no cenário cultural e musical paraense.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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QUESTIONÁRIO QUANTITATIVO

Entrevista com as pessoas que vão às aparelhagens

DADOS GERAIS SOBRE A PESQUISA

Total: 384 Pessoas entrevistadas

1 - Sexo:

Feminino: 133
Masculino: 251

2 - Idade:

18 – 25: 236
26 – 33: 89
34 – 40: 25
+ 40: 21
Outros: 13

3- Grau Escolar:

Ens. Fund. Incomp. : 22
Ens. Fund. Comp. : 16
Ens. Médio Incomp. : 38
Ens. Médio Comp. : 108
Ens. Sup. Incomp. : 132
Ens. Sup. Comp. : 58
Pós-graduação : 4
Outros : 6

4 - Ocupação:

Profissional Liberal: 46
Economia Informal: 32
Funcionário Público: 66
Empregado Formal: 103
Outros: 137 (estudantes, desempregados e donas de casa)

5 – Poder aquisitivo:

Classe A1: 26
Classe A2: 68
Classe B1: 102
Classe B2: 84
Classe C: 88
Classe D: 16
Classe E: 0

6- Você gosta de ir para as festas de aparelhagens?

Sim: 363
Não: 21

7 - Freqüência que você vai a uma festa de aparelhagem (Tiramos as pessoas que responderam NÃO na questão anterior):

Primeira Vez: 22
Uma vez por mês: 56
Duas ou mais vezes por semana: 58
Toda semana: 87
Raramente: 114
Outros: 26

8- O que mais lhe atrai nessas festas:

Local: 20
Pessoas: 94
Música: 122
Aparelhagem: 103
Outros: 24

9 - Qual é a aparelhagem que você mais gosta?

Brasilândia: 22
Rubi:76
Super Pop: 88
Tupinambá: 157
Outras: 20 (Ciclone, J. Cei e Príncipe Negro)

10 - Qual o ritmo que as aparelhagens tocam que você mais gosta?

Brega/Technobrega: 251
Música Eletrônica/House: 44
Axé: 2
Músicas Antigas: 22
Funk: 6
Outros: 38 (forró, pagode)

11 - O que influenciou você a ir para as aparelhagens (volta a contar todos os entrevistados):

Amigos: 229
Mídia: 24
Família: 36
Paquera: 44
Outros: 51 (trabalho, vontade própria, dinheiro)

12 - Que veículo de Comunicação você mais utiliza para se informar sobre aparelhagem:

Jornal Impresso: 6
Televisão: 117
Rádio: 141
Internet: 46
Outros: 74 (carro som e faixas)

13 - Você tem acesso e lê o Jornal O Liberal:

Sim: 324
Não: 207

14 - Você acha que o Jornal O Liberal retrata em suas matérias exatamente como é uma aparelhagem:

Sim: 117
Não: 207 Por quê?

15 - Você acha que o Jornal deveria divulgar mais matérias sobre aparelhagens?

Sim:248
Não: 76

16 - Em que caderno? (Tiramos as pessoas que responderam NÃO na questão anterior):

Magazine: 118
Poder: 2
Polícia: 14
Atualidades: 92
Outros: 22

 

 

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QUESTIONÁRIO QUALITATIVO - ENTREVISTA COM EDSON COELHO

Entrevista com Edson Coelho – Editor do Caderno Magazine do Jornal O Liberal

1. Como você analisa o crescimento e o reconhecimento do ritmo “Brega” tanto no Pará como em Brasil?

Edson – Eu acho que é um fenômeno produzido pelo povo. Eu lembro que na década de 80, as FMs não tocavam brega, e quando uma delas começou a tocar brega, aquilo parecia que legitimava diante da classe média, que era o público de FM, aquele ritmo que era obviamente popular. Então da mesma forma que o povo inicialmente ele é descriminado, e num segundo momento ele acaba fazendo com que seus ritmos cheguem, por exemplo, o próprio samba, o próprio funk carioca, altamente discriminados, e de repente lá estava Fernanda Abreu gravando Funk. Isso aí em um primeiro momento. Acho que é uma vitória do povo, porque o povo é muito mais exigente do que qualquer outra classe, e essa base emocional, essa maior quantidade de pessoas que forma, acaba se impondo mesmo, pela quantidade de gente, pelo dinheiro que vai movimentar. No segundo momento, eu acho que aí é que ta o principal mérito, é que o paraense é um grande dançarino, então eu tenho uma teoria de que pra esse dançarino, se exibir cada vez mais e melhor, pediam músicas mais aceleradas, por isso que o brega mudou de batida, ficou muito mais acelerado, então por isso, eu acho que essa coisa de ser uma música dançante, que primeiro no Pará é o fato do paraense ser um grande dançarino. Eu acho que o grande sucesso mesmo dele se deve ao fato de ser uma música altamente dançante.

2. Você acha que pelo fato da mídia ter intensificado e divulgado matérias tanto sobre brega como de aparelhagem, as pessoas mudaram de pensamento e de comportamento, e diminuir o preconceito?

Edson – Sem dúvida, eu acho que quando a mídia divulga, a mídia legitima, quando tu divulgas de uma certa forma tu estás impondo um tipo de opinião às pessoas que recebem isso pela Tv, ou pelo jornal. Então eu acho que legitima. O que acontece é que as letras dos bregas são muito ruins, as músicas são muito dançantes, algumas melodias são muito criativas, os músicos são muito bons, mas as letras são ruins. Então, eu acho que diminui um bocado do preconceito sim, mas isso não vai transformar o brega na melhor música do mundo, por que realmente não é. Mas eu acho que diminui sim, e eu acho a mídia legitima esse ritmo que é do povo.

3. Hoje, existe preconceito sobre as aparelhagens por parte da mídia? E antes existia? Se sim, como foi superado?

Edson – Eu acho que qualquer coisa que vem do povo, principalmente do Brasil, que vem da pobreza, ninguém quer ser pobre, eu acho que enfrenta preconceito. A mídia não inventou o preconceito, ela reflete o preconceito que existe na sociedade contra a pobreza. O povo brasileiro é pobre, o povo brasileiro não lê, o povo brasileiro não teve acesso à educação, tem 20% de analfabetos, o analfabeto na prática porque sabe ler, mas nunca lê nada. Ninguém quer ser. Então existe naturalmente um preconceito da sociedade contra aquilo que ela não gostaria de ser, que ela gostaria de evitar, com o qual ela não gostaria de conviver. Então eu não acho que a mídia inventou, esse preconceito existe, não só em relação à música mas como em qualquer outra coisa do povo. Eu acho que antes o preconceito era maior, as aparelhagens agora, primeiro elas tão na mídia, tocaram por exemplo na Assembléia Paraense, que seria o oposto do tipo de palco que ela sempre tocou. Então o fato de ter surgido uma cantora como Gabi Amarantos, por exemplo, que pode-se gostar ou não gostar, mas ela ganhou a mídia, ela ganhou o Brasil, ela ganhou opiniões favoráveis de várias pessoas importantes da área cultural brega. Então, o fato de que melhorou, teve mais tecnologia, fez com o que o próprio trabalho das aparelhagens, primeiro pela sua originalidade, pela forma de fazer festas, e depois pela qualidade tecnológica e de invenção, de inventividade, que teve na construção da sua divulgação, contribuiu pra que fosse menor o preconceito, ainda que necessariamente ainda exista como qualquer coisa imediatamente identificada com o povo.

4. Os leitores do caderno magazine pedem matérias sobre aparelhagem ou reclamam quando são publicadas?

Edson – Não, a gente não tem esse feed back, não tem esse sucesso, eu tô editando esse caderno há pouco tempo, tô pouco tempo no caderno, não morava aqui, eu editava esse caderno à seis anos atrás, e agora voltei. A gente não tem esse feed back, agora existe um grande público, de milhares de pessoas que toda sexta e sábado estão em festas de aparelhagens. Essas pessoas, que são a maioria, são aquilo que eu falei, a base emocional da cidade, necessariamente vai se reconhecer no jornal, quando ela vê uma aparelhagem, então existe também o leitor do jornal que não gosta, que vai ficar meio assim, mas eu acho que de uma forma geral o leitor gosta de ver as suas coisas, no Liberal, que é um jornal, identificado com a cidade. Eu acho que é positiva, eu acho que as pessoas gostam.

5. A partir de quando você observou que houve uma mudança de comportamento dos leitores do caderno com relação à aparelhagem?

Edson – Do caderno não, o que eu percebo é que nunca as aparelhagens apareceram tanto nos jornais e na Tv, e isso aí eu não acho que é um mérito dos jornais e da Tvs, que foi lá atrás não, eu acho que isso é um mérito da galera que consome, da galera que vai, e que passou um tempão aí sendo altamente discriminado, hoje é bem menos discriminado, então eu acho que esse aparecer mais, é uma vitória de quem dança e quem produz, e faz a aparelhagem.

6. No início houve certo impacto do público quando vocês divulgaram essas matérias?

Edson – Não, a gente não tem esse feed back. Eu lembro que eu mesmo escrevi, uns oito meses atrás uma série de matérias sobre brega, foram quatro páginas, no final entrevistaram a Banda Calypso. Aquilo dali foi muito elogiado, muita gente mandou e-mail, os músicos mandaram e-mail, foi aquilo que eu falei, de uma certa forma, do jeito que a FM tocando brega legitimou numa determinada época, o fato da mídia hoje se interessar em divulgar isso, legitimou, legitima, levanta a alta estima das milhares de pessoas que gostam. Sobretudo, eu acho que o fato da Banda Calypso ter feito esse sucesso todo, por exemplo, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Sulzão mesmo, com todo aquele preconceito que a gente sabe que existe, eu acho que fez muito mais bem pra essa galera da aparelhagem, pra essa galera que curte esse tipo de ritmo, ou seja, o povo paraense que na verdade foi quem criou e foi quem manteve esse ritmo mesmo quando ele não teve apoio, por exemplo na década de 90, eu acho que fez muito mais pra isso, do que qualquer aparelhagem, ou qualquer outra mídia. Eu acho que o sucesso da Banda Calypso é a maior legitimação que já houve pra esse tipo de universo até hoje.

7. As aparelhagens tinham ou têm alguma estrutura de comunicação?

Edson – Essa tradição das aparelhagens é antigona. Há uns 40 anos atrás, começaram com pequenos sons, de se locomover e ir pras festas. E aí isso acabou crescendo de uma forma cultural, ou seja, essas paredes sonoras, essas coisas descomunais, que só existe aqui. Esse, como uma amiga minha estudiosa disse, o paraense inventou sua própria forma de fazer festa, não precisa imitar ninguém, ele criou sua própria forma. Essa coisa de uma discoteca ambulante, onde se monta onde é necessário. Com o sucesso disso daí, mesmo à margem da mídia se possibilitou os investimentos, esse crescimento todo. Com a facilidade tecnológica, com essa coisa de CD, dos equipamentos serem todos mais baratos, isso aumentou ainda mais a estrutura, e facilitou que isso houvesse. Agora pra que, por exemplo, quinze anos atrás já havia essas paredes sonoras, então já havia sim dinheiro circulando, e já havia equipamentos, já havia um investimento, ainda que à margem da mídia. Agora já tem, por exemplo, o Dinho está fazendo comunicação, ele está fazendo jornalismo. Não só divulgação, tudo ficou tudo mais profissional. Tudo. A qualidade do som, a qualidade dos equipamentos, a interferência dos DJs, as aparelhagens foram durante muito tempo o principal sustentáculo tanto que várias letras falavam dos DJs, falavam das aparelhagens, então o brega e as aparelhagens são co-irmãos, são parceiros desde sempre. Então esse sucesso que houve agora, essa explosão toda, e esse respeito, esse reconhecimento, que existe hoje, profissionalizou tudo inclusive a divulgação.

8. Você percebeu se os donos das aparelhagens tentaram modificar a imagem deles diante da mídia e do público?

Edson – Eu acho que sim. O próprio Dinho, que acaba sendo o cara que tá um pouco à frente disso, essa coisa de ele criar uma imagem de um cacique, isso daí já é um jogo com a mídia, já é uma irrealidade. O fato deles terem ido tocar na Assembléia Paraense, primeiro é uma afirmação disso, depois o fato de que isso já saiu de um tipo de gueto, transcendeu esse gueto, e aí profissionalizou tudo, tem tudo. Existe uma divulgação, existe uma relação de tratamento muito maior, muito mais profissional, muito mais informado, entendeu? De muito mais bom gosto digamos assim.

9. Como as informações sobre aparelhagens chegam até vocês?

Edson – Ou eles telefonam, ou eles mandam as programações por e-mail, ou na hora que tem uma festa mais específica de mídia, eles pedem uma pauta. Já se sabe que existe o canal, e eles utilizam esse canal.

10. Vocês têm algum planejamento para a publicação dessas matérias? Por exemplo: é destinado um espaço, uma página, um caderno especial, uma coluna etc.?

Edson - Não existe uma coisa específica de aparelhagem, ou de qualquer outra coisa. Dependendo do tipo de evento, vai ser determinado tipo de espaço. Quando é um evento mais corriqueiro, tem ali mais uma nota e tal. Quando é uma coisa mais específica, aniversário de alguma coisa, ai sai uma matéria um pouco maior, mas não existe um critério. O critério é assim: existe na cidade, envolve muita gente, então o jornal tem que estar lá. É uma coisa de comportamento que rende muito. E enfrentou muito preconceito pra ver isso afirmado.

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QUESTIONÁRIO QUALITATIVO - ENTREVISTA COM DJ DINHO

Entrevista com DJ Dinho – TUPINAMBÁ 14/09/2006

1. Como e há quanto tempo surgiu a aparelhagem? Qual a origem e a história da aparelhagem?

Dinho – O Tupinambá já existe há mais de trinta anos, mais ou menos trinta e cinco anos, por aí. E ele surgiu em Abaetetuba, quando meu pai morava naquela cidade, e ele fazia as festas ali, principalmente no interior ainda de Abaetetuba, na região das Ilhas, e surguiu de lá. E depois o meu pai teve que vir pra Belém, devido o trabalho, aí tivemos que se mudar aqui pra Belém. Com isso, papai trouxe também a aparelhagem, até então na época não era tão conhecida, e pra conciliar o trabalho dele e também a aparelhagem que ele tinha na verdade, e com isso eu passei a ter gosto, já trabalhava com ele desde os doze anos de idade carregando discos, ligando alguma coisa, aquilo que tava ao meu alcance. E aos treze aos quatorze anos, eu assumi realmente, passei mesmo a trabalhar efetivamente com ele. Viemos de Abaetetuba, há uns 20, 25 anos por aí.

2. Cite algumas partes técnicas que a aparelhagem é constituída. Qual o material utilizado? Que tecnologia é empregada?

Dinho – Com relação á parte técnica, material, a gente tem cerca de 150 a 200 alto-falantes profissionais, cada um de 1.000 watts, e também amplificadores, os periféricos, no caso equalizadores, crossovers, e aparelhos de sonoplastia, que são os instant replays, e também a mesa de operação, que é a mesa Yamaha, e mais os notebooks que servem pra, que a gente não trabalha com CD nem com MD, a gente trabalha com as músicas compactadas em MP3, um programa que tem que é o PC Dj, esse programa o DJ fica operando o computador por ele, e também tem a parte de iluminação, que envolve, que faz parte do show, são os aparelhos de iluminação que são os moving head, os lasers, os troubles, e também a parte de telões, agente trabalha com áudio, vídeo e iluminação, os telões são onde as pessoas se vêem dançando, e também a gente passa clipes, mostra também animações, caracteres e outras coisas mais.

A aparelhagem é composta de, as caixas são feitas de compensado, e tem a parte de alumínio que reverte a aparelhagem, aonde tem toda a iluminação, os telões, e tem também a parte de aço-inox, que reveste o cenário né? Que também reverte o altar sonoro né? Que é revertido de alumínio, aço-inox e também acrílicos.

3. Quanto custa hoje ter uma aparelhagem? Quanto é o investimento e o retorno?

Dinho – Do porte do Tupinambá, pra você montar uma aparelhagem, você tem que ter em torno de 1 milhão de reais. É esse o investimento. Se a aparelhagem for bem conceituada, tiver um nome, tiver um respaldo, cair no gosto do povo, o retorno vem de imediato. O Tupinambá todo ano faz um investimento de 1 milhão renovando a aparelhagem, ele em três meses, quatro meses ele tira esse investimento.

4. Quantas pessoas estão envolvidas e que trabalham na aparelhagem?

Dinho – O Tupinambá emprega diretamente 38 pessoas.

5. Como é feita a segurança nas festas? Isso é por conta de vocês ou do dono da festa?

Dinho – Nós somos contratados pra sonorizar, pra tocar. E com relação à segurança já não cabe a nós. Já cabe ao promotor do evento, que é ele quem contrata os seguranças e também faz organização em si da festa.

6. Quanto em média custa o ingresso?

Dinho – Uma média de 10 reais.

7. Quantos fãs-clubes vocês têm? Cite alguns.

Dinho – São muitos né? Mas, agente não tem precisamente números. Mas é muitas as pessoas, a média de público do Tupinambá numa festa é de 5 mil pessoas. É tem aqueles que são mais conhecidos, os assíduos, que são os Safadões, Equipe Rex, Equipe Tubarão, Bad Boys, Galera da Moto, Galera do Laser, Galera To Nem Vendo, Galera do Centavo, Galera do Chop, Fura-Olho.. são muitos.

8. Com relação às músicas tocadas, qual é o critério de seleção?

Dinho – A gente já tem uma base do que a gente vai tocar numa festa, né? Até porque a gente sabe o tipo de gosto musical que o público nosso gosta de ouvir e dançar. A gente já tem uma base, e com isso vem chegando novas músicas, se a gente ver que tem condições de entrar no repertório a gente vai colocando, mas a gente não tem uma listagem, playlist a cumprir numa festa. Varia de uma festa pra outra, varia muito, o público e tudo mais.

9. De onde surgiu a idéia dos souvenirs?

Dinho – Os souvenirs, porque as pessoas adoram ter uma camisa com o Tupinambá, com o T do Tupinambá, com a logomarca do Tupinambá, não só camisa, toalhinha, taças, chaveirinhos, e é uma forma das pessoas comprarem, adquirirem uma lembrança do Tupinambá, principalmente aqueles que gostam. E inclusive essa venda que tem dentro do Tupinambá, ela é terceirizada, ela não é diretamente do Tupinambá. A pessoa paga um Royalt, digamos assim por mês, e explora a marca. Na verdade quem faz essa negociação é minha mãe, eu não tenho precisamente o valor.

10. Qual é a média de cervejas vendida por festa?

Dinho – A média de cerveja varia de acordo com o público que vai estar presente. Digamos, um público de 5 mil pessoas vai consumir 500 caixas de cerveja. A média é essa, 100 caixas pra cada mil pessoas.

11. Qual a potência do som de vocês? Em média quantos decibéis têm o som da aparelhagem? Qual é o mais forte? Tem algum padrão?

Dinho – O Tupinambá tem 100 mil watts de potência, só que é aquela tal coisa, a gente monta o nosso equipamento de acordo com a necessidade do ambiente, principalmente equipamento de caixa de som e amplificadores. No caso o cenário, ali o altar sonoro o tempo todo vai completo. E com relação às caixas e a potência, a gente monta de acordo com o ambiente, até porque a gente tem também um limite tolerável pela polícia, que é 70 decibéis, a gente tem um aparelho que mede os decibéis, e agente procura trabalhar dentro do limite tolerável.

12. Qual o público-alvo de vocês?

Dinho – O Tupinambá ele saiu do gueto, digamos ali da periferia, há muito tempo atrás as aparelhagens tocavam mais nos bairros chamados periféricos, mas hoje tá o contrário, hoje o Tupinambá já conseguiu tocar na Assembléia Paraense duas vezes, Paraclube, na Metrô, na Pavan, no African, na Metrópole, quer dizer casas chamadas elites aqui na nossa capital. E o nosso público alvo é todo aquele que gosta de se divertir é bem vindo pra nossa festa.

13. Quantas pessoas geralmente freqüentar essas festas? Média do público por festa.

Dinho – 5 mil pessoas, daí pra cima.

14. Pelo fato da aparelhagem ser uma empresa, vocês têm que pagar algum imposto para o governo? Se sim, quais são?

Dinho – Na verdade, a gente recolhe impostos, a licença de uma festa já é um imposto, porque toda festa tem que ter uma licença. O alvará da aparelhagem é um imposto. A aparelhagem tem que ter um alvará de funcionamento, então a gente recolhe sim. A licença ta 120 reais por festa.

15. Sabemos que até um tempo atrás, há mais ou menos uns cinco anos, pode-se dizer que as aparelhagens eram marginalizadas, ou seja, ficavam à margem da sociedade, na periferia. O público que predominava nas festas era de classe econômica baixa. Até os locais em que vocês tocavam eram periféricos. Mas recentemente vocês têm alcançado todas as classes econômicas, e tocando em diversos locais, como clubes elitizados, como a Assembléia Paraense, Complexo Metrô e outros. Que estratégia vocês montaram para conseguir alcançar essa classe?

Dinho – Na verdade o Tupinambá colocou um público na Assembléia bem maior do que as bandas inclusive que vieram de fora, foi um público muito grande, inclusive esgotou os ingressos, e foi além da expectativa de todos. Olha eu te confesso que quando eu montei uma estratégia de marketing pra dentro do Tupinambá há três anos atrás, o tempo que eu to a frente, tudo, tudo, porque o cabeça pensante do Tupinambá sou eu, tudo que envolve o Tupinambá primeiro, a palavra final sou eu que decido, um monte de coisa. Mas eu te confesso, que eu montei um projeto de trabalho, mas não pensava nunca que a gente ia chegar a esse patamar, e claro que a gente sempre pensava em um objetivo, que era conquistar mais público, mas não assim tão rápido e tão grande, e conquistando também a classe social, a classe A, média, média alta, e hoje se você não chegar cedo, você não pega vaga pro seu carro, pra você estacionar o seu carro, quer dizer a classe média alta tá no Tupinambá, e eu te confesso que eu não esperava, foi uma surpresa muito grande, e a gente encara também com uma responsabilidade muito grande, até porque as pessoas tiveram curiosidade de conhecer esse mundo, que é o mundo das aparelhagens, e a gente faz de tudo pra agradar, continuar agradando, é uma festa sem violência, que a gente se preocupa quando a pessoa vai nos contratar a questão da segurança, é uma festa animada, onde as pessoas gostam de se divertir, hoje se você parar pra analisar, em Mosqueiro agora nas últimas férias, as músicas mais tocadas lá eram bregas de aparelhagens, em Salinas também. Antes aquele chamado mauricinho, eles abriam o tampão do carro deles, eles escutavam o quê? Rock, escutavam axé, hoje não, eles já abrem o tampão do carro e colocam no mais alto volume o quê? O nosso brega. Quer dizer tudo isso mudou, mudou a consciência das pessoas, até porque é a nossa cultura, a nossa música, os nossos artistas da terra são bem mais prestigiados, e as aparelhagens que é uma coisa que foi criada aqui no nosso Estado, que inclusive já está sendo copiada, se você for ao Maranhão, tem as chamadas radiolas lá, elas são uma cópia das aparelhagens, só que com relação às aparelhagens, elas estão muito aquém, elas usam equipamentos ainda obsoletos, não usam iluminação, é uma coisa muito, tão muito longe da nossa tecnologia aqui das aparelhagens. Em Manaus já tem aparelhagem lá também, não igual a daqui. Já tem aparelhagem, eu fui tocar na Guiana Francesa, em Caiena, e constatei que lá também já existem umas três aparelhagens também lá. E também no Amapá, no Amapá já tem aparelhagem. Quer dizer, as pessoas estão copiando já o nosso sistema de diversão. A aparelhagem aqui no nosso estado é como se fosse o trio elétrico na Bahia.

16. Que período do ano vocês mais tocam e menos tocam?

Dinho – Na verdade tem dois períodos que a gente toca quase que todo dia, todo dia mesmo. Tem semanas que a gente folga uma ou duas vezes. Esses dois períodos a gente toca todo dia, os trinta dias do mês de junho, que é quadra junina, e os trinta dias do mês de julho, que é o mês das férias, que a gente faz cada dia uma apresentação em um balneário no interior. Nos outros períodos fica normal, quatro, cinco festas por semana.

17. Como nosso trabalho envolve o Jornal O Liberal, gostaríamos de saber sobre as dificuldades que vocês enfrentaram para ter o trabalho reconhecido por essa mídia? Já que raramente eles publicam alguma matéria ou informação relacionada ao trabalho de vocês.

Dinho – Não, muito pelo contrário, o Grupo Liberal nos deu um apoio muito grande, principalmente pro Tupinambá, eu pro DJ Dinho, inclusive sou funcionário aqui da ORM, trabalho na Rádio Liberal FM apresentando um programa todos os dias, e abriu as portas, abriu as portas pro brega, pras aparelhagens, pros artistas, pra mostrar os valores que nós temos aqui na terra. E também, já passei por outras emissoras de Rádio, como Marajoara, Rauland e agora estou aqui na Liberal, e tenho também um programa de televisão que eu apresento na Tv Rauland no sábado canal 14, que é um programa voltado também, esse programa foi uma grande sacada que eu tive de mostrar na Tv pra muitas pessoas que ainda não freqüentam a aparelhagem, de eles verem como é que é, que acontece as festas do Tupinambá, principalmente do Tupinambá, né? Festa de aparelhagem, pra eles deixarem os seus filhos irem, que não tem violência, todo mundo se divertindo, e o programa na verdade ele é pra isso, pra mostrar pra quem não conhece a festa de aparelhagem, principalmente do Tupinambá. E o programa é exibido todo sábado, a gente tira imagens de todas as festas, os melhores momentos de cada festa, e eu apresento, sou o âncora do programa, e além disso eu faço curso de comunicação social, faço jornalismo na FAP, também aperfeiçoando meus conhecimentos que vai ser de suma importância não só pra minha parte de radialista como também apresentador de TV, e também pra aparelhagem que não deixa de ser um MCM, veículo de comunicação de massa. Com certeza a aparelhagem hoje, num final de semana a gente costuma tocar pra, ao todo, fazendo um bolo, tocar pra 20, 30 mil pessoas. Quer dizer é um veículo de comunicação de massa. O jornal também dá apoio, o jornal apóia colocando as programações do final de semana, de vez em quando olha, domingo eu tô com uma reportagem na Troppo do Liberal, o Amazônia Jornal de domingo também vai sair uma reportagem comigo, de vez em quando eles fazem reportagens.

18. O preconceito que as pessoas tinham vem diminuindo. Você acha que isso se deve a quê? A mídia tem influenciado nisso?

Dinho – A mídia tem muita influência. Com certeza. E não só a mídia, mas também o tipo de pessoas que agora estão freqüentando as aparelhagens, porque a seleção já começa por ai, se você for numa festa do Tupinambá você vai pagar 10, 15 reais, quer dizer já começa a seleção por ai. Digamos, aquele vagabundo, aquela pessoa que não tem o que fazer, aquele malandro, claro que ele não deve ter esse dinheiro naquele momento pra pagar um ingresso desse, então ele fica excluído. E o que mais a gente se preocupa de não colocar festas de graça, a questão do valor do ingresso sempre manter esse padrão, justamente pra selecionar as pessoas que ali vão pro Tupinambá. A maioria, digamos 80%, 90 já se rendeu, e estão dando valor, não é a toa que a Globo vira e mexe vem aqui em Belém fazer reportagem, Fantástico, Regina Casé e outros mais.

19. Qual é o lado bom e o ruim de trabalhar em uma aparelhagem?

Dinho – Eu não vejo lado ruim, eu vejo só o lado bom, porque as pessoas reconhecem o nosso trabalho, nos dão apoio, freqüentando, pessoas que gostam, a gente fica muito feliz. O lado ruim na verdade eu não vejo hoje um lado ruim, muito pelo contrário. Ah, tem a questão financeira também, que a gente já trabalha há muito tempo, hoje a gente vê que o lado financeiro melhorou digamos 50, 60%, bem mais.

20. Vocês já pagaram pra tocar em algum lugar de elite?

Dinho – Não, a gente foi contratado pelos donos, pelos promoters daqueles lugares, ninguém, digamos assim, ah, fomos se oferecer, ou fomos tocar de graça, ou fomos alugar lá pra mostrar o nosso trabalho, não a gente foi contratado mesmo. Foi uma coisa naturalmente. É da mídia também, despertou a curiosidade de todo mundo.

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QUESTIONÁRIO QUALITATIVO - ENTREVISTA COM O DJ JUNINHO

Entrevista com o DJ Juninho – SUPER POP – 18/09/2006

1. Como e há quanto tempo surgiu a aparelhagem? Qual a origem e a história da aparelhagem?

Juninho - Em 1986, aproximadamente 1987, em Belém, o meu pai sempre teve som, gostou de música. Inclusive, eu vou falar um pouquinho dele aqui. Ele era pastor de igreja e a minha mãe era dirigente de coral da igreja. E pastor é como se fosse locutor, sempre tem voz, sempre canta e isso incentivou ele a gostar de som. Então, na época ele comprou o três em um na loja para casa. A família grande sempre tinha aniversário pra cá, pra ali, e naquela época era difícil ter um som. E perguntavam: quem tem um som na família? Eu tenho um som em casa, eu posso levar o som. E levava o som, na época nós éramos pequenos. Primeiro ele comprou o 3 em 1, depois comprou o amplificador, aí queria aumentar a caixa e uma coisa puxa a outra, porque se comprar mais amplificador tem que comprar mais alto falante e vice e versa. Sempre comprava alguma coisa e daí foi crescendo. Fecharam um contrato pra tocar todo final de semana no um bar e começou a render, pois sempre tocava, porque antes era só aniversário tocava de graça. Nesse momento quem tocava era apenas o Elias e o Betinho. Uma vez a gente foi tocar num aniversário, meu primo que estava “bebido” deixou cair o três em um na calçada e quebrou todinho o som. O papai (Seu Elias) chorou de raiva e com isso ele comprou um maior e modulado, com toca disco, amplificador e foi montando a caixa.

O transporte era a família quem fazia. Nós tocamos muito no interior, então era via marítima, embarcava no barquinho e ia pelo rio. Mas aqui em Belém sempre transportamos em caminhão pequeno que era locado. Devido o papai ter uma família no interior chamavam muito a gente pra tocar lá, tinha muita influência. Num mês eram três festas no interior e uma em Belém.

E por volta de 1989, um rapaz queria vender um som completo, em Outeiro.

Na época fomos chamados para tocar em uma campanha política, em São Domingos do Capim. Era todo dia festa. Eu tinha uns 9 a 10 anos e já era atração da festa. Já era o menor DJ de aparelhagem, então eu não alcançava o equipamento porque era muito alto e sempre colocavam uma grade de cerveja pra eu alcançar. E eu já falava na aparelhagem. O Betinho ia todo dia e eu ficava aqui em Belém, porque eu estudava, mas eu ia nos finais de semana. Devido andar muito o som já não saía do caminhão, a aparelhagem ficava em cima do caminhão. Então numa dessas, quando já era de manhã no final de uma festa, o caminhão foi se deslocar pra ficar mais próximo da caixa para eles desembarcarem e eu tava lá em cima. E eu fiquei limpando a aparelhagem, limpando a mesa, que tinha muita poeira, quando chegou próximo às caixas do som, o caminhão freou e a mesa virou em cima de mim e aí foi um desastre, um acidente muito feio na época.

Em 1998, a gente tinha muito contrato e não atendíamos a demanda e não tinha data. Estava tudo lotado. Como éramos 3 DJs e resolvemos fazer outra aparelhagem. Eu e o Betinho (que toca hoje no Rubi Saudade) fomos pro Pop Som 2, e o Élison e o Betinho ficaram no Pop Som 1. Aí explodiu o Pop Som 2, muitos contratos e novamente não atendíamos a demanda, então resolvemos fazer o Pop Som 3. Na época nós chamamos o DJ Dinho para o Pop Som 1, o Betinho e eu ficamos no Pop Som 2, o Élison lançou o Pop Som 3. Aí veio o sucesso novamente. Em 2002, as aparelhagens já estavam mais profissionalizadas. Eu atribuo muito isso ao Bira, ele trouxe muita evolução para as aparelhagens, porque ele era de banda, era técnico de som e trouxe tudo isso para a aparelhagem, P.A. e técnicas de bandas. Estávamos os três no sistema antigo. Na época tinha uma aparelhagem, o Artsom, com o som novo, montado, moderno, tudo no sistema, as caixas divididas. Antes as caixas eram grandes, um paredão cheio de alto falantes, não eram divididas, não tinha uma tecnologia de acústica dentro da caixa. O dono do Artsom vendeu e criamos o Pop Som 4 e o DJ Billy que era DJ do Artsom veio junto também. Isso foi até 2003.

Tinham 4 Pop Som na cidade para tentar suprir a demanda que era grande, mas acabou. Porque, por exemplo, hoje tinha um Pop Som tocando num local e amanhã outro Pop Som vinha e tocava próximo ao mesmo local, então o público que ia numa festa hoje já não iria nessa outra, então um atrapalhava o outro. E a demanda começou a diminuir. Tinha muita gente trabalhando, tinha que pagar indenização, não conseguíamos administrar tudo e chegamos à conclusão que só dois seria legal e dava para controlar melhor as coisas.

Hoje, por exemplo, se a gente for em Castanhal, provavelmente só vamos voltar depois de seis a oito meses. Acontece de a gente voltar daqui a uns dois meses, mas é difícil. Porque se demorar o público fica naquela ansiedade e consequentemente a festa estoura, lota.

Muito difícil ver alguém freqüentando o Super Pop e o Pop Saudade, o público é muito diferente e tem dado certo.

O Águia de Fogo, O Arrasta Povo, Pop Som 1,2,3 e 4, Super Pop Som o Peso do Som, Super Pop o Águia de Fogo, Novo Super Pop o Águia de Fogo. Cada aparelhagem nova que a gente lança tem um tema novo para trabalhar em cima do tema. Mas agora a gente não vai mudar, porque ainda dá para explorar, e o águia tem muita coisa, que é o grito, a subida do águia.

2. Cite algumas partes técnicas que a aparelhagem é constituída. Qual o material utilizado? Que tecnologia é empregada?

Juninho - São 64 caixas que montando elas formam mais ou menos umas duas torres completas, que podem ser feitas quatro ou oito colunas. O número de alto falantes que têm em cada torre de som é de 32 alto falantes de 18 polegadas no subgrave, médio grave, médio e 16 alto falantes de 15 polegadas nas altas de TI Fenol, onde o som é mais puxado. A torre completa dá uns seis metros de altura por uns quatro de largura. Possui estrutura metálica, iluminação, lasers, câmeras e outros equipamentos.

3. Quanto custa hoje ter uma aparelhagem? Quanto é o investimento e o retorno?

Juninho - Setecentos mil reais e a gente vai gastar mais uns quatrocentos mil reais. Em seis meses mais ou menos dá para ter o retorno do que é empregado. Até porque a gente não pára de investir. Todo tempo a gente inova alguma coisa, lançando algo.

4. Quantas pessoas estão envolvidas e que trabalham na aparelhagem?

Juninho - Umas cinqüenta pessoas trabalham no Super Pop mais 30 que trabalham no Pop Saudade. O pessoal que trabalha nos bastidores, operação, motoristas e outros.

5. Quanto em média custa o ingresso?

Juninho - Hoje, chega à média de uns sete reais.

6. Quantos fãs-clubes vocês têm? Cite alguns.

Juninho - Da última vez que nós conferimos, ano passado, tinha 54 fã clubes, mas já aumentou, porque a gente não tinha programa de rádio na época e o que incentiva muito o fã clube é o rádio. A mídia sem dúvida faz muito isso. Hoje deve ter uns 80.

Os maiores e mais antigos são: Eternamente, que tem 10 anos acompanhando o Pop Som, o Explosão Pop, As Marias do Pop, tem uns 4 anos e são muito freqüentes.

7. Com relação às músicas tocadas, qual é o critério de seleção?

Juninho - Eu costumo dizer que essa seleção musical é feita na festa, porque o teu termômetro é o público. O Élison é quem mais se dedica mais ao repertório musical, ele é associado a vários sites da internet e pega várias músicas. O bom Dj ele sabe quando o público vai aceitar a música, o clima da festa tem a ver, o DJ sempre avaliza, eu falo por experiência própria, eu sempre quando toco uma música vejo se o público acha legal ou se não. E ali é o teu termômetro para tu saberes. Como uma rádio mede a audiência pelo IBOPE, a gente mede na festa.

8. De onde surgiu a idéia dos souvenirs?

Juninho - Eu lembro que as pessoas faziam por conta própria uma camisa, um chapéu e levavam para a festa e mostravam, e aí a gente só dava umas camisas nas festas quando tinham festas especiais, aniversário do Pop Som ou lançamento de uma aparelhagem nova. E as pessoas pediam muito e surgiu a idéia de montar um stand para disponibilizar para as pessoas o que elas queriam: chaveiro, bonés, calcinhas, cuecas, meias, toalinhas.

O serviço é terceirizado, porque a gente já tem muita preocupação. Quem trabalha nessa barraca paga um valor simbólico de cinqüenta reais por semana, para gerar mais emprego. Muitas vezes as pessoas, no caso, da senhora que cuida, tem dois filhos, é separada do marido e mantém o negócio.

9. Qual é a média de cervejas vendida por festa?

Juninho - A cada 100 caixas de cervejas vendidas equivale a 1.000 pessoas na festa, não exatamente, porque tem uma margem de erro para mais e para menos.

10. Qual a potência do som de vocês?

Juninho - São 32 amplificadores com 7.400watts cada um, tudo isso equivale a 236.800 watts de potência sonora.

11. Qual o público-alvo de vocês?

Juninho - Aparelhagem desde 2005 tem atingido um outro público, eu sinto isso. Mas o público alvo é classe B e C.

12. Quantas pessoas geralmente freqüentar essas festas? Média do público por festa.

Juninho - De duas a três mil pessoas, mas tem festa que dá 10 mil pessoas, como foi o Eletro Pop, que são festas com camisas, que despertam mais o interesse do público. Sempre que tem essas festas normalmente lota.

13. Pelo fato da aparelhagem ser uma empresa, vocês têm que pagar algum imposto para o governo? Se sim, quais são?

Juninho - A gente paga imposto para a prefeitura, tem CNPJ, licença de funcionamento do Estado, o Alvará que é renovada anualmente ao pagar uma taxa de uns trezentos reais. A licença da festa não é com a gente e sim com o dono da casa de shows que faz a festa e paga a DPA/SEMMA.

14. Sabemos que até um tempo atrás, há mais ou menos uns cinco anos, pode-se dizer que as aparelhagens eram marginalizadas, ou seja, ficavam à margem da sociedade, na periferia. O público que predominava nas festas era de classe econômica baixa. Até os locais em que vocês tocavam eram periféricos. Mas recentemente vocês têm alcançado todas as classes econômicas, e tocando em diversos locais, como clubes elitizados, como a Assembléia Paraense, Complexo Metrô e outros. Que estratégia vocês montaram para conseguir alcançar essa classe?

Juninho - Eu sempre atribuo muito ao profissionalismo, a esse alto investimento. Não discriminando as classes, mas eu acho que a classe A é mais exigente de qualidade e normalmente o local em que a classe A freqüenta tem que ter qualidade, é por isso que eles freqüentam e nós alcançamos isso devido a esse investimento, a essa profissionalização do trabalho.

15. Que período do ano vocês mais tocam e menos tocam?

Juninho - A época de chuvas da nossa região é um pouco ruim para as aparelhagens, janeiro, fevereiro, até no carnaval, mas depois melhora. Até no interior tem alguns locais que não fazem festas na época da quaresma, que é entre o carnaval e a semana santa, eles ficam 40 dias sem fazer festa. E durante esse período tem locais que a gente não vai tocar nessas cidades de interior.

O mês que a gente mais toca é disparado o de junho, que tem a quadra junina, mas nos dois últimos anos a gente tem notado que o mês de julho ficou quase melhor que o de junho. Em média a gente viaja nas férias a gente folga um dia ou dois no máximo.

16. Como nosso trabalho envolve o Jornal O Liberal, gostaríamos de saber sobre as dificuldades que vocês enfrentaram para ter o trabalho reconhecido por essa mídia? Já que raramente eles publicam alguma matéria ou informação relacionada ao trabalho de vocês.

Juninho - Eu acho que dificuldade, todo mundo que tá no meio artístico passa por isso e com a gente não foi diferente, a falta de conhecimento, de influência. Eu acho que no nosso país gira em torno disso, de você ter um conhecimento, alguém que te ajude lá dentro e as coisas se tornam mais fáceis. A gente enfrentou essa dificuldade, hoje nem tanto. A gente tem apoio da imprensa, do grupo Liberal como todo, televisão, rádio, jornal e tem se tornado mais fácil devido a esse reconhecimento. Aqui no jornal Liberal é assim, mas lá para fora, como por exemplo na Rede Globo, todo ano eles fazem uma matéria com as aparelhagens aqui. E o que é pior: nem sempre mostram como é realmente uma aparelhagem”.

17. O preconceito que as pessoas tinham vem diminuindo. Você acha que isso se deve a quê? A mídia tem influenciado nisso? As pessoas associavam as aparelhagens ao ritmo brega, isso aumentava o preconceito?

Juninho - Eu acho que sim, com certeza hoje o grupo Liberal tem apoiado muito mais a música paraense do que há cinco anos atrás. O preconceito diminui por causa da aceitação do público. Sem dúvida. O meio de comunicação trabalha com o gosto popular. Vende o que o povo tá querendo. Mostra o que o povo tá querendo. Eles não vão mostrar o que o povo não tá querendo. Uma coisa puxando a outra. Assim como o público puxa a imprensa, como a imprensa puxa o público.

18. Qual é o lado bom e o ruim de trabalhar em uma aparelhagem?

Juninho - É muito complicado a família. O convívio. Nas datas comemorativas a gente não tá com a nossa família. Muitas vezes no aniversário da gente tá tocando, viajando para algum lugar e para mim é um pouco complicado a família. É o que eu sinto mais dificuldade. O lado bom é que você tá fazendo o que você gosta e tem a certeza que está fazendo o bem que é estar levando alegria.

19. Empregos indiretos?

Juninho - Indiretamente é incalculável. São bombozeiros, na frente da festa tem churrasquinho, garçons, juntador de latinhas, colocador de faixas, carro som e uma infinidade de pessoas que trabalham em festas.